domingo, 25 de abril de 2010

Tem gente que luta vorazmente pra ser comum. Aquelas pessoas estranhas que começam a se vestir e agir como se fossem qualquer outra pessoa, mas de longe você repara o quão estranhas e deslocadas elas são.

Por algum tempo eu pensei querer ser comum. Querer chegar num lugar sem ser reparada, usar roupas, sapatos, maquiagem, tudo comum. Mas eu sei que lá no fundo eu não quero. Não quero e não gosto. Eu gosto de chamar atenção do meu modo, e não por parecer com qualquer outra garota. Não é questão de personalidade nem de nada que venha de dentro. É puramente estético. Eu gosto de ser diferente e ponto.

Mais do que apenas gostar de ter uma imagem diferente, eu sempre acho mais bonitas as pessoas que também são. Deve ser mesmo questão de gosto, e gosto não se discute. Lógico que as vezes precisamos nos camuflar: O mundo dos comuns não está preparado pra quem chama atenção e tem confiança nisso. Então melhor não chocar o mundo em algumas ocasiões, seria mesmo desnecessário.

No mais, eu me visto como eu quiser, e posso agir como quiser. Minha vida é minha, e a de todo mundo que se foda.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"When you gonna realize, it was just that the time was wrong?''

É sempre o tempo, sempre. Mas é como me dizia um amigo na escola: Tudo ao seu tempo. Eu demorei anos pra entender de verdade.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Melhor do que pensar nos erros que cometeu e pensar em não cometê-los novamente.

De nada vale pensar que a semana passada foi ruim. Isso tira um tempo precioso de planejar o quão maravilhosa vai ser a próxima semana.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Se sua conta bancária fosse um reality show, qual seria?

Resposta óbvia: No limite.







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É a arte de fazer piada com os pobrema.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Segunda feira

Eu vou confessar algo estranho. É estranho não ter do que reclamar. Eu reclamo tanto que não sei mais escrever sobre estar bem. Quando não tenho reclamação eu fico me sentindo sem inspiração pra vir dizer nada. Eu costumava achar graça e alegria em qualquer dia. Não a graça e a alegria normais de estar viva. Não era uma coisa simples, era mais como florear qualquer acontecimento bobo. Acho que perdi esse dom. Daí não ter do que reclamar é como não ter o que contar. Bizarro. O_O

Mas ok, lá vou eu tentar florear um pouco meu dia:

- Hoje eu fui a toa pra faculdade. Falei por uns 3 minutos com uma colega de turma, e rolou uma conversa de meia hora entre o professor e os alunos, falando sobre as tragédias causadas pela chuva e a greve dos ônibus. Foi até legal.

- Fui visitar minhas amigas porque uma delas ia embora hoje. E fiz "surpresa" quando entrei. E ganhei abraços, e falamos de esmaltes, roupas, sapatos, séries e da novela.

- Ensinei meu irmão mais novo a fazer a barba. Porque minha mãe não sabe e meu irmão mais velho não tem nem sombra de pelos no rosto. Expliquei direitinho como fazia, e agora ele é um adolescente feliz sem bigode de porteiro. Bem melhor.

- Hoje estudei feito uma louca, crente que tinha prova, e descobri que não tinha. Pelo menos já li a matéria toda.

- Comi ainda a pouco meu sanduíche favorito: Pão de forma + margarina + queijo minas. Sanduíche nenhum no mundo é melhor que esse. Nenhum mesmo.

- Limpei a cozinha, meu quarto e o banheiro em tempo recorde: Acordei as 10h e ao meio dia tava tudo limpo. E beeeeem limpo.

- Dei alguns chiliques necessários, e eles deram resultado.

É. Foi isso. Olhando agora nem parece tão banal. Vai ver a capacidade de florear está voltando.

Gritando

Todo mundo tem limite, e tenho descoberto que eu também. Eu cansei de agir como se não me importasse com nada, porque me importo. Eu me importo muito com a minha sanidade, me importo muito com a minha saúde mental. E eu não posso simplesmente suportar os gritos, porque eles ecoam por dentro durante tempo demais. Eles ecoam e me fazem querer esmurrar a parede, me fazem querer dar com a cabeça num muro ou me jogar na frente de um carro. Porque a raiva consome, e as marcas no meu braço me fazem sempre lembrar do quanto ela já me consumiu. Do quanto eu já me machuquei por medo de dizer o que pensava.

Mas como eu disse, todo mundo tem limite. E o meu foi sendo cutucado aos poucos, até finalmente revidar. Eu grito, eu penso, eu falo, eu sinto. Eu sinto e eu não posso conter e fingir que tá tudo bem. Porque eu tenho opinião, e já percebi que aqui ela só funciona se elevo o tom da voz. Falar calmamente nessa casa representa silêncio. E eu já fiquei em silêncio por tempo demais.

Então eu não vou mais ser a única a fazer as coisas, a ir a banco, a ir ao mercado, a nada. Eu vou quando estiver afim, quando tiver tempo. E se não tiver, que outro faça. Ninguém é mais criança, e já faz tempo demais que eu sou a única a fazer de tudo. Ficou todo mundo acostumado a pisar na minha cabeça, a me falar merda como se eu fosse ninguém. Pois bem, se não sou ninguém pra eles, que resolvam então seus problemas? É a mensalidade da escola do irmão? Ele que vá ao banco, com a idade dele eu já estava cansada de ir. É a parcela de um cartão que não é meu? Que vá então ao banco, tem carro, tem tempo. Eu não tenho.


Eu me sinto gritando por dentro. Mas hoje eu gritei tudo pra fora. A sensação de leveza é reconfortante.

The long and winding road

E então ela chorou. Chorou por alguns minutos, de um jeito pesado que eu nunca tinha visto ela chorar antes. Sei que chorou assim porque percebeu que suas atitudes alteraram não só a minha vida como a de outras pessoas, e talvez porque tenha finalmente percebido o mal que me fez com isso tudo.

Vai ver ela chorou ao me ver chorando compulsivamente. Porque eu senti que era um choro de tristeza, um choro de quem diz "meu Deus, o que foi que eu fiz?". Era um choro que cessou logo em seguida, quando ela começou a falar sobre como algumas culpas foram minhas e nada tiveram a ver com ela. Eu sei que sim, mas a raiz delas está nela, sempre esteve. Não quero culpar ninguém e não preciso: Eu assumo minhas culpas e na realidade costumo remoê-las, mesmo involuntariamente. E por isso sei que a origem de tudo não foi problema meu nem culpa minha. Eu errei, errei muito, mas sei que tudo seria bem diferente sem a interferência dela.

Acho que até hoje de manhã ela não tinha mesmo se dado conta do estrago que fez. Acho que nem mesmo eu tinha me dado conta de todo o estrago. Parece que dormi por tempos, e quando abri os olhos tudo estava mudado. Fica no final esse aperto no peito, essa sensação de não poder fazer nada. Talvez seja isso o que dói mais. Ou talvez nem tenha doído. Talvez eu já nem sinta.

Só sei que coloquei uma pedra no passado, dessa vez de maneira definitiva. Eu me sinto desolada por motivos que ninguém além de mim vai entender. Eu me sinto como se uma parte enorme de mim tivesse morrido.

No meu mundo todas as coisas supostamente eternas acabam morrendo. Fica a lembrança, mas o que a gente faz com a lembrança do que seria eterno? É como pedir pra alguém viver no escuro pensando no sol: Lembrar dele não vai trazer a luz de volta.

Eu não queria que o passado voltasse. Eu não abriria mão de nada que tenho hoje. Sendo assim, prefiro pensar que tudo que aconteceu fez de mim a pessoa que sou. Fez de mim um pouco menos fria e despreocupada com a vida. Fez de mim uma mulher. Me fez muito menos leviana, e infinitamente mais preocupada com o coração alheio. Tudo que aconteceu me fez percorrer os caminhos que me levaram ao ponto onde me encontro. E eu não me sinto infeliz com o lugar onde estou.

Eu ontem andei o caminho até a porta dele pela última vez. Aquela nem é mais a porta dele e eu não estava sozinha. As nossas vidas mudaram sem que nós dois percebessemos. Parecia que ia ser pra sempre aquela amizade sem tamanho. Parecia mesmo que eu ia poder continuar ligando e aparecendo sem avisar. Que a campainha ia tocar e a gente ia ficar por horas sem fazer nada, rindo um da cara do outro e pensando na vida. Que eu ia poder sempre ligar pedindo companhia, e mesmo estando muito longe ele iria até lá. Mesmo que muito longe fosse o caminho do portão até o banco, só pra me salvar da fila.

Parecia que um dia todo mundo ia entender que era só isso, que era inocente e só. Que era amor como se ele fosse um irmão que eu nunca conheci, e que eu podia dormir do lado dele sem que nada acontecesse. Que a gente podia brincar de cosquinha e de porrada. Que a gente podia andar pelas pedrinhas pretas e brancas do chão do centro, correndo, sem querer saber do que os outros pensavam. Parecia que um dia ia ser possível ser criança assim pra sempre e ser feliz. Mas acontece que ninguém entende, nem nunca vai entender. Ninguém nunca vai alcançar, e a vida fez o favor de deixar isso tudo pra trás. Fez o favor de colocar pelo caminho escolhas sem retorno.

E então eu chorei ao perceber que finalmente ficou pra trás. E ela chorou de ver que isso me deixou tão mal. Ela, assim como todo mundo, não compreende. Ao menos ela agora se sentiu um pouco culpada pelo fim disso tudo. Ela, assim como todo mundo, nunca vai compreender.

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It won't lead me to your door anymore. Nevermore.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Das coisas que odeio, talvez a que eu mais odeie seja ficar sem cigarros.

Mas a gente odeia mais o que tem pra odiar na hora né.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

The notebook


Vou assistir pela miléssima vez. E ficar mais frufru e sentimental.

Ao menos ainda tenho sentimentos, deve ser um bom começo.

:)
Nunca é tarde pra mudar, mas é sempre tarde demais. Eu poderia mudar agora, mas parece sempre tarde. Quando levanto e penso "vou mudar, nunca é tarde", é sempre tarde. As pessoas todas vão morrer sem saber como eu me sinto. Eu nunca digo que amo ninguém, mesmo amando. Eu nunca disse, e quando disse foi resposta. Se alguém me pergunta "você me ama?" eu respondo um sim, as vezes um "claro". Mas isso não é o mesmo que dizer "eu te amo" com todas as letras.

Escrever que se ama também não é o mesmo que dizer. Porque também é fácil. Quando você diz e não é sincero, é perceptível. Quando você escreve, mesmo que não fosse, ninguém notaria. Eu nunca tive facilidade de dizer que amava ninguém. Desde pequena não sou a pessoa mais carinhosa do mundo. Eu nunca abracei meus pais espontaneamente. Acho que abracei poucas pessoas espontaneamente. E falo de abraço de verdade, e não em meio a brincadeiras.

Talvez eu seja mesmo fria como a minha mãe diz. Ela diz que sou assim desde pequena. Nunca fui de abraços, nem de beijos nem de demonstrações. Eu nunca fui do tipo que beija os amigos a todo momento, e na verdade quando era pequena tinha até alguns bloqueios com isso. Não é que eu não sinta, mas é como um medo enorme que toma conta de mim e me congela. Até acho que melhorei nos últimos tempos, mas vira e mexe me sinto do mesmo jeito.

Vai ver todo mundo é assim quando importa. Deve ser fácil dizer eu te amo sem sentir. O difícil é dizer quando se sente.

Rio water planet

Esse tempo todo em casa não está me fazendo bem. Preciso da minha rotina de volta. A minha rotina boba, o meu joelho-com-coca-cola da terça feira, minha aula de segunda a noite e tudo mais. É quarta feira e eu não fiz absolutamente nada da minha semana além de ler um livro e beber litros de café com leite.

Estou com uma sensação ruim, mas sei que provavelmente nada tem a ver com a minha vida. Sei que provavelmente é porque a cidade está um caos, e eu não consigo parar de pensar em quanta gente rezou pra parar de chover, por motivos muito mais reais do que os meus. Por motivos muito mais tristes.

Eu não consigo aceitar essa história de que "tudo acontece quando tem que acontecer", e essa resignação das pessoas diante do fato de terem perdido tudo que tinham. A resignação de algumas diante do fato de terem perdido todos que tinham. Me é estranho saber que as pessoas ainda conseguem agradecer a deus por estarem vivas quando, colocando tudo que elas acreditam, foi deus mesmo que causou tudo. Ai elas vem com a velha história de que ele sabe o que faz. E que ele escreve certo por linhas tortas. E mais aquela penca de ditados que todo mundo sabe de cor.

O mundo está virando um caos. Catástrofes acontecem em todo canto, fatos sem precedentes. São doenças e chuvas e terremotos e toda uma sorte de coisas. São pessoas morrendo e o medo de quando acontecerá o próximo incidente. É triste de ver, de saber. É triste essa sensação de impotência perante o que acontece, afinal nenhum de nós pode controlar a natureza. São catástrofes naturais.

Talvez eu seja ingênua nos meus pensamentos. Talvez eu só pense besteira, não sei. Só sei que, de qualquer forma, eu me sinto triste sabendo que enquanto estou sentada confortavelmente a frente do computador, um sem-número de pessoas não tem mais casa. Algumas não tem mais família. Algumas estão morrendo aos poucos, soterradas embaixo do que um dia chamaram lar.

E de quem é o erro afinal, quando a cidade não tem infra-estrutura pra suportar? Minha mente revoltada não consegue deixar de culpar o prefeito, o governador e quem mais estiver no caminho. Enquanto milhões são gastos em obras tão pomposas quanto absurdas, os gastos com a infra-estrutura da cidade são parcos. É como se eles fechassem os olhos pra essa parcela da população que não tem acesso. E eles só os abrem quando enxergam neles um meio seguro de fazer politicagem. Estão vulneráveis afinal, qualquer promessa será recebida de bom grado, e uma visita a comunidade será reconfortante. Aqui no rio ninguém vai varejar coisas no governador, ninguém vai agredir o prefeito. Aqui no rio, por mais desgraça que aconteça, as classes mais baixas continuam abertas a esse tipo de política. Afinal, chover não é culpa do prefeito. Foi deus quem quis assim.

E assim vamos continuar na mesma. Uma meia dúzia de obras serão feitas pra calar a boca da população. Eles são culpados também? São sim. Muita gente mora em áreas de risco, sabendo do risco que correm. Mas eles não opção? Eles tem pra onde ir? É uma questão muito complexa pra que eu, reles estudante da classe média, me atreva a opinar. Eu não tenho acesso a todos os dados. Eu sei do que penso sozinha e do que a mídia passa. Tenho tendência a revolta e não confio na mídia, logo, minhas opiniões não devem ser mesmo confiáveis. Ok. Na próxima chuva a gente se vê.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Suécia, café com leite e salsichas

Passei o dia envolvida com um mistério envolvendo a família Vanger. Envolvida também com algumas xícaras de café com leite e um prato de salsichas que apelidei carinhosamente de coquetel Molotov. Explico: A mistura de pimenta jalapeño, catchup picante, dois tipos de mostarda e maionese de alho e cebola que coloquei por cima são suficientes para garantir uma explosão intestinal, que resultará em alguma dor nos próximos minutos. Ou não, levando em consideração que meu estômago tem cooperado bastante nos últimos tempos. Já não sinto mais as dores quase insuportáveis de antes, e acho que o que quer que eu tinha se curou espontaneamente.

Voltando ao mistério, Stieg Larsson me faz ter vontade de conhecer a Suécia. Me deixou completamente envolvida com o assassinato, embora eu acredite que Harriet está afinal viva. Não sei, ainda não cheguei ao final e possivelmente estou errada. Só vou saber daqui a umas 200 páginas, que pretendo terminar de ler ainda hoje.

Acho engraçado o poder que os livros tem sobre mim. Deve ser por isso que instintivamente os evito o máximo que posso. Não no sentido que "evitar" possa evocar a mente, mas de um jeito bizarro e que só a mim compete entender. Tentarei explicar ainda assim: Sei que, se o livro for bom (o que costumeiramente acontece com os livros que compro ou pego pra ler. Não sei, tenho uma espécie de intuição literária), após começar a leitura não conseguirei parar enquanto não terminar. Isso faz com que me isole completamente do mundo e dispense a convivência com seres humanos. Desde pequena sou assim, sempre preferi os livros. Eles geralmente me dão mais entusiasmo que pessoas, e isso deve ser errado. Não sei, só sei que evito enquanto posso, e isso geralmente não significa muito tempo.

Então lá vou eu voltar pra Lisbeth e Mikael, pras salsichas que estão esfriando no prato e pra minha xícara de café com leite. Eu gosto de livros. E de mistério. E de xícaras. E de café com leite.

Mas prefiro cappuccino.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Sobre o amor

"Como uma onda queria envolver seu corpo e abraçar você por inteiro, e voltar para o mar levando comigo o calor que emana de sua alma e a luz que irradia de seus olhos.
Queria ser o vento que entra pela janela e passeia por seu corpo, para sussurar uma canção de amor em seu ouvido enquanto acaracio seus cabelos. Queria arder com o calor de mil sóis para alcançar a temperatura de seu coração, e poder aquecê-la como um beijo entre duas estrelas.
E que pouco seja apenas o tempo entre a nossa saudade e a felicidade."

Ele me disse isso a meses atrás, quando ainda éramos praticamente desconhecidos. Quando fazia menos de uma semana desde que tudo tinha começado. Quando faziam poucos dias desde que eu havia enchido a cara de vodka com guaraná e me atirado em cima dele, sem dar muita chance para um não como resposta. Porque eu não fiz mesmo pergunta alguma, eu simplesmente fui.

A esse tempo atrás nós não nos conhecíamos. Não tinhamos noção dos medos pré existentes e nem do passado. Ele ainda me enxergava como uma pessoa leve, divertida e otimista em relação a vida. Talvez eu fosse mesmo. Eu ainda o enxergava como um mistério, mas eu vi alguma coisa, eu sei que vi. Sei que vi uns olhos que brilhavam e um jeito de falar que chamei malemolência, e que achava graça chamar assim.

Daí eu tive medo, mas eu me abri. Eu me abri e mostrei que tenho tantos medos e traumas e problemas quanto qualquer outra pessoa. Mostrei que sou dramática e exagerada. E diferentemente de todas as outras vezes na minha vida, eu não desisti no primeiro problema. Eu procurei entender que leva tempo até que as pessoas se conheçam e se entendam, caso estejam dispostas a isso. E eu fui colocando tudo de mim pra fora, até ficar o mais transparente que conseguia. Mas é como diz a música, "o que faz ela ser quase um segredo é ser ela assim tão transparente". Talvez transparência não seja mesmo bem entendida. Talvez ela sempre soe como silêncio ao invés do grito que na realidade é.

E aí ele continua sendo um mistério pra mim às vezes. E parecer um mistério é bom, porque instiga. Talvez a minha transparência tenha feito com que não sobrasse nada pra descobrir, e por isso perdi o encanto. Talvez eu não ser tão legal e especial quanto era esperado tenha feito com que as coisas ficassem mais cinzas de repente. Assim que me sinto as vezes, como se eu fosse menos do que ele esperava que eu fosse.

Hoje em dia ele já não pergunta o que eu estou pensando, nem me diz que eu deveria dizer ao invés de ficar guardando. Hoje em dia é ele quem olha pro nada e não me diz o que pensa. Eu contei todos os meus medos, preocupações, sonhos. Eu coloquei mesmo tudo de mim pra fora, o lado bom e o ruim (que talvez às vezes se sobreponha). Eu simplesmente relaxei e esqueci a regra número um da minha vida: Pareça relaxada, não relaxe.

Lá a esses meses todos atrás, ele disse às minhas amigas que eu tinha caído do céu. E eu achei uma gracinha alguém dizer isso sobre mim. Só que só hoje eu entendo o quão pesado isso pode ser. Só hoje eu entendo o tanto de peso que ele colocou nas minhas costas, me enchendo de elogios e tendo tantas esperanças sobre mim. Porque ele me fez acreditar que eu era realmente tão boa, enquanto sou somente eu. Talvez ele tenha idealizado, e ao me passar toda essa idealização, eu tenha me perdido. Eu fiquei sem saber se eu era eu ou o que ele pensava que eu era. Eu fiquei sem entender se ele gostava de mim ou da pessoa que tinha idealizado. E hoje eu ainda não sei se ele ama a pessoa com defeitos e problemas que conheceu depois, ou se ama a menina cheia de vodka nas idéias que apoiou os braços nos ombros dele e disse pra ele fazer alguma coisa.

Acho que até hoje ele não entende o que se passa na minha cabeça, quando é pura e simplesmente isso que eu disse. E isso faz com que eu me sinta triste as vezes, sem entender o que ele espera e o que esperar. Porque eu não espero e nunca esperei nada além da empolgação que vi no início. Não porque eu acredite que esse tipo de empolgação dure pra sempre, e sei bem que o período de "infatuation" (e não há tradução descente pra essa palavra, porque "paixão" seria muito pouco) acaba, mas porque fico achando sinceramente que fui uma decepção. Vai ver eu não sou tão legal, compreensiva e divertida quanto parecia, não sei.

Só sei que quando leio essas palavras que ele um dia me escreveu, eu sinto o mesmo que senti no momento em que li. Isso deve mesmo significar alguma coisa. Isso deve ser mais duradouro do que vodka com guaraná, e é exatamente isso que eu acredito que vá durar pra sempre. Ao menos no meu coração.

E, diferente do que ele com certeza vai achar quando ler esse texto, eu não estou fazendo drama. Eu estou declarando o meu amor, e esperando apenas que ele faça o mesmo.

domingo, 4 de abril de 2010

Sobre corpos

Um dia alguém me disse "Eu gosto do seu cabelo com cor de cabelo, das suas olheiras e dos seus dentes separados. São um charme. E você fica mais bonita quando veste roupa nenhuma". Eu fiquei revoltada porque tinha pintado o cabelo de preto, vestido uma roupa bem louca e me entupido de maquiagem. Mas ele era assim, natural, e gostava das coisas naturais. E eu nunca entendia, porque pra mim não podia mesmo ser verdade. Eu não entendia porque eu me escondia por entre as roupas, por entre as sombras escuras e os cabelos pretos. Eu não entendia porque eu ainda não tinha conseguido alcançar que a beleza das pessoas mora em qualquer lugar, menos nos lugares onde geralmente se procura. Porque todo mundo procura sempre nos mesmos lugares.

Todo mundo olha os dentes e não entende que é o sorriso. Olha os cabelos, mas não entende que é o jeito que eles mexem com o vento. Olha as roupas e não entende que mais lindo é o que está por baixo, e isso nada tem a ver com simetria ou perfeição. Tem a ver com tato, com encaixe, com aconchego. Tem a ver com costume, com essa magia toda de se acostumar e se sentir sem roupa mesmo que vestido. E se sentir confortavelmente vestido, mesmo que sem roupa. Porque é o que se sente que nos veste, e é também o que sentem por nós. Quando olham aqueles olhos de admiração, mais, muito mais que os olhos de desejo, a nossa alma se sente reconfortada. E sendo assim, quando chega o desejo a admiração já fez morada por dentro, e eles se fundem e se completam, e tudo fica mais lindo e grandioso.

Todo mundo corre atrás do amor, sem entender que o amor mora em todos os corpos, e que basta dar brecha pra que ele surja e cresça. Porque é muito mais perfeito simplesmente amar do que amar alguém. Quando a gente ama, o nosso corpo está aberto a todo esse maravilhamento, a toda essa energia. E quando a gente não se sente amado, se sente nu. E estar sem roupa na frente da pessoa amada se torna simplesmente estar pelado. Assim, sem magia, sem conforto. Se torna desconfortável e até um pouco incômodo.

Quando os corpos se conhecem e se percebem e se amam, mais até do que se amam as pessoas, apesar do tempo e de qualquer impossibilidade, é quase palpável a felicidade de ouvir coisas como "eu te acho a tentação em forma de gente". Porque significa muito mais do que desejo. Significa muito mais do que qualquer coisa. Não soa vulgar, não soa invasivo. É como dizer "Eu te amo" usando outras palavras. Porque é exatamente assim que o coração entende.