As vezes penso que não dou valor a nada nessa vida. Eu convivo com a possibilidade da perda de maneira leviana. É como se agindo assim, perder não significasse tanto. Como se eu não fosse sofrer tanto assim.
Andei reparando esses dias coisas relacionadas a isso. Não existe quem faça parte da minha vida de uma maneira que, se resolvesse ir embora, eu demoraria pra esquecer. Não que eu não fosse ficar mal, mas não mudaria em nada a minha rotina. Ninguém é assim tão indispensável e isso é estranho.
Talvez a gente consiga se entregar algumas poucas vezes. Talvez uma vez só. E então a gente inclui alguém, e torna a pessoa parte de tudo, como se aquelas ligações fossem formas de fazer ela ficar. Mas um dia ela vai embora. E o que conseguimos com isso? Sentir aquele vazio que fica, como se ela fosse extremamente importante no nosso dia-a-dia. Como se fizesse parte de tudo de uma maneira tão imensa, que agora que ela foi nada mais valesse a pena. Mas a gente esquece um pequeno detalhe: Fomos nós que demos tanta importância e que incluimos a pessoa em tudo que dizia respeito a nossa vida.
Pensando nessas coisas fico sem saber: Será que não se entregar dessa maneira é amadurecimento ou medo? Será que vai me proteger de sofrer mais quando um dia chegar o final, ou vai me fazer deixar de ser mais feliz enquanto tudo acontece? Porque eu poderia ser assim de novo, eu sei que sim. Eu catei os pedacinhos todos do meu coração quando ele levou uma porrada da vida, e eu remendei tudo bem bonito com super bonder. Eu fiquei inteira de novo. O problema não é a minha capacidade de agir assim ou não. Eu me pergunto: Será que eu quero? Porque eu não quero me sentir a única pessoa amando, ou qualquer coisa do tipo.
Me retrair está me fazendo chegar a um ponto que eu conheço bem: O ponto onde eu comço a não ligar mais. Em que eu começo a não me importar se estou mostrando o que sinto ou não. E eu sei que esse ponto parece sempre algo bom pra quem vê de fora, porque parece que os meus medos e inseguranças se estabilizaram, mas não é assim. Esse é o ponto em que minha cabeça fica cada vez mais confusa. É o ponto em que ela começa a desistir.
Estava conversando ontem com um amigo, sobre como as coisas são estranhas: As vezes a gente conhece alguém e fica muito apaixonado, mas a pessoa não está tão apaixonada. Então a gente viaja na maionese, sob o efeito da paixão, sem perceber que não somos tão desejados quanto desejamos. Quando a gente começa a desencanar, a pessoa fica apaixonada pela gente, só que como estamos desencanando, o que antes seria fofo e lindo se torna normal. Isso dura sempre tempos, e os dois nunca se gostam na mesma proporção ao mesmo tempo. As vezes parece que isso acontece comigo sempre, não sei explicar. Eu sou sempre a pessoa bocó e apaixonada no começo, mas eu me desapaixono muito fácil quando não tenho retorno. Eu me desligo muito rápido de qualquer sentimento, e isso me faz voltar ao papo do início. Deve ser porque eu fico sempre na defensiva, logo, não dá tempo de nada durar. A única vez em que durou eu me fudi, e isso explica todo o meu mecanismo.
Talvez eu pense demais e esse seja o problema. Se eu não pensasse, eu simplesmente não ligaria pra essa enxurrada de coisas. Meu amigo me falou que depois de muito tempo aprendeu que o maior relacionamento que temos que ter é com nós mesmos. E que damos muito valor a relacionamentos, problematizamos muito, quando na realidade tem que ser uma coisa boa, tranquila. E me falou também que amor é uma coisa calma, pacata. E citou um personagem de Agatha Christie com algo como "eu gosto dela", explicando que as vezes o gostar, o querer bem, é mais importante e significativo do que ser loucamente apaixonado. E falou que paixão dá e passa, mas o amor fica. Ele me contou um monte de coisas que aprendeu, e que eu tenho que ser mais paciente e deixar essa coisa toda de paixão e mimimi pra trás, porque isso não quer dizer nada, amor é muito maior e muito mais importante.
Ele esqueceu de me dizer que fui eu quem ensinou tudo isso pra ele.
O problema é que eu desaprendi.
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