domingo, 28 de fevereiro de 2010

Todo mundo é um mundo, fato. Ninguém é uma pessoa só. Hoje em dia acho que é necessário pra sobrevivência e pra convivência em sociedade que tudo seja assim. Não é que alguém seja ruim, malévolo ou duas caras (ok, existe gente assim, mas não é o caso), é só que é mesmo uma necessidade. Vai ver se chama adaptação. Se somos a mesma pessoa com todas as pessoas, algumas se assustam, algumas não entendem, algumas não merecem e outras não toleram. Cada desdobramento da nossa personalidade se adequa melhor a um ambiente. É como ser uma pessoa séria a semana toda, e dançar descontroladamente na sexta feira. Não se dança descontroladamente no trabalho, na faculdade ou na frente dos pais. Assim como não faz sentido encostar na parede pra pensar na vida no meio de uma festa.

Agora, quando se começa a dançar descontroladamente sozinha e pensar na vida no meio da festa, alguma coisa está errada. É importante não deixar os lados se misturarem, porque o resultado nunca pode ser bom. E eu sou craque em misturar tudo.

Raramente aparece alguém capaz de entender. Mas raramente sou capaz de entender também que as pessoas tem lados, e que são diferentes de mim. E então eu cobro, eu choro, reclamo, querendo que seja todo mundo igual. E como posso querer que alguém entenda, se eu demoro tanto a entender?

Vai ver eu sou mesmo muito, muuuito menos madura do que acreditava. E vai ver acreditar em maturidade é sinônimo da sua inexistência. Ninguém é tão adulto que não posso se fuder de vez em quando. Porque a vida é assim, e as possibilidades de aprendizado nunca acabam. E então talvez eu cresça e melhore, vai saber.

E então é domingo a noite, e vem a semana por aí. Eu recolho os meus caquinhos e me preparo pra ela, achando que vai ser sempre melhor. Eu recolho os meus cacos e aprendo a mostrar só o lado certo pra cada um, assim como a mostrar todos os lados pra quem merece. Porque esses alguéns que entendem existem, sei que sim. E sei também que eles merecem o meu melhor, porque só o nosso melhor trás a tona o melhor dos outros.

Quem sabe pensar assim trás a tona o meu melhor também?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ordinary people

Boy im in love with you
This ain't the honeymoon
Past the infatuation phase
Right in the thick of love
At times we get sick of love
It seems like we argue everyday

I know i misbehave
And you made your mistakes
And we both still got room left to grow
And though love sometimes hurts
I still put you first
And we'll make this thing work
But i think we should take it slow

We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're ordinary people
Maybe we should take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow

This ain't a movie no
No fairy tale conclusion ya'll
It gets more confusing everyday
Sometimes it's heaven sent
We head back to hell again
We kiss and we make up on the way

I hang up you call
We rise and we fall
And we feel like just walking away
But as our love advances
We take second chances
Though it's not a fantasy
I still want you to stay

We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're ordinary people
Maybe we should take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow

Take it slow
Maybe we'll live and learn
Maybe we'll crash and burn
Maybe you'll stay, maybe you'll leave,
Maybe you'll return
Maybe you'll never find
Maybe we won't survive
But maybe we'll grow
We never know baby youuuu and i

We're just ordinary people
We don't know which way to go(hey)
Cuz we're ordinary people
Maybe we should take it slow (heyyy)
We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're ordinary people
Maybe we should take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow (take it slow oh oh ohh)
This time we'll take it slow
Take it sloww
Take it slow
This time we'll take it slow
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=)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

She bobbed her hair, put on her choicest pair of earrings and a great deal of audacity and rouge and went into battle. She flirted because it was fun to flirt... she covered her face with powder and paint because she didn’t need it and she refused to be bored chiefly because she wasn’t boring. She was conscious that the things she did were the things she had always wanted to do.

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Ela sacudiu os cabelos, colocou seu par de brincos e uma grande dose de audácia e rouge e entrou na batalha. Ela flertou porque era divertido flertar...Ela cobriu o rosto com pó e pintura porque não precisava disso e ela se recusou a ficar entediada, principalmente porque ela não era entediante. Ela estava consciente de que as coisas que fez foram as coisas que sempre quis fazer.

Zelda Fitzgerald.
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Toda vez que leio esse texto, me encho de coragem. Não uma coragem que transpareça, mas uma coragem enorme por dentro. Aquela que faz acordar de manhã, levantar, se arrumar e sair sem pensar muito em coisas como medo. Esse texto me faz perder o medo de viver. Porque eu quero sempre, sempre, seeeeempre olhar pra trás e estar consciente de que as coisas que fiz foram as coisas que sempre quis fazer.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Então eu tomei um energético, fumei um cigarro, ouvi uma música da Beyoncé e me sinto melhor.

Quando eu acordar amanhã, metade dos meus problemas vão ter morrido, porque eles vivem na minha cabeça e só. Quando eu acordar amanhã, eu vou ter a empolgação que normalmente tenho (ou tinha, sei lá). Eu vou acordar cantando, vou pra aula e pra balada e vou dançar até cair. Eu vou dar risada da vida, e ficar repetindo mentalmente "o que não tem remédio, remediado está" como um mantra. Eu vou adotar muitos outros mantras que ninguém vai saber. Eu vou sorrir pra desconhecidos na rua, e dar bom dia pro motorista do ônibus. E assim a vida vai continuar, porque ela sempre continua. Vê mais longe quem voa mais alto, diz um livro. Mas quando mais alto o voo, maior a queda, dizem por aí. Eu vivo caindo. Eu vivo deixando a peteca cair. Mas é como diz um texto que li outro dia: A peteca tem mesmo que ir ao chão de vez em quando, ninguém aguentaria jogar pra sempre.

Amanhã vai ser outro dia, diz o Chico. E eu digo que vai ser um dia lindo, mesmo com chuva. E eu vou andar na chuva e pisar nas poças, jogando água pra todos os lados. Porque essa sou eu, eu preciso acreditar nisso. Preciso acreditar no meu otimismo irremediável, e na minha felicidade. Eu preciso crer que felicidade não é apenas estar bem em 100% do tempo. Felicidade é saber que mesmo quando se está mal, o dia seguinte sempre chega. Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei. Eu sei e adoro essa música. É dela que preciso quando fico na pior. Porque as minhas piores normalmente nem fazem assim tanto sentido.

E assim, com o mundo colorindo de novo, com as cores voltando a minha vida, eu deixo o hoje pra trás. Matando todos os pensamentos ruins. Matando e enterrando bem fundo no chão. Matando e cavando a terra com as minhas próprias mãos, deixando as minhas unhas e braços cheios de lama, mas me orgulhando de vê-los lá, enterrados.

Estou enterrando os pensamentos ruins como indigentes. Sem lápide, sem flores. Sem recordação nenhuma.
Acho engraçado quando a vida me bate. Como se me fizesse acordar. Ou me fizesse sentir mal por algo que fiz.

Como hoje em dia, em que percebo que uma das únicas pessoas que me entende é o garoto que eu desprezei a beça, e que por muitas vezes desejei que não tivesse nascido. E eu disse isso pra ele, muitas vezes.

Se eu pudesse voltar no tempo, retiraria. Mas como não posso, resta deixar pra trás. Ele me entende. Ele guarda mágoa, mas sempre acaba entendendo.

No mais, sei que ele também já desejou que eu não existisse. Não existe nessa casa quem nunca tenha desejado que os outros todos não existissem. Coisas da vida.
É a sua vida. Não adianta pensar que alguém se importa com ela do fundo do coração, porque ninguém se importa. Não porque sejam egoístas ou porque não te amem. Não tem nada a ver com sentimento algum. Eles até se importam, cada qual a sua maneira. Mas é a sua vida, e se você não se importar com ela antes de todo mundo, não vai chegar a lugar algum.

É a minha vida. E ninguém se importa. As pessoas se importam com ela no seu próprio egoísmo. Cada um me diz o que pensa e o que eu devo fazer, esquecendo que aquilo sentado a sua frente é um ser humano, no caso eu. Como se eu não soubesse o que tem de errado, o que eu faço de errado. Como se não fosse pesado o suficiente eu mesma saber dessas coisas. E no seu próprio egoísmo, essas pessoas todas não entendem que as vezes tudo que eu preciso é de um abraço. É tudo que todo mundo precisa as vezes.

Eu normalmente não falo na cara das pessoas o que penso da vida delas. Eu não chamo ninguém de frustrado, de inseguro, de arrogante, de idiota, de maluco. E eu conheço muita gente que se encaixa em cada uma dessas categorias. Mas eu não digo. Quando digo alguma coisa a qualquer um, ai eu viro a frustrada, a insegura, a arrogante, a idiota, a maluca. Ai eles todos me encaixam em alguma categoria, só pra não precisar dar ouvidos ao que eu digo.

Mas é a minha vida, qual parte disso eles não entenderam? É a minha vida, e eu sei o que faço, mesmo quando aparentemente não faço nada. É a minha vida, e quem sofre mais nisso tudo sou eu. É a minha vida, e compartilhando ela com os outros, eu fiz com que todos achassem que podiam dar pitaco. Porque preocupação é uma coisa, pitaco é outra. Preocupação faz você dizer "se precisar de mim, estou aqui". Pitaco é algo como "Eu acho que você deveria...". Eu não aguento mais pitaco, quando só queria um pouco mais de preocupação sincera. Mas é como eu disse antes, as pessoas se preocupam comigo no seu próprio egoísmo. Em como a vida que eu levo vai afetar a vida delas, por conviverem comigo.

Minha vontade sincera era juntar todo mundo numa sala, e então chorar as lágrimas todas que eu choro vagando pelos ônibus da cidade. As lágrimas que choro em banheiros e com a cara enfiada no travesseiro. Só pra ver se ao menos pena de mim elas teriam, e se assim conseguiriam entender. Se assim conseguiriam me dar um pouco mais de paz, um pouco mais de aconchego.

Mas é a minha vida. Então talvez eu deva encontrar paz e aconchego em mim mesma. No final, é a mesma música de sempre: "Eu sei é tudo sem sentido. Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim".

Blah

Pedacinhos de mim

"Lá vai se embora meu mundo sem mim...
O que há de errado em ser tão errado assim?
Já vou saindo, não precisa empurrar...
Pois meu maior defeito é insistir
Que ele é perfeito,
Que é pura crueldade pedir pra ele mudar"
Imperfeito - Pato Fu

"Tudo é tão difícil pra você
Quem sabe um filme antigo cairia muito bem
Às vezes é somente questão de sorrir
O mundo não esquece de você
Quem sabe um bom amigo lhe faria muito bem
Às vezes é somente questão de ouvir
O que os outros tem a dizer
É quase nada, para mim ainda é um mistério
É tão-somente alguma fase errada
Porque você se leva tão a sério?"
Sério - Ludov

"Oh don't dont don't
Get out!
shh-shh-shh...I can't see the sunshine
I'll be waiting for you baby
'Cause I'm true
Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you"
You only live once - Strokes

"Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor"
O vencedor - Los Hermanos

"And anytime you feel the pain,
Hey, Jude, refrain,
don't carry the world upon your shoulders.

For well you know that it's a fool,
who plays it cool,
by making his world a little colder."
Hey Jude - The Beatles

"Vai, sem duvidar
Mas se ainda faz sentido, vem
Até se for bem no final
Será mais lindo
Como a canção que um dia fiz pra te brindar"
Você pode ir na janela - Gram

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sentimentos ruins contaminam tudo ao redor. As vezes um ambiente fica "carregado", e não é por causa de forças ocultas ou espíritos. Ele fica pesado pura e simplesmente pela energia que emana de quem o habita. É como nos desenhos animados, quando certas casas ou pessoas tem uma nuvenzinha negra em cima.

A gente é o que a gente pensa. Não somos o que comemos, não somos o que vestimos, os lugares onde vamos ou as pessoas com quem convivemos. Somos o que pensamos, e só. Quem se diminui é diminuido, quem quer o mal atrái o mal. Não é uma questão sobrenatural, na verdade faz bastante sentido. Quão pior você se enxergar, pior vai ser. Porque de pior maneira vai encarar a vida e as situações.

A casa onde vivo não é um ambiente de felicidade. É um lugar dominado por uma pessoa que emana frustração. E por mais que todos ao redor tentem alertá-la do que ela está se tornando, nunca funciona. É como se tivesse deixado os sentimentos ruins tomarem conta, e ficasse tentando (prefiro acreditar que involuntariamente) contaminar as outras pessoas ao redor. Nada anda aqui, ninguém vai pra frente quando se deixa levar pela onda da casa. Começamos a viver em círculos, retornando sempre para o ponto inicial.

Uma vez percebido isso, fica muito mais fácil mudar. Quando você entende os mecanismos, fica mais fácil consertá-los. Tentei ao longo do tempo consertar tudo, deixar todo mundo melhor. Tentei lubrificar as engrenagens para que as coisas voltassem ao normal. Eu finalmente percebi que não vão voltar. Sendo assim, melhor viver a minha vida e ignorar o resto. Continuar participando, pra evitar maiores atritos, mas sem me envolver. Consertar apenas a minha parte, me entender como um mecanismo separado do resto.

As vezes parece que só de entrar aqui eu me sinto mal. Mesmo depois de ter tido um dia perfeito como eu tive. Deve ser porque sei que mesmo quando tudo está aparentemente bem, é só fachada. É só uma das partes tentando fazer parecer que está tudo numa boa. É um muro colorido para um terreno baldio cheio de lixo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O melhor conselho do dia sobre a morte da pessoa poderosa que vivia em mim

(23:40:11) Puh: porra
(23:40:14) Puh: escuta mais beyonce
(23:40:15) Puh: pelamor
(23:40:16) Puh: HUAHAUAUHAHU
Momento "mordendo a língua e ouvindo Editors"

"Make our escape, you're my own papillon.
The world turns too fast, feel love before it's gone.
It kicks like a sleep twitch!
My papillon, feel love when it's shone"
O que me atormenta não é acreditar que existe gente com uma inabilidade inata de agir de certas maneiras. O que é de certas pessoas a gente aceita, tolera. O que incomoda é quando eu penso que a inabilidade é apenas comigo, e que antes ela não existia.
É que eu quero o mar, mas eu só tenho uma pocinha.

Desculpa.
Gosto muito de ditados. Mas gosto mais de dizer "é como diz o ditado...", do que do ditado em si.

Mas tem uns que muito me apetecem.

Guinada

As vezes parece que sopra um vento estranho, que eu não sei de onde vem, e sussurra coisas no meu ouvido. Ele me diz exatamente o que fazer, o que vai mudar na minha vida e o que estou fazendo errado.

Acho que quando a gente fica muito pra baixo, acaba ficando com a visão embaçada. Eu pelo menos sou assim. Quando estou mal, fica tudo turvo, eu não consigo achar a saída pra coisa alguma, e a vida vira uma coisa chata e arrastada. Daí vem o vento. Ele vem e parece que limpa. Depois dele o caminho fica claro, iluminado. Depois dele eu me sinto no poder de novo. Eu me sinto novamente no volante, guiando a minha própria vida.

Sei bem dos meus problemas. Eu sei todos os meus pontos fracos, e reconheço quais são os piores. Eu nunca fui boa em dizer não, em impor limites. Já me meti em situações ruins e/ou dispensáveis por causa disso. Eu ouço muito o que todo mundo fala, e isso é ruim. Fica parecendo que eu não tenho opinião, porque mesmo tendo, juntam-se as duas coisas: O medo de impor limites aliado a incapacidade de filtrar o que ouço fazem de mim uma pessoa aparentemente vulnerável e sem personalidade. Eu não tenho um gênio forte, mas não o tenho porque contenho o que penso. Eu fico guardando pra mim tudo que tem por dentro, e quando tento falar as coisas se misturam e soam sem sentido.

Esse tipo de situação se repete na vida familiar, amorosa, com os amigos. Enfim, se repete em tudo. Não digo o que penso pro meu irmão com medo dele parar de falar comigo. Não digo o que penso pra minha mãe com medo dela parar de falar comigo também. Não digo o que penso pro meu namorado com medo que ele me deixe. É como não ter auto-estima. Como se qualquer coisa fosse motivo pra ser deixada pra trás. Eu acredito em mim, mas parece que nunca é suficiente se eu não tiver certeza que todo mundo ao redor acredita. Isso é falta de auto-confiança.

O problema todo é manter esses pensamentos. Eu devia ter na cabeça que, a partir do momento que as pessoas do meu convívio me amam, falar o que penso não vai diminuir esse amor. Muito pelo contrário, sendo consisa e calma, isso vai aumentar o respeito que eles tem por mim. Porque amor nenhum sobrevive sem respeito. Me arrisco a dizer que respeito é a base do amor, muito mais do que qualquer outro sentimento. Aliás, são duas as bases: Respeito e admiração. A partir do momento em que você não tem mais admiração alguma pela pessoa, não existe amor. Esse é o primeiro sinal. O segundo é a falta de respeito, que quando aparece só tende a crescer.

Sabendo de todas essas coisas, eu não entendo porque a minha mente tende a querer constantemente se diminuir. E nisso entram também outras questões, que eu quase nunca percebo, como ficar reafirmando o tempo todo como estou acima do peso, ou como sou feia. Coisas que não tem cabimento e/ou não fazem sentido, mas que insisto em dizer. Tais comentários não me levam a lugar algum, e vão minando as coisas todas. Sei como é irritante conviver com gente assim, e eu na realidade não tolero, então porque estou me tornando uma dessas pessoas?

Meu maior medo na vida sempre foi ser uma pessoa recalcada. Sempre. Eu tinha medo de ser uma dessas pessoas que não tenta nada, morre de vontade e critica quem faz. E a cada dia que passa eu me vejo virando uma dessas pessoas, e é insano. Talvez seja isso uma das coisas que mais me faz mal. Me olhar no espelho e ver a pessoa sem confiança, sem auto estima que eu estou virando. E isso não tem a ver com ninguém além de mim. Sei que é tudo culpa minha, porque já estive assim antes. Parece que quando vejo que está tudo indo bem, eu acabo estagnando e deixando tudo ficar uma merda.

E então a essa hora da noite o vento bate. Bate e eu fico pensando em como tudo vai se acertar e ser loucamente bom de novo na minha vida. E eu fico aqui querendo dançar e gritar e cantar e sair pulando pela casa, porque é como se eu finalmente tivesse a resposta pra tudo que me incomoda. E o mais maluco disso tudo é saber que as respostas estavam todas dentro de mim esse tempo todo e eu não vi.

Chegando no fim eu paro e vejo que é tudo medo. Tudo deriva dele. Eu tenho um medo gordo de ser quem eu sou, de mostrar quem eu sou de verdade pra todo mundo. Pouquíssimas pessoas me deixam confortável a esse ponto, e além dessas pessoas só o alcool em certas doses. Eu gosto mesmo é de falar, de dançar, de agir como louca. Essa sou eu lá no fundo, e essa eu vem a tona nas minhas melhores fases. Essa eu sabe o que quer, até onde quer chegar. Essa eu não sente medo, porque ela é plena e sente paz. Essa eu é movida pelo desejo, em todas as suas formas: O desejo dos caras por ela, das meninas de serem como ela. O desejo das pessoas de terem a sua atitude perante a vida, um desejo que não resulta em inveja, mas que faz com que ela brilhe pras pessoas ao redor. Porque eu sei que brilho quando estou bem, e no momento tenho sido só uma lâmpada queimada pra todo mundo. Como se de repente eu tivesse esmorecido e não conseguisse voltar.

É, chega de escrever. É tudo medo, e o medo foi embora com esse vento. Daqui pra frente sou eu de novo. No comando, sempre e pra sempre.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A gente sente o que sente, quando sente. Nada muda isso. Não se criam sentimentos, nem sensações, nem acontecimentos. A gente sente o que sente, quando sente. E quando não sente, não adianta inventar que sente, nem tentar sentir. Porque mesmo com toda a boa vontade do mundo, não funciona assim.

Simplesmente não funciona.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Antigamente quando eu me desanimava, bastava fazer uma escova no cabelo e pintar as unhas que tudo ficava lindo novamente. Essas coisas me davam um ânimo gigantesco, e me faziam sentir pronta pra qualquer coisa que viesse. Tais truques não funcionam mais.

Eu fico com o cabelo bonito, com as unhas bonitas, mas continuo assim, triste que só. Parece que a tristeza fez moradia em mim e não arreda o pé. Ela construiu sua casinha cinza no meu coração, e plantou seus cravos no quintal. Antes era uma tristeza que vinha de questões puramente estéticas. Ficava triste por me achar feia, triste por estar descabelada, triste por sair vestida que nem uma mendiga. Daí se eu ficava bonita, voltava a alegria e a sensação de poder em relação a tudo.

Agora eu me sinto bonita. Eu olho no espelho e vejo uma mulher bonita, com esses lábios que todo mundo comenta, com esses olhos de se perder. Com esse cabelo revolto e bacana, o tipo de cabelo revolto e bacana que eu acho sexy e sempre quis ter. Só que isso tudo hoje em dia não faz diferença. É como se fosse normal me sentir bem com a minha aparência. Se é assim, porque quando não me sinto me faz tão mal? Se fosse lógico, eu deveria agora me sentir muito feliz por me sentir bonita.

Mas a vida não é lógica, e talvez agora todos os meus sentimentos tenham se aprofundado. Vai ver é isso. Deixou de ser uma tristeza por coisas tão banais, e virou uma tristeza real. Não é que eu esteja fazendo drama, nem que eu me sinta triste em 100% do tempo. Mas é que quando eu me sinto, realmente me abate. Parece que de repente tá tudo meio errado, e eu não consigo consertar.

Minha vontade real era juntar as pessoas e perguntar se elas tem noção do mal que me fazem. Vai ver meu erro é ser tão sensível, é não conseguir matar essa esperança boba de tudo bem no final. As vezes as coisas vão tão longe que não tem volta, simplesmente não tem conserto. Mas é como diz o ditado, "o que não tem remédio, remediado está". É melhor pensar assim.
As vezes tenho medo de nunca ser a pessoa que quero, de nunca fazer o suficiente das coisas que gosto. Tenho medo de fazer tanta coisa ao mesmo tempo e não ser boa em nenhuma. Eu tenho muito medo.

Medo de acordar um dia e perceber que estou velha e não fiz nada. Não digo "nada" no sentido de ser rica ou ter o reconhecimento dos outros, falo mesmo de realização pessoal. Existe um quadro quase hereditário de frustração na minha família, e eu não quero seguir esse ciclo. Eu não quero ser mais uma das mulheres frustradas da família, odiando a vida e amargando até o final. Eu não nasci pra isso.

Eu nasci pra fazer as coisas que gosto, e sei disso. Eu nasci pra brilhar no meu próprio mundo, mesmo que morra anônima pro resto das pessoas. Eu nunca quis ser mais do que podia, mas sinto que sou bem menos do que poderia ser. Eu me sinto afundando cada vez que não levo algo que gosto tão a sério, por estar preocupada com outras coisas.

Talvez eu devesse ter como meta do ano a máxima "vou fazer apenas o que gosto e ser feliz". Eu não mereço não ser. Eu devia abstrair todas as coisas ruins e focar apenas nas boas, mas as vezes é tão difícil, tããããão difícil. Eu me sentia andando, agora me sinto meio parada, e isso é mau. É bastante ruim. Quando tudo parece começar a dar super certo, vem essa enxurrada de preocupações pra me abater, e o resultado delas é esse sono constante e a vontade de não fazer nada.

Me falta tesão nesse momento, tesão de viver e alegria por estar viva. Talvez seja apenas isso, mas vai ver volta com o tempo. Assim espero.

Hoje a música me disse assim...

Paixão,

Quem quer viver bem no presente encontra o seu lugar
Seu lugar nos braços do sossego
Enquanto uns dizem que o tempo não pára
Outros dizem que o tempo
Não passa de ilusão, ilusão

Deixa estar, que a vida é mais sábia
Cada coisa tem seu tempo
E esses pensamentos
Não passam de nuvem rasa
E todo esse sofrimento
Não pertence à sua casa
Cesso esse tormento,
Enxugo todo seu pranto
Com a força e com o sentimento
Que carrego no meu canto
Mariana Aydar - Florindo
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Será que eu vou florir?
Um dos meus miores medos a alguns anos atrás era virar uma pessoa básica. Uma dessas pessoas que ouvem músicas calmas e saem na rua de jeans e camiseta. Eu tinha medo de não ser diferente, porque era como se a diferença fosse tudo que eu tinha.

Depois de um tempo, eu comecei a mudar sem perceber, e toda vez que caía na real, tentava voltar ao jeito que era antes. Chegava ao ponto de sair não me sentindo bem com o que vestia, de ouvir músicas que não gostava e ir a lugares que não faziam diferença nenhuma na minha vida. Até que um dia eu simplesmente me desliguei da idéia de ser igual ou diferente. Vai ver eu percebi que no final não faz diferença: Vale o que você é por dentro, pras pessoas que te conhecem e te amam. Vale o que você pensa de você, não o que os outros pensam.

Hoje sou uma pessoa que sai de jeans e camiseta, que ouve o que tiver vontade e anda de chinelo pela rua. Hoje eu não ligo tanto pra essas coisas como ligava a algum tempo, eu não vejo mais propósito em certas coisas que fazia.

Quando eu era adolescente, todo mundo me falava que aquilo tudo era fase, que com 20 anos eu não seria tão riot no modo de agir e me vestir. Me falavam que eu ia acalmar sem perceber, e que meu modo de ver a vida mudaria. Como todo bom adolescente, eu ficava ainda mais irada. Discutia dizendo que seria assim sempre, porque era a minha essência. Insistia que aos 20, 30 ou 40, continuaria me vestindo da mesma forma e ouvindo as mesmas músicas, porque aquela era eu.

Sim, eu errei em alguns aspectos, mas acho que acertei mais. Aquela era realmente eu. Era eu com 15 anos. A minha essência permanece, porque por baixo das meias pretas, dos coturnos e da maquiagem carregada, eu era a mesma menina boba e meio inocente com a vida que sou hoje. Eu mudei, realmente mudei, eu cresci. Mas de maneira alguma renego a pessoa que fui um dia. Eu acalmei mesmo, mas as minhas revoltas com o mundo são as mesmas, mesmo sabendo que a maioria não vai dar em nada.

Talvez o problema todo tenha sido a pressão pra não mudar. Enquanto todo mundo tem uma família que pressionava por normalidade, minha mãe brada frases como "você já foi estilosa", "você já foi mais legal" e coisas semelhantes. Com isso, sempre acabava me deixando levar e voltando a um jeito que não era mais meu.

Mas vai saber, talvez crescer seja mesmo isso. Se desprender. Pra quem sempre fez questão de ser extremamente diferente, ser normal é um puta desprendimento. E é exatamente assim que eu me sinto. E eu me sinto bem com isso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Why, tell me why,
Did you not treat me right?
Love has a nasty habbit of dissapearing over night"

música-vício do dia.
Existem aquelas palavras e sentimentos inexplicáveis. São tão por dentro, tão fundo, que nem a gente entende o motivo. Talvez até saiba, mas esconde lá, junto com eles. Acho que sou um pouco de esconder as coisas. Vai ver sou muito. E eu continuo escondendo esse monte de coisa que sei, mas que não quero e não posso dizer. Eu continuo mantendo o sorriso, enquanto vou tentando achar todos os meus pedacinhos.

Porque eu estou sinceramente partida.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Mas é carnaval...



E eu, que no carnaval já fui Pierrot, Colombina e Arlequim, esse ano serei apenas eu mesma. Nada de dramas, histórias loucas e noites insanas. Nada de porres e de choros escondidos por entre os arcos da Lapa. Nada de surtos, de insensatez e leviandade.

E sabe do que mais? A sensação é do mais puro alívio.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

The hottest state



"My heart is gold. What will you give me for it?"

Estou começando a tomar gosto por filmes fofinhos sem clichês no final. Parece que quando o mocinho e a mocinha não terminam juntos, a esperança de que tudo dê certo na vida real é muito maior. Porque no real, a primeira pessoa pela qual você se apaixona raramente é o amor da sua vida. Normalmente ela te ferra mesmo, mas você aprende uma porção de coisas. Você sai melhor e mais forte no final.

Sendo assim, gostei desse filme, assim como gostei de 500 days of summer. Não é porque eles não terminam juntos que deixam de ser felizes e começam a viver num mar eterno de sofrimento. Ninguém é Scarltt O'hara nessa vida. Logo, essa tendência mocinho-loser-que-se-ferra-no-final-mas-aprende-sobre-a-vida dos últimos anos muito me agrada.

Não que eu não goste daquele estilo Meg Ryan-Tom Hanks de ser. Eu gosto bastante também. Mas me sinto muito mais feliz e esperançosa com a vida quando assisto um loser ter o coração partido e seguir em frente. Gosto dessa tendência "romance real", sem muitos artifícios e sem um daqueles finais melosos e bobos. Sem casamento e sem alguém tendo um bebê dentro de um carro.

Espero que essa tendência continue, e que eu possa ver mais filmes legais como The hottest state e 500 days of summer. Meg Ryan é um poço de botox, e Tom Hanks está velho e gordo. Sem final feliz pra eles. O mundo das comédias românticas merecia mesmo alguma coisa melhor.
"Eu acredito que a vida é mágica, que sempre tem algo bom pra se ver, algum lugar legal pra ir e pessoas com as quais falar. E os dias de tédio se fazem necessários, pra que se dê ainda mais valor aos dias de felicidade.

Sem o equilíbrio, até a felicidade se torna entediante"

Um dia eu disse isso. E então eu me perdi em meio a pensamentos sem sentido. Acho que sempre me perco. É como se eu soubesse o caminho, mas insistisse em pegar os desvios, mesmo sabendo que não vão me levar pra onde devo ir. E então quando olho pra trás eu vejo que andei descalça por entre pedras e espinhos. Vejo que meus pés estão cheios de bolhas e minha pele não aguenta mais o sol. Eu fraquejo, e percebo ter sido tudo em vão: o caminho a ser realmente seguido era ladrilhado com pedrinhas de brilhante.

Tem dias em que nem eu me aguento. Se eu fosse qualquer outra pessoa e tivesse que conviver comigo, eu não aguentaria. Porque eu não conheço ninguém tão dramático, exagerado e desesperado quanto eu. Eu não conheço ninguém com essa capacidade de tornar as coisas boas em problemas, de ir minando a alegria das pessoas realmente próximas até destruir qualquer coisa que elas sintam por mim. Não, isso não é mais um drama do tipo "ninguém me ama, ninguém me quer". Definitivamente não. É só que com a minha instabilidade eu acabo não fazendo sentido algum. Eu acabo cada hora querendo uma coisa e mesmo tendo todas, nunca estando satisfeita.

Tem uma música do Los Hermanos que fala "Como se a alegria recolhesse a mão pra não me alcançar". As vezes é assim que eu me sinto. Só que as vezes sou eu quem recolhe a mão, enquanto ela corre atrás de mim tentando me pegar. Vai ver eu tenho medo de ser feliz. Como se evitando a alegria as coisas doessem menos. Porque eu não consigo mesmo não viver pensando no fim de tudo. Como se todo mundo a qualquer momento fosse embora e eu fosse ficar sozinha. Então eu fujo da alegria que as pessoas podem proporcionar, e assim me mantenho na mesma. É um pensamento bem idiota, mas é assim que acontece com quem realmente me importa.

É muito fácil ser alegre o tempo inteiro quando você não se preocupa com nada. Quando cada dia é uma vida nova, e o dia anterior morreu no momento em que acabou. Mas quando o dia seguinte é uma eterna continuação do dia anterior, as coisas mudam de figura. Qualquer coisa que se faça hoje vai refletir amanhã, e depois e depois. Sendo assim, tudo fica meio tenso, as palavras tem de ser medidas para evitar maiores estragos. Porque a gente não vai sair falando o que der na telha. Palavras podem machucar e ir aos poucos ponto tudo abaixo.

Enfim, acho que preciso reaprender a relaxar. A dar menos importância as coisas e pensamentos ruins, porque só assim eles somem. Eu preciso voltar a acreditar na mágica, e a deixar a vida colorida. Senão eu vou deixar cada vez mais a minha vida em tons de cinza.
As vezes penso que não dou valor a nada nessa vida. Eu convivo com a possibilidade da perda de maneira leviana. É como se agindo assim, perder não significasse tanto. Como se eu não fosse sofrer tanto assim.

Andei reparando esses dias coisas relacionadas a isso. Não existe quem faça parte da minha vida de uma maneira que, se resolvesse ir embora, eu demoraria pra esquecer. Não que eu não fosse ficar mal, mas não mudaria em nada a minha rotina. Ninguém é assim tão indispensável e isso é estranho.

Talvez a gente consiga se entregar algumas poucas vezes. Talvez uma vez só. E então a gente inclui alguém, e torna a pessoa parte de tudo, como se aquelas ligações fossem formas de fazer ela ficar. Mas um dia ela vai embora. E o que conseguimos com isso? Sentir aquele vazio que fica, como se ela fosse extremamente importante no nosso dia-a-dia. Como se fizesse parte de tudo de uma maneira tão imensa, que agora que ela foi nada mais valesse a pena. Mas a gente esquece um pequeno detalhe: Fomos nós que demos tanta importância e que incluimos a pessoa em tudo que dizia respeito a nossa vida.

Pensando nessas coisas fico sem saber: Será que não se entregar dessa maneira é amadurecimento ou medo? Será que vai me proteger de sofrer mais quando um dia chegar o final, ou vai me fazer deixar de ser mais feliz enquanto tudo acontece? Porque eu poderia ser assim de novo, eu sei que sim. Eu catei os pedacinhos todos do meu coração quando ele levou uma porrada da vida, e eu remendei tudo bem bonito com super bonder. Eu fiquei inteira de novo. O problema não é a minha capacidade de agir assim ou não. Eu me pergunto: Será que eu quero? Porque eu não quero me sentir a única pessoa amando, ou qualquer coisa do tipo.

Me retrair está me fazendo chegar a um ponto que eu conheço bem: O ponto onde eu comço a não ligar mais. Em que eu começo a não me importar se estou mostrando o que sinto ou não. E eu sei que esse ponto parece sempre algo bom pra quem vê de fora, porque parece que os meus medos e inseguranças se estabilizaram, mas não é assim. Esse é o ponto em que minha cabeça fica cada vez mais confusa. É o ponto em que ela começa a desistir.

Estava conversando ontem com um amigo, sobre como as coisas são estranhas: As vezes a gente conhece alguém e fica muito apaixonado, mas a pessoa não está tão apaixonada. Então a gente viaja na maionese, sob o efeito da paixão, sem perceber que não somos tão desejados quanto desejamos. Quando a gente começa a desencanar, a pessoa fica apaixonada pela gente, só que como estamos desencanando, o que antes seria fofo e lindo se torna normal. Isso dura sempre tempos, e os dois nunca se gostam na mesma proporção ao mesmo tempo. As vezes parece que isso acontece comigo sempre, não sei explicar. Eu sou sempre a pessoa bocó e apaixonada no começo, mas eu me desapaixono muito fácil quando não tenho retorno. Eu me desligo muito rápido de qualquer sentimento, e isso me faz voltar ao papo do início. Deve ser porque eu fico sempre na defensiva, logo, não dá tempo de nada durar. A única vez em que durou eu me fudi, e isso explica todo o meu mecanismo.

Talvez eu pense demais e esse seja o problema. Se eu não pensasse, eu simplesmente não ligaria pra essa enxurrada de coisas. Meu amigo me falou que depois de muito tempo aprendeu que o maior relacionamento que temos que ter é com nós mesmos. E que damos muito valor a relacionamentos, problematizamos muito, quando na realidade tem que ser uma coisa boa, tranquila. E me falou também que amor é uma coisa calma, pacata. E citou um personagem de Agatha Christie com algo como "eu gosto dela", explicando que as vezes o gostar, o querer bem, é mais importante e significativo do que ser loucamente apaixonado. E falou que paixão dá e passa, mas o amor fica. Ele me contou um monte de coisas que aprendeu, e que eu tenho que ser mais paciente e deixar essa coisa toda de paixão e mimimi pra trás, porque isso não quer dizer nada, amor é muito maior e muito mais importante.

Ele esqueceu de me dizer que fui eu quem ensinou tudo isso pra ele.
O problema é que eu desaprendi.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um dia eu tive um amigo...

...que vez em quando exclamava um “aaaai Danda”, bem puxado, antes de falar as coisas comigo. Eu gostava, achava engraçado. A verdade é que ele me entendia bastante, e dizia coisas sobre mim que chegavam a me chocar. Coisas que ninguém percebia, só ele. Coisas que às vezes nem eu mesma tinha percebido ainda. Ficávamos deitados na cama por tempos conversando, falando da vida, dos amores, dos problemas. A gente falava dos medos, dos muitos medos que tínhamos.

Lembro de um dia em especial, mais que os outros. Aliás, eu lembro de dois dias, mas vou contar esse primeiro. Eu estava dando uma festa e simplesmente fugimos. Deitamos no escuro e começamos a falar e falar sem parar. Por algum motivo eu percebi que aquela era a última vez que aquilo aconteceria. Era como se fosse puro estar ali, sem a sexualidade que normalmente se enxerga em deitar junto de alguém. Era como ser criança, e se tudo fosse fácil.

O segundo dia que me lembro foi o último dia em que o vi. Eu sabia que era o último. Assistimos a um documentário e ele segurou meu dedo para que eu não roesse unha. E disse que só de segurar meu dedo se sentia melhor. E disse que a terapeuta dele perguntou se ele gostava de mim, de tanto que falava meu nome. E ele disse que sim. E riu. E eu ri. Bebemos cervejas e conversamos até tarde, eu matei aula porque ele pedia “fica” com um jeito de drama tão engraçado que eu não resistia. E então eu entrei no ônibus. Ele ia viajar no dia seguinte. Eu sentia a sensação de que tudo ia ser bom dali pra frente, não sei por que. Sentia-me tomada por uma onda de felicidade e esperança, como se alguma coisa se completasse ali e outra estivesse prestes a começar.

E então uma nova fase realmente começou. E quando ele voltou, não cabia mais. E tudo acabou. Estranho pensar que alguém possa significar tanto e de repente não caber mais, não fazer mais parte. Só sei que foi bom, assim, enquanto durou.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sobre o texto que ainda não escrevi

Eu vou inventar você. Vou inventar de azul e sonho e brisa. De mato e mar. Eu vou amar você e te enfeitar com conchinhas que acharei na areia, com pedras e com redes. Eu vou inventar você de sonho. De poesia, de sentimento. Eu vou criar você assim, bonito, dentro da minha cabeça. Eu vou criar.

Eu vou.
Criar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Clube da esquina II

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço....

Porque se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases
lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos

E lá se vai mais um dia

E basta contar compasso
e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio...

E lá se vai mais um dia

E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente,
gente, gente...
Eu fico aqui com meus cigarros, imaginando as palavras que diria. Fico imaginando como soaria cada coisa que eu falasse, se eu seria bem interpretada e se faria algum sentido. Se faria, talvez, algum efeito. Eu ouço a mesma música várias vezes, em sequência. Toda vez que fico mal eu ouço a mesma. E não é porque ela me anima, é porque me retrata perfeitamente. Vai ver existe muita gente assim, triste, meio insana e fechada pra dentro. Então essa mesma música deve retratar também uma menina no Japão e um menino nos Estados Unidos. Deve retratar perfeitamente um monte de gente.

Minha cabeça nessas horas vai longe, e pensa muito no quanto sou idiota. Eu fico pensando em ir até a sala e encher um copo com whisky. Era o que eu costumava fazer. Até o dia em que não ficava mais bêbada, não sentia mais o gosto de nada e bebia qualquer bebia alcoólica como quem bebe água. Ai eu parei. Parei e resolvi conviver com os meus problemas, com os medos e inseguranças. "But here am I in my little bubble", sempre.

Deixar alguém entrar é doloroso. É como se eu abrisse a minha pele e falasse "vai, agora enfia o dedo na ferida e cutuca. Vai, vai sem medo!". É como se cada pedacinho do meu corpo de expandisse pedindo "vem". É um processo realmente doloroso e para o qual sempre vejo não estar preparada. Um dia estive, mas eu fui deixando qualquer um entrar, achando que cada vez saía não havia machucado. Achando que fechava e não deixava marca. Mas cada pessoa que vem e vai embora deixa uma, e quando finalmente chega a hora certa de se abrir, a pele está tão cheia de marcas que não expande mais. Ficamos assim, tentando em vão abrir, mas não há mais pele pra ferir. Chegamos a um ponto em que não conseguimos mais deixar que ninguém cutuque as feridas. A gente só aceita cutucar e guardar as dores pra si. E assim dói mais, bem mais.

A verdade é que eu fiquei assim. Marcada, doída. Eu fiquei e achei que não, mas cada vez que reclamo de uma idiotice reparo que sim. É como um medo desmedido de que alguém vá embora sem ter conseguido entrar. Que alguém vá embora sem conhecer de verdade, a fundo. Ao mesmo tempo, com nossa capacidade perdida de permitir que entre, ficamos parados num lugar que é como o meio do caminho. E então como desejar que seja diferente, que seja fácil? Como culpar os outros, se o problema mora em nós? A outra verdade é que antes mesmo de se escancararem, minhas portas estão começando a fechar. Sem que eu tenha controle. Elas vão fechando um pouquinho mais a cada dia, e a única coisa que consigo fazer é desejar que alguém chegue e entre correndo. Que entenda que vai além da minha capacidade. Que alguém me dê um abraço e me diga que vai ficar tudo bem, mesmo sem eu pedir.

É demais pedir que alguém me entenda quando nem eu me entendo, mas as vezes é só um abraço mesmo. É só chegar e colocar um travesseiro atrás da minha cabeça pra ela não bater na cama. É só passar merthiolate nas feridas e fazer curativos. Porque por mais que eu seja assim, tão cheia de marcas, no fundo eu sou a mesma menina do começo: Eu ainda acredito que todas elas um dia vão embora.

Trouble

Oh no, I see,
The spider web is tangled up with me
And I lost my head
The thought of all the stupid things I'd said

Oh no, what's this?
The spider web,and I'm caught in the middle
So I turn to run
And thought of all the stupid things I'd done

And I never meant to cause you trouble
I never meant to do you wrong
And ah, well if I ever caused you trouble
Oh, no I never meant to do you harm

Oh no, I see
The spider web,and it's me in the middle
So I twist and turn
But here am I in my little bubble

Singing out
I never meant to cause you trouble,
I never meant to do you wrong,
And ah, well if I ever caused you trouble
Oh, no I never meant to do you harm

They spun a web for me
They spun a web for me
They spun a web for me

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Cores

E quando eu penso não estar sentindo nada, basta subir a plaquinha com o nome dele pra eu esboçar um sorriso bobo de canto de boca. Acho que o mundo me endurece, mas é só lembrar que ele existe que eu amoleço.

Eu viro essa coisa boba e derretida, do tipo de menina idiota que fica imaginando as caras que ele faz, enquanto lê o que ele escreve no msn. Porque ele tem umas caras que são só dele, e ela conhece e ama todas. Ela não vive mais sem elas todas.

E então enquanto é tudo cinza do lado de fora, eu começo a colorir novamente por dentro. Porque é o que eu já disse antes: Ele coloca cores no meu mundo.

Qual é o antônimo de sentimental?

Porque seja qual for a palavra, é assim que me sinto hoje. Sem romantismo nenhum, em relação a nada. Sem aquela sensação boa e fofinha de que tudo vai ser lindo no final, de que eu vou ser feliz pra sempre e que a vida é uma graça.

Hoje estou apática, completamente. Repetindo palavras como amor robóticamente, tentando em vão recuparar essa figura boazinha e alegre que vive dentro de mim. Parece que tem dias em que ela morre, hoje estou em um deles.

É estranho não sentir, quando normalmente sinto tanto. É como se uma parte de mim tivesse sido pega e posta numa sala fechada. Eu não sei onde ela foi parar, e já não sinto mais sua existência. Dizer isso é repetir o que disse no trecho acima, mas essa é a verdade.

Talvez eu esteja me tornando muito prática, muito centrada, compenetrada em outras coisas que não os sentimentos que a vida tem. É como se de repente eu tivesse pensado tanto neles que não penso mais. Eu fechei.

Sendo assim, as coisas que normalmente me magoariam, ou as que a tempos magoam param de existir. Se eu não sinto nada bom, não sinto as coisas ruins também. Eu simplesmente não sinto.

Hoje eu estou num dia em que se alguém chegasse na minha frente sorridente com um buquê de flores, eu diria um sonoro "não fode" e daria risada. Na verdade eu sempre detestei flores. Receber flores me dá vergonha alheia. Só acho bonitinhas as que meu pai me manda no meu aniversário. Deve ser porque as recebo no aconchego do meu lar e ninguém vê. Lembro uma vez quando eu tinha uns 13 anos, estava no planalto com minha mãe e amigos dela, e na mesa ao lado um cara chegou com um buquê de rosas e entregou pra menina que estava com ela. Ela fez uma cara de vergonha alheia que me irritou, e eu pensei "nossa, que menina escrota. Um gesto tão fofo e ela reage assim". Pensei assim até o dia em que recebi flores. Eu não vejo graça alguma, e pra mim não diz nada. De que adianta dar flores e ser um filho da puta no resto do tempo? Lógico que respeito o gesto bonitinho e bem intencionado. Mas eu não gosto.

Enfim, estou vivendo um dia totalmente átipico na minha existência. Estou tentando, e tentando e tentando sentir. Mas no final não sinto nada.

Onda

Fui tomada por uma onda idiota de felicidade, não sei bem porque. Só sei que estou cantando aos berros, tirando fotos idiotas e pensando uma porção de coisas engraçadas. Assim, sem motivo.

Acho que sou a falta de motivo. Nada nunca tem razão pra mim.
Eu me sinto um pouco mais feliz, e acho minha vida um pouco menos miserável toda vez que faço bem alguma coisa. Pode ser a coisa mais banal, mas quando eu olho no final e está perfeito (ou beirando a perfeição. Beirar a perfeição já me é suficiente), me sinto extremamente bem. Não sei se isso acontece com todo mundo, mas como me acho uma merdinha na maior parte do tempo, é como se fazer algo bom significasse não ser tão ruim.

Talvez eu nem tenha motivos pra me achar essa merdinha, vai saber.

Mas talvez seja até bom, uma vez que tudo que faço bem acaba me causando o dobro de satisfação. Se eu já achasse que sairia bom, acho que não me sentiria tão bem. Lógica idiota, mas faz sentido.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre mim.

Toda vez que estou conversando alguma coisa séria com alguém ao vivo, me imagino dando um grito, virando a mesa, caindo e no chão e rolando enquanto rosno.

Ou então começo a ter vontade de rir, e fico imaginando ter uma crise de riso enquanto a pessoa fala as coisas mais profundas e filosóficas.

Em outras vezes, quando a conversa é em pé, me imagino dançando loucamente, mesmo sem música. Ai fico pensando como seria pirar e fazer esse tipo de coisa.

Daí eu fico completamente dispersa da conversa, e quando tento prestar atenção de novo, não faço a mínima idéia do que a pessoa estava falando.

Essa é a verdade sobre mim. Não há filosofia, pensamentos profundos ou alguma tristeza. Ao menos não na maioria das vezes. Na maior parte do tempo quando me disperso, estou pensando em alguma coisa bem hilária ou absurda.

Eu na verdade não tenho mistérios.
"Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la"
Caio Fernando Abreu (http://semamorsoaloucura.blogspot.com/search/label/Cartas)

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Sem comentários!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Imagina um José num bar, com um copo de cachaça na frente. José é pedreiro, casado e tem 7 filhos. Ele para e pensa na vida, mas diferente do João da mesa ao lado, ele não pensa em outras mulheres, não pensa em puteiros nem em farras. Ele não pensa nas banalidades, apesar de se achar extremamente banal. José sabe que tem mais, e tem um amargor por dentro, uma palavra querendo pular do peito, uma tristeza contida que ele não sabe explicar.

Ele é tão comum que a sua cabeça tenta acreditar que não existe mais, mas ela sabe que existe. Então José fica ali, tentando limpar com alcool os questionamentos que a vida trás. Ele sabe que não é feliz, porque não sabe o que é felicidade. Ele se contenta porque o resto do mundo pra ele é uma sombra. José só sabe da mulher, dos filhos, da casa que construiu com dificuldade, da obra onde trabalha e do bar. Ele sabe que deveria ser como João, e pensar apenas no trivial. Ele tenta, mas não consegue, então se embriaga.

Chega em casa completamente bêbado, a mulher reclama, e então apanha. Os filhos assistem quietos, como fazem todos os dias. Ele sabe o quanto aquilo é bestial e desnecessário, mas é uma atitude automática, como se descontasse na mulher as tristezas que não consegue explicar. Ele termina o serviço e vai pro banheiro. Então senta e chora, chora muito, tentando matar por dentro o homem que se tornou. Mas não mata. José sai do banheiro, observado pelos olhos assustados das crianças. Entra no quarto, deita na cama e dorme. Acorda antes que o dia clareie, se veste, sai. Volta pra construção, pro bar, e pras pancadas na mulher no final do dia. José não existe mais. José é a tristeza do homem médio.

Candelária

De todos os lugares do Rio que foram banhados com minhas lágrimas, a Candelária foi onde chorei mais. Talvez fosse o clima fresquinho que faz lá dentro, ou o fato de não haver iluminação durante o dia, o que deixa a Igreja numa leve penumbra, convidativa ao choro. Só sei que me senti acolhida lá dentro um dia, um dia em que estava muito triste e perdida. Então eu sentei no penúltimo banco e chorei. Chorei talvez por quase uma hora, sem parar. Me pareceu uma eternidade. Então depois de chorar eu me senti vazia. Me senti limpa por dentro. Como se eu tivesse posto o dedo na gargante e então posto pra fora tudo que estava engasgado por meses. Só que não havia ninguém lá comigo, então eu falei o que sentia sozinha. E as pessoas as quais aquelas palavras se dirigiam nunca ouviram. Então elas nunca souberam o que eu guardava por dentro.

No momento eu não me sentia assim. Era como se eu tivesse jogado os sentimentos no vento, e eles tivessem mágicamente voado até os corações daqueles que precisavam ouvir o que eu dizia. Saí da igreja acreditando em Deus, Jesus, Santos, Anjos e toda uma sorte de coisas mágicas e engraçadinhas. Achei bonito achar que algo maior me olhava, apoiava e levava minhas palavras no vento. Achei bonito chorar na Igreja e me sentir melhor. Saí de lá sorrindo.

Depois de algum tempo percebi que chorar sozinha em qualquer lugar me fazia bem. Percebi que as coisas mágicas eram só artifícios da minha cabeça pra acreditar que tudo ia ficar bem e dar certo sem que eu fizesse nenhum esforço. Daí a Candelária perdeu a mágica. Aí Deus perdeu a mágica. Aí a mágica do resto do mundo começou. Se tudo deu certo no final? Não sei. Pra mim parece que tudo é sempre o começo. Sempre.

Crônicas da Rua da Carioca II

Me lembro bem de ter uns 8 ou 9 anos na ocasião. Fui ao centro com minha mãe ver não lembro o que, mas o fato é que estava sentada na janela do 240 quando tudo aconteceu. O trânsito estava caótico, era final de tarde. Minha hora preferida do dia. Depois de algum tempo parada na Rua da Carioca, eu o vi: Era um menino, não consigo dizer quantos anos, sentado nos degraus de uma antiga loja de instrumentos musicais, chorando.

Uma mulher veio de lá de dentro, colocou a mão no seu ombro e fez aquele movimento de carinho, como quem consola sem palavras. O menino chorava copiosamente e eu não conseguia parar de olhar. Lembro que senti uma enorme solidariedade por ele. Eu não tinha a mínima idéia de porque chorava, mas minha vontade sincera era descer do ônibus e ir até lá saber. Não por curiosidade ou desejo de fofoca, mas pelo meu encanto infantil com a situação.

Lembro ainda hoje (talvez por ainda sentir) do fascínio que o Centro me causava, com suas construções antigas, seus prédios e ruas. Mas desde sempre a Rua da Carioca era a que me despertava mais fascínio, nunca soube bem porque. Só sei que ali, no final da tarde, de dentro do ônibus, vivi minha primeira paixão infantil. Pensei naquele menino por dias, noites, meses. Pensei na tristeza e em porque afinal ele chorava. Inventava histórias mirabolantes na minha cabeça, sobre instrumentos que desejava e não podia ter, sobre tudo que ele desejava e não tinha. Imaginava que um dia, sem mais nem menos, eu o encontraria pela rua e saberia que era ele. Eu nunca encontrei. Mas se encontrasse, não saberia mesmo.

Só sei que hoje percebi que ainda penso nele. Nele, no fim de tarde, na loja e no choro. Acho que a tristeza alheia mexe mesmo comigo. Acho que me apaixono sempre pela tristeza que sinto emanar dos outros. Como se eu pudesse de repente consertar tudo e deixar mundos coloridos. Como se juntando as tristezas, eu pudesse de repente me sentir também feliz. Não sei. Daí o trânsito andou, e com ele o ônibus. O meu menino que chorava na loja de instrumentos ficou pra trás. Ficou pra trás pra sempre.

Crônicas da Rua da Carioca I

Era bonita demais pro lugar. Um rosto extremamente belo, mas de aparência cansada. Tinha pra lá dos 40, usava um coque bem preso, os cabelos negros e lisos bem puxados pra trás. As feições orientais davam um ar grave a figura, mas o sorriso leve que dava aos passantes quebrava a primeira impressão. Era elegante, mesmo vestida de maneira simples.

Num boteco qualquer do centro um dia vi esta mulher. Fiquei imediatamente encantada, porque sua aparência destoava completamente do ambiente. Ela estava atrás do balcão, parei pra comprar uma água. Eu normalmente não reparo nas pessoas atrás de balcões, mesmo sendo simpática. Porque são todas costumeiramente iguais, e se não iguais, bastante parecidas. Mas ela não. Tinha cara de dona do bar, do quarteirão, do mundo. Tinha um rosto que definitivamente não se encaixava, e acho que nunca vou cansar de pensar e de falar isso. Ela era bela demais, refinada demais. Ela era demais para aquilo tudo.

Talvez se eu passar por lá de novo, naquele boteco da Rua da Carioca, ainda a veja por lá. Talvez ela sorria pra mim aquele sorriso simpático e acolhedor. Talvez eu tenha imaginado coisas demais sobre essa mulher, e não faça sentido algum eu escrever sobre ela tanto tempo depois. Porque essas impressões na realidade pairam a anos na minha cabeça. Só sei que hoje lembrei dela e precisei falar. Poucas pessoas na rua me impressionam. Poucas conseguem a façanha de ficarem marcadas na minha cabeça por tanto tempo, uma vez que minha memória é completamente debilitada.

Só sei que ela ficou. E acho que ficará pra sempre.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ele tem uma espécie de pureza nos olhos que me incomoda. Olha pra tudo com um olhar meio infantil, meio de sonho, contemplação. Usa um chapéu engraçado na cabeça, anda devagar, cabeça baixa. Fala baixa também, e uns sorrisos devagares. Tem um ar triste, triste que só, um ar de quem tem por dentro mais do que aparenta. Porque ele aparenta ser só tristeza, e talvez isso que me incomode. Não tem jeito de quem tem por aí muitos amigos ou amores. Tem jeito de quem tem apenas tristeza.

Eu não sei como ele vive, não faço idéia de se tem ou não família, filhos. Mas a minha mente viaja imaginando ele chegando na casa vazia, acendendo uma ou duas luzes, tomando um copo d'água. Comendo sozinho uma refeição, na mesa da cozinha, depois de cozinhar alguma coisa em porção única. Eu o imagino vendo tv, ou lendo um livro, ou ouvindo rádio, sozinho. Imagino a sensação de silêncio inviolável que paira pela casa, as paredes meio amareladas e a cama antiga no quarto. A cama onde ele se deita, sozinho, e vai vendo noite após noite passar.

Me lembro do primeiro dia em que falei com ele. De todas as pessoas falantes na mesa, ele era o mais calado. Como se o corpo estivesse ali, mas a mente estivesse viajando longe. Lembro que na foto que tirei ele ficou meio escondido atrás de alguém e não aparece, mas dá pra perceber que estava olhando pro nada. Comi do que ele ofereceu, repeti, dei atenção. Talvez por me sentir tão sozinha, por tanto tempo, eu sinta a solidão alheia. Talvez eu sinta a necessidade de afeto que emana de certas pessoas. Porque uns escolhem ser sozinhos, outros simplesmente se fecham, mesmo querendo se abrir. Mas existem terceiros que são simplesmente sós. Esses terceiros não tem escolha, nem opção. A simplicidade dessa solidão me comove, porque soa como uma não aceitação própria, que gera uma não aceitação dos outros.

Pode ser que eu esteja enganada, e que ele na realidade tenha milhares de amigos, saia muito, conheça muita gente. Pode ser que ele tenha uma família bonita e feliz. Mas eu duvido muito, não sei porque. A sensação de vínculo que a tristeza trás é sempre muito forte. Um triste reconhece um triste. Ao menos eu reconheço.

Só sei que nesse momento eu imagino ele lá, sozinho. E isso enche meus olhos de lágrima.

Resgatando IV

"Daqui do topo do mundo é mais difícil respirar. O ar se torna escasso, e vai ficando tudo embaçado pela neblina. Nessas horas começo a achar que caí, que acabou. Mas então percebo que não. Eu cheguei mais longe, estou num lugar mais alto. Eu olho pra baixo e vejo que eles, vivendo no chão, nunca vão ter a mesma clareza que eu, olhando daqui das nuvens.

Todo dia que acordo aqui, no topo do mundo, penso sobre isso. E disso tiro força pra respirar e continuar subindo"
29/04/08

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Eu não sei porque motivo um dia pensei estar no topo. Mas se estava, devia ser feliz. Hoje acho que sou feliz também, sendo uma das formiguinhas aqui embaixo. Vai ver estou ainda no topo e não sei. Vai ver um dia volto pra lá.

Resgatando III

"Infelizmente, a vida urbana faz com que a gente não possa dar tanta vazão a nossas vontades e ideais (pelo menos não a todos). Por isso trabalho, estudo, e espero um dia poder largar tudo e ir pro mato"
21/02/08

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É, ainda espero.

Resgatando II

"Nem sempre ligar o foda-se pro mundo é a melhor opção. Um dia você olha pra trás e vê que tudo que o foda-se fez foi destruir o que você construiu."
19/02/08

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Aprendi a duras penas essa lição. Ligar o foda-se pro mundo definitivamente não é a melhor opção. Lógico que tem horas em que não se pode ou não se deve falar exatamente o que se pensa. Mas mesmo nessas horas é melhor guardar pra si, matutar, e aí sim deixar passar. Porque quando você liga o foda-se atropela não só as suas opiniões como a de todos os outros pelo caminho. Acho que não faço mais isso. Acho que aprendi. Acho.

Resgatando

"Vontade de subir, descer, cair, se machucar, colocar um band-aid cor de rosa e sair pra correr de novo. Correr de olhos fechados, braços abertos e pés descalços, e conseguir encarar a vida assim também, de frente, com o pé no chão e a cabeça nas nuvens, estando aberto pro que der, vier, quiser, puder, pro que for e pro que não for. De braços abertos pra realidade, mas acreditando sempre no sonho. You had a bad day, mas a vida não termina, ela segue, e isso tudo segue, e você segue isso tudo, e por aí vamos nós. Porque os dias de fossa só servem pra você perceber nos outros dias o quanto você é capaz de amar. Talvez só não tenha encontrado ainda o modo certo. Talvez eu não tenha encontrado ainda o modo certo. So where is the passion when you need it the most?"
08/04/07

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Um dia eu tive vontade de viver intensamente. Eu fui e vivi. Eu corri de olhos fechados, tropecei e caí no chão. Me ralei toda. Me ralei e fiquei com uma dor de cabeça que parecia ser eterna. Uma dor que ia fundo e latejava até não poder mais. Mas eu continuei seguindo, vivendo, correndo e caindo. Até que um dia, viver intensamente se tornou simplesmente viver. A dor de cabeça passou e dela nunca mais ouvi falar. Daí eu percebi que intensidade é questão de ponto de vista. Uma coisa só é intensa quando é rara. A intensidade no dia-a-dia se torna banal. Ela vira cotidiano e parece ter ido embora. Mas não foi. Ela continua ali, só que perdeu a graça.

Améliepoulainizando.

Vou améliepoulainizar a minha vida. É disso que estou precisando. Colocar nela mais cores, aromas, sorrisos. Estou precisando ver de novo beleza em tudo, achar graça de tudo. Sair na rua rindo pros outros sem motivo, gostando do sol no rosto e da brisa bagunçando o cabelo. Eu preciso reencontrar com essa pessoa feliz e colorida que vive dentro de mim. Que é pra ver se assim o resto do mundo colore também. Estou cansada da maioria das coisas serem assim, tão cinzas.