...que vez em quando exclamava um “aaaai Danda”, bem puxado, antes de falar as coisas comigo. Eu gostava, achava engraçado. A verdade é que ele me entendia bastante, e dizia coisas sobre mim que chegavam a me chocar. Coisas que ninguém percebia, só ele. Coisas que às vezes nem eu mesma tinha percebido ainda. Ficávamos deitados na cama por tempos conversando, falando da vida, dos amores, dos problemas. A gente falava dos medos, dos muitos medos que tínhamos.
Lembro de um dia em especial, mais que os outros. Aliás, eu lembro de dois dias, mas vou contar esse primeiro. Eu estava dando uma festa e simplesmente fugimos. Deitamos no escuro e começamos a falar e falar sem parar. Por algum motivo eu percebi que aquela era a última vez que aquilo aconteceria. Era como se fosse puro estar ali, sem a sexualidade que normalmente se enxerga em deitar junto de alguém. Era como ser criança, e se tudo fosse fácil.
O segundo dia que me lembro foi o último dia em que o vi. Eu sabia que era o último. Assistimos a um documentário e ele segurou meu dedo para que eu não roesse unha. E disse que só de segurar meu dedo se sentia melhor. E disse que a terapeuta dele perguntou se ele gostava de mim, de tanto que falava meu nome. E ele disse que sim. E riu. E eu ri. Bebemos cervejas e conversamos até tarde, eu matei aula porque ele pedia “fica” com um jeito de drama tão engraçado que eu não resistia. E então eu entrei no ônibus. Ele ia viajar no dia seguinte. Eu sentia a sensação de que tudo ia ser bom dali pra frente, não sei por que. Sentia-me tomada por uma onda de felicidade e esperança, como se alguma coisa se completasse ali e outra estivesse prestes a começar.
E então uma nova fase realmente começou. E quando ele voltou, não cabia mais. E tudo acabou. Estranho pensar que alguém possa significar tanto e de repente não caber mais, não fazer mais parte. Só sei que foi bom, assim, enquanto durou.
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