sábado, 30 de outubro de 2010

Tem gente que passa e vira pescoços. Sou mais do tipo que vira mentes.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O emprego na fundição não rolou, mas amanhã tenho entrevista num lugar tão legal quanto. Eu quero conseguir. Eu vou conseguir. Esse emprego já é meu (praticando a lei da atração, como uma amiga me ensinou. haha).

Eu afastei a devastação e trouxe de volta ao lugar o que deveria. Afasto também o caos que vinha se aproximando, mando ele embora e digo "não volte nunca mais". Quero ficar pros meus estudos, pras minhas coisas, meus amigos, minhas costuras, meu namorado, minha família. Quero e vou ficar bem pra tudo isso, eu já estou bem pra tudo isso. As vezes um final de semana de diversão ilimitada faz ver que seu conceito de diversão na realidade não é aquele. Diversão pra mim é muito mais pacata, muito mais singela. Não digo que não foi bom, mas doía tanto que meu coração só queria calmaria. Doía não somente pela falta, mas por tudo. Doía porque no fundo sabia que estava errada, e eu decidi faz tempo que não levaria mais adiante decisões erradas.

Resta agora deixar o tempo correr, e matar essas saudades que nunca deixaram de existir. Saudades de me fazer chorar no banheiro do cartório, no ônibus, na sala de casa. Saudades de não saber pra onde ir, por acreditar que ele era o único lugar onde valia a pena estar. Saudades que me fizeram lembrar quem eu sou, o que eu quero e espero da vida. Resta então deixar esse rio correr. Um rio manso, seguro, rio de deixar as crianças brincando sem perigo. Que ele corra e vá, não pare e não seque nunca.

Eu estou feliz, afinal. Depois de passar pela possível pior semana dos meus últimos 2 anos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estou estudando na Lapa as terças e quintas. Amanhã tenho uma entrevista de emprego por lá. Se eu conseguir, me mudo pra lá e minha vida vai ficar completa. Gasterei meu dinheiro com aluguel e bar apenas, vou respirar Lapa, ter Lapa batendo no peito, Lapa na sola do pé.

Tá, parei.
Mas quero mesmo o emprego na Fundição.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Me sinto devastada. Como se um rolo compressor tivesse passado por cima de mim. Me sinto arrependida, muito, mas agora não existe a possibilidade de voltar atrás. Sinto como se tivessem matado uma parte minha, e essa parte era tão importante que não sei como continuar sem ela. Me sinto infeliz, muito infeliz. Apesar das coisas boas desta terça feira, existe essa coisa ruim me atormentando, me tirando o sono, me fazendo chorar.

Essa noite quase não consegui dormir. Fiquei chorando até as quatro e pouca da manhã, e só então peguei no sono. Dormi até as seis e meia, não queria chegar atrasada no primeiro dia de aula do curso. Não consigo comer e nos últimos dias me alimentei de alcool e café. Isso não é bom pro meu estômago, que grita desesperadamente para que eu pare. Mas eu não sei parar. Não saberia também voltar atrás. Acho que não nasci pra sentir, uma vez que todo sentimento vem com algum tipo de peso. Nunca é leve, nunca é tranquilo. É sempre esse mar de preocupações e problemas que me levam ao fim. O problema não é ninguém, o problema sou eu. Eu que não sei sentir, não sei viver, não sei me entregar. Eu travo com qualquer passo em falso do outro, e isso faz com que o outro trave também.

Queria voltar no tempo. Queria desfazer isso tudo e começar de novo. Refazer as últimas 3 semanas de uma maneira melhor, mais sensata, mais calma. De uma maneira que fizesse meu peito bater de alegria agora, não de tristeza. Mas não é possível, então me conformo.

Mas me conformar não vai fazer doer menos.

Pessoa da bolha,

Que eu já não acredito mais que exista, haja visto a realidade toda dos fatos, por favor apareça, caso você realmente ande sobre a terra. Por favor traga algumas cores pra minha vida que anda um pouco em preto e branco, traga tintas em tons bonitos de azul e amarelo, talvez liláses e um pouco de coral. Não quero um amor, não quero que chegue pra tomar meu coração porque ele anda desligado. Eu quero que você seja uma espécie de amigo que eu infelizmente não tenho, apesar de ter alguns amigos do peito que muito me amam e eu muito amo. É que eu preciso de alguém que goste das mesmas coisas que eu, pra compartilhar. Alguém que saia e volte comigo só quando o dia clarear. Alguém que não me deixe cair no marasmo que eu caio toda vez que por algum motivo acho que não posso ser eu mesma. Eu preciso de alguém que converse bobagens e ande pelas pastilhas pretas da calçada, só pra variar o andar e trazer diversões inúteis pro dia.

Eu não consigo mesmo acreditar que as pessoas da bolha possam um dia fazer parte da minha vida, porque sendo pessoas da bolha como eu, elas vivem sozinhas. Elas ignoram a existência de outros seres-bolhas passeando por aí. Mas mesmo assim escrevo essa carta, meio na esperança, meio na ilusão, meio acreditando que alguém perdido por aí como eu, que tenha uma casinha assim bonita pros pensamentos como eu tenho, vá ler e pensar e comentar. Na esperança-ilusão-crença de que não é possível que eu esteja fadada a viver sozinha em tantos gostos bons que tenho. Eu gosto de música e arte e nós na cabeça e filmes e livros. Mas eu gosto de um jeito que não se importa em decorar a história de quem faz essas coisas, gosto de um jeito que gosto e só, e curto e amo e viajo, mas na minha. Eu gosto de um jeito que guardo pra mim porque ninguém entenderia. Eu gosto de dias de sol pra passear, de dias de chuva pra refletir, de dias nublados pra melancolizar, de dias azuis pra nostalgiar. Gosto de inventar palavras. Gosto de responder as pessoas com música. Eu gosto da minha bolha de plástico transparente, mas queria as vezes que ela fosse multicolorida.

Eu gosto é do gasto (e olha eu citando músicas de novo).
Enfim,
Apareça.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Menino morto, me contagie com sua capacidade de contar histórias!

Estava escrevendo "Marina e o menino morto" no Café, mas perdi totalmente a rédea da coisa. Dá vontade de virar e falar "gente, é com vocês, escrevam aí, coloquem o que quiserem na história". O problema é que tenho uma relação forte de propriedade com meus textos. Se são meus, são meus, ninguém dá pitaco. Então fica essa história pela metade, sem o desfecho da Marina e do Rafael, sem ninguém saber se ele acha o pai ou não. Fica esse vazio de história sem final e sem nem ao menos aquela possibilidade boa de imaginar o final como a gente quer.

Eu acho que o Rafael tá vivo. É parente e tal daquele Rafael que morreu, e tem o nome em homenagem por ser muito parecido. O Rafael morto pode ser irmão gêmeo do avô dele. O avô ficou, o irmão morreu. E então Rafael e Marina se tornarão grandes amigos, e vão se casar um dia e tudo mais. Mas vai ver a história poderia não ser tão falsa assim. Vai ver essa era a história da bisavó dele, e ele é então neto do Cobra Norato, o que seria muito bonitinho. Daí no final a gente vê o casamento deles acontecendo no cemitário, e lá no fundo um menino olhando, sorrindo, feliz: O Rafael morto realmente existia, afinal, como uma espécie de guardião da coisa toda. E aí fica a pergunta: Será que em algum momento Marina estava na verdade falando com o Rafael morto e não com o vivo? Pode ser também que Marina também seja descendente de alguma lenda brasileira. A mãe ou o pai dela podem ser filhos de alguma coisa assim também. A mãe dela poderia ser filha do boto, o pai dela filho de uma guerreira amazona. Dá pra colocar todos os mitos possíveis e imagináveis na história, e deixar a coisa cada vez mais emocionante e bonitinha. Já que é pra criança mesmo.

O problema é que eu falo sobre, mas não consigo escrever. Vai ver é bloqueio, quem sabe isso passa.

http://cafeelinhas.blogspot.com

Objetos

Meu quarto parece o inferno. Numa versão trash. No rascunho.

Tem cinzeiro cheio e copo e tinha uma vasilha de comida de 3 dias atrás. E isso é nojento, mas é assim que me sinto agora: Parada. O resto de comida tava ali me lembrando do dia que foi quando o deixei no canto atrás da máquina de costura. Tem sapatos pelo chão, roupas na cadeira e meu lençol cor de rosa meio embolado em cima da cama.

Tem as maquiagens em cima da bancada, e minha bolsa jogada no canto.

E eu estava escrevendo e parei porque minha mãe não conseguia achar a carteira. Que estava na frente dela. E agora resmunga os mesmos resmungos irritantes e sem sentido de todo dia, e isso me desconcentra. As vezes quero que ela perca a voz e fique muda por pelo menos uns 3 dias, pra aprender a dar valor as palavras, a dar valor a capacidade de falar. Morar numa casa com outros seres humanos me irrita.

Se eu morasse sozinha, teria comido o brigadeiro todo sozinha hoje. E eu estava realmente precisando.

Da carne

Que é fraca e tenra e tonta. Que é rodopiante e meio biruta. Que se veste e age e tudo mais, como se nada, nada mais importasse.

Que a carne é feita pra enfiar as unhas. Os dentes. A língua, quem sabe? Que a carne não tolera, Não suporta. Que a carne é tudo, é o corpo inteiro, por fora e por dentro. Que a gente é carne e não passa disso, e como apenas carne não foi feito pra resistir, não foi feito pra que consigam resistir a nós também.

Que a gente é carne, sei. Mas tem um cérebro também. Que é carne, sim. Mas é carne que pensa. A gente controla então, porque tem. Que a carne é tudo isso e muito mais. Mas existe o mundo.

Visceral

Uma menina numa bolha. É uma redoma, um círculo, o mundo. O mundo dela, só dela. Uma menina numa bolha, ela respira o ar que tem lá dentro, isso sufoca. Ela come o lado de fora com os olhos, entristecida com sua incapacidade de pegar o alfinete do chão, estourar a bolha e sair. É disso que ela se alimenta, aliás: do mundo do lado de fora. As pessoas e os lugares e os ônibus, o trânsito, tudo vira alimento. Nem tudo faz bem a saúde, mas quem se importa com isso nos dias de hoje? Ela se importa, infelizmente. Queria mato e terra. Queria céu sempre azul e florzinhas na varanda. Se contentando com o que tem tenta inutilmente sonhar com o futuro. É difícil dormir com o ar rareado de dentro de sua redoma. Uma menina numa bolha sente o sol bater e refletir. Seus olhos brilham pro lado de fora, num tom indefinido. Tem dias que são tão cinzas, e porque? A menina se pergunta isso sempre. Uma menina. E a bolha e o ar e o sol e os sonhos e o jeito e o sorriso. Sorriu. Sorriu e parou. Havia aquela parede de plástico e magoa, de medo, de dor, de incapacidade. Sorriram de volta, sorriram sim que ela viu. Mas era difícil, era quase impossível. Era quase dia quando aconteceu. Alguém foi embora, ela acredita, sem conseguir abrir e morar lá dentro com ela. Alguém sempre vai embora, de vez em quando a própria. Sentou no chão, protegida por ele, o plástico. Sentou e ficou. Não quis mais levantar

domingo, 17 de outubro de 2010

Eu não consigo me sentir feliz hoje. O tempo está nublando, como sempre nubla quando estou triste. O tempo não muda por mim, mas sempre tenho a sensação de que me acompanha. O tempo talvez seja, no fundo, meu melhor amigo. Não volta atrás, mas continua andando, e só de continuar andando já é uma grande vantagem.

Eu não consigo me sentir feliz hoje, e acho que não me sentirei feliz tão cedo. A única coisa que consigo sentir nesse dia é uma vontade enorme de sumir, de me esconder, de ser esquecida. Eu quero ser esquecida e quero esquecer. Eu quero não sentir. Meu erro foi acreditar que meu excesso de sentimentos e impulsos ia ser suficiente pra que tudo fosse lindo, pra que tudo durasse. Meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria, diz a música. Uma verdade pro meu dia. Uma verdade pro momento, pra vida.

Vida. Sei que ela sempre segue, sempre. Sei que vai tudo andar, mesmo que pareça parado. Sei que ainda vou chorar muito, por muitos dias, mas tudo vai ficar bem. Tudo sempre fica no final.

O problema é saber quando é que esse final chega =/

sábado, 16 de outubro de 2010

Me sinto como se estivesse vendo minha vida de fora. Eu sei tudo que tenho que fazer, mas simplesmente não consigo. Eu não consigo processar e executar, fico apenas observando, como se aquela pessoa ali vivendo fosse um boneco levado pelos ações dos outros e eu, a parte consciente, estivesse de fora olhando e rindo, pensando "como é engraçado se deixar levar". Mas aí a vida vai e ri por último. E quem ri por último sempre ri melhor. Ela ri enquanto embaralha meus pensamentos, meus sentimentos, minha ações. Ela ri enquanto vê a consciência voltar àquele corpo que se deixava levar e que se vê nesse momento no olho do furucão, num redemoinho, numa situação que mais parece um cadarço cheio de nós. A vida fica lá, dando risada enquanto eu me ferro.

Eu preciso tomar as rédeas pra poder rir por último. Eu preciso pôr em prática as decisões que sei, preciso tomar. Eu preciso de coragem, força, fé. Já percebi o que preciso, sei bem do que me faz bem e do que me faz mal. Só falta ação agora, só isso.

Uma sexta feira

Ontem eu sabia que a noite ia ser boa assim que tomei coragem no ônibus de fazer uma coisa que sempre quis. Eu estava lá, alguém estava com o som tão alto que nem meus fones no último volume abafavam. A música ruim que o cara ouvia atrapalhava a minha alegria. Eu estava feliz, voltando da aula inaugural do curso que quis tanto entrar, o dinheiro depois de dias finalmente estava na minha conta e encontraria meus amigos minutos depois. Porque estragar essa felicidade permitindo que o som alheio atrapalhasse minha diversão no ônibus? Não, eu não deixei. Eu comecei a cantar AOS BERROS uma música do Odair José. Cantei beatles, clube da esquina e o que mais tocou. Todo mundo olhou pra minha cara, um menino riu pra mim, tive uma crise de riso. Pronto, eu estava feliz de novo. Cantei até o cara desligar a música, ou seja, funcionou.

Chegando na freguesia, encontrei as pessoas, comi cachorro quente da vó Norma, fomos pro bar. É engraçado que íamos ao castelo ontem, e não ir acabou se tornando muito bom. Ter ido não seria tão divertido. Cheguei em casa e o dia estava quase clareando, eu estava bêbada e contente. Impressionante como estar com os amigos apaga qualquer sombra de tristeza, qualquer sombra de problema. Eu posso não ter dinheiro, me sentir perdida na vida as vezes e quase explodir de ódio, mas enquanto tiver amigos nada, NADA disso vai durar por muito tempo. E o melhor da minha vida, com toda certeza, é isso.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Me sinto tão tensa, tão nervosa, que as vezes parece que minha pele vai soltar da carne, que meu estômago tomou vida própria e vai sair correndo por aí, gritando e pegando fogo. Não aguento mais me sentir assim. Não ligo pra dinheiro, mas a falta dele tem me feito mal. Não é uma falta de dinheiro pra comprar besteira, uma falta de dinheiro pra sair. É falta de dinheiro pra pagar contas, e isso me consome. Eu deveria poder contar com meu pai, mas não posso. Eu não posso porque ele não liga a mínima, e isso me dói mais do que a falta de dinheiro. Eu não posso contar com a minha mãe, porque ela tem ainda menos do que eu. Não posso contar com a sorte, porque acho que sorte é o tipo de coisa que ninguém deve contar. Estou chegando ao ponto de juntar trocados e apostar na mega-sena. Quase fiz isso hoje. Me controlei, porque não gasto dinheiro com esse tipo de coisa.

Eu as vezes deito na cama e fico olhando pro teto, pensando no que vem a seguir. Estou estudando e tentando chegar a algum lugar, mas aonde? Esses últimos anos me destruiram. Todo o mal que eu e meus irmãos passamos ela está passando agora. Não me sinto bem com isso, nem um pouco. Mas cada vez que ela desconta a raiva em mim por motivos idiotas, sinto vontade de dizer tudo que está engasgado. Sinto vontade de dizer que a culpa é toda dela e que se eu tivesse o mínimo de amor próprio não ajudaria em nada. Porque eu tento ajudar, de todas as maneiras. Eu dou tudo que tenho, mas nunca é suficiente. Com 21 anos eu sei o que é levantar e agir por conta própria, o que é assumir riscos e erros e seguir em frente. Mas, infelizmente, vivemos em um mundo em que o jovem supostamente sabe menos que os mais velhos. Como se idade fosse sinônimo de sabedoria, e não é. Enquanto uns ficam se lamuriando e outros ignoram eu fico aqui, no olho do furacão, tentando entender, tentando colaborar.

Eu deveria ignorar, pois isso me pouparia um bocado de estresse. Me pouparia um bocado de dinheiro e de preocupação. Eu não sei mais o que fazer, não tenho com quem falar, não sei pra onde ir. Eu estou perdida, e não quanto a minha vida. Estou perdida em questões pelas quais eu não deveria passar. Perdida em questões que nunca vivi. Fico imaginando se eu não tivesse trancado a faculdade, o tamanho da dívida que teria agora, infinitamente maior do que a que já tenho.

Eu ainda vou me ferrar mais nessa história, prevejo.
Mas é como dizem: A esperança é a última que morre.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saudade

Sinto saudade as vezes, de épocas que sei que não vão voltar. Sinto saudade toda vez que o presente não é satisfatório. Minha mente apaga sempre as coisas ruins de determinados momentos, e assim certos fatos se tornam melhores com o tempo. Melhores talvez do que eram quando aconteceram.

Eu entrei num sebo e a gente brincou de se empurrar. Eu joguei ele no chão, ele me puxou também. Ficamos rindo por alguns segundos antes de levantar. Ele comprou um livro sobre mitologia, e eu fiquei olhando as prateleiras. Adoro o cheiro de sebos, o cheiro de livros antigos. Acho que gosto até da poeira, por mais que me faça espirrar e emtupa meu nariz. É de um jeito que eu gosto. É uma forma de reviver lembranças.

A gente andou por entre as ruas por algumas horas. Eu comi um monte de besteiras e dividi um docinho de café. Eu quis morrer com algumas afirmações, mas disfarcei. Sempre fui boa em disfarçar. A gente tomou uma cerveja e era o fim. O fim da linha, do dia, de tudo. Era a lapa, as 5 e pouca da tarde, e essa amizade que eu sempre vou sentir falta.

Virei pra ele num momento do dia e disse "eu disse que um dia a gente não se conheceria mais, e você disse que nunca". Ele me respondeu um "mas como assim?" e riu. Estávamos ali afinal, como então não nos conhecíamos? Respondi: "As pessoas que somos hoje são totalmente diferentes das pessoas que éramos a alguns anos atrás. A gente mudou, nossa vida mudou. Quem está aqui agora são as pessoas que fomos, passeando pelo lugar onde costumávamos passear. Mas na vida de todo dia? A gente não cabe mais".

Me doeu dizer isso. Me doeu assim que saiu, mas é a verdade. Eu sinto saudade, não do relacionamento amoroso, mas da amizade que nunca mais terei igual. Sinto saudade do ouvido, da paciência, dos conselhos. Saudade de ter pra onde ir, pra quem ir, ter motivo pra ficar. De ter a casa da avó dele e aquele quarto pra passar a tarde deitada, ouvindo música e falando sobre a vida. A gente conversava em silêncio até, se entendia no olhar, no choro, no abraço. Se entendia nas brincadeiras, e eu me lembro dele toda vez que caminho pelo centro da cidade. Ninguém nunca vai entender um sentimento assim, porque ninguém nunca teve uma amizade como essa. Ou talvez alguém tenha tido, e tenha a capacidade de compreender, sei lá.

Só sei que sei que nunca mais terei. Nunca é muito tempo, mas essa é a realidade.

Eu sinto saudade. Sei que não há volta. Isso me dói. A melancolia sobre isso é o que me resta. A nostalgia não deveria, mas já me basta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vitamina bem batida das últimas semanas

Eu sou. Talvez sempre tenha sido, e só tenha deixado por vezes de ser quando deixei de me permitir. Eu me permito. Me permito quase qualquer coisa. Não comprometendo outras pessoas eu vou fundo, faço o que quero sem pestanejar. Eu corro. Corro atrás de um futuro bom e iluminado, sem esquecer do presente. De que adianta um futuro lindo, se futuro soa sempre como algo que não chega? Hoje é o futuro de alguns anos atrás, e pensando no quão mal eu poderia estar, me sinto bem. Sinto. Sinto muito, uma tonelada de sentimentos que transbordam, tão sinceros e tão enormes que se tornam quase palpáveis. Eu sou um sentimento. Aliás, sou uma ação, daquelas arrebatadoras. Eu movo e o mundo move comigo, meu mundo. No meu mundo cabe tudo, cabem todos, sempre cabe mais um. Meu mundo é que nem coração de mãe, acho.

Eu quero. Quero uma porção de coisas. Eu quero um querer desmedido, um desejo que não cabe mais em mim. Um desejo que sai pelos meus ouvidos, pelos meus olhos, mãos e cabelo. E por querer assim, sem pensar (e falando de cabelo), ele agora é meio cor de rosa, mais curto, mais bonito, mais impactante. Eu sou o impacto, que chega e deixa sem palavras. Mas só quando quero, e quando não eu sou sombra, quieta, espreitando, olhando. Meus olhos. Acho que dizem muito. Quando quero olho, e não consigo desviar o olhar. E além de querer eu quis, e fiquei olhando, e não consegui parar e olhou de volta por um breve instante, o suficiente pra minhas pernas bambearem e eu perder um pouco o chão. Mas não podia. Não posso. Certos quereres eu adormeço, por mais que eu queira e corra e mova e permita. Tenho limites, pronto, admiti. Esse querer que quis era nada, era só uma espécie de admiração misturada com encantamento, que eu deixei por algumas horas fazer parte do meu pensamento. Tenho novamente que admitir uma coisa: não foram horas e sim alguns poucos dias. Passou. Sempre passa. Por mais que fossem olhos brilhantes, sei que me olharam como quem quer nada, olharam por falar, por dirigir a palavra. Eu roía unhas e continuava olhando, já sabendo que era esse o significado.

Eu fui. Fui de uma porção de formas, por uma porção de anos. Já fui de andar por ai de preto, até descobrir as cores. Fui de andar de sapato até descobrir as chinelos. Fui de me esconder, agora sou de me encontrar. Também não fui, aliás muitas coisas nunca fui. Nunca fui de ligar pra dinheiro, nem pra saltos, nem pras meninas da minha idade. Nunca fui de andar de carro, faço tudo muito bem a pé. Eu gosto de andar de ônibus e observar a paisagem da janela. Eu sempre, também. Sempre gostei de fuçar sebos e do cheiro dos livros antigos. De achar dedicatórias e bilhetes e papéis. De comprar vestidos em brechós e ficar imaginando a história que eles tem, por quantos bailes passaram e quantos abraços sentiram. Eu sou uma velha, diz minha mãe. Muito careta em certos aspectos da vida, e eu nem acredito no quanto sou liberal em outros. Eu gosto de falar de mim, mas gosto de ouvir sobre os outros. Eu gosto de ouvir histórias e da bagagem que as pessoas carregam.

Estou em transição. Uma transição eterna. Eu as vezes não me aguento. Ninguém se aguenta em alguns momentos, acho.

Eu acho tanta coisa e são 3 da manhã e eu deveria estar dormindo. Paro de achar por aqui. Guardo alguns achismos pra amanhã.