terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Imagina um José num bar, com um copo de cachaça na frente. José é pedreiro, casado e tem 7 filhos. Ele para e pensa na vida, mas diferente do João da mesa ao lado, ele não pensa em outras mulheres, não pensa em puteiros nem em farras. Ele não pensa nas banalidades, apesar de se achar extremamente banal. José sabe que tem mais, e tem um amargor por dentro, uma palavra querendo pular do peito, uma tristeza contida que ele não sabe explicar.

Ele é tão comum que a sua cabeça tenta acreditar que não existe mais, mas ela sabe que existe. Então José fica ali, tentando limpar com alcool os questionamentos que a vida trás. Ele sabe que não é feliz, porque não sabe o que é felicidade. Ele se contenta porque o resto do mundo pra ele é uma sombra. José só sabe da mulher, dos filhos, da casa que construiu com dificuldade, da obra onde trabalha e do bar. Ele sabe que deveria ser como João, e pensar apenas no trivial. Ele tenta, mas não consegue, então se embriaga.

Chega em casa completamente bêbado, a mulher reclama, e então apanha. Os filhos assistem quietos, como fazem todos os dias. Ele sabe o quanto aquilo é bestial e desnecessário, mas é uma atitude automática, como se descontasse na mulher as tristezas que não consegue explicar. Ele termina o serviço e vai pro banheiro. Então senta e chora, chora muito, tentando matar por dentro o homem que se tornou. Mas não mata. José sai do banheiro, observado pelos olhos assustados das crianças. Entra no quarto, deita na cama e dorme. Acorda antes que o dia clareie, se veste, sai. Volta pra construção, pro bar, e pras pancadas na mulher no final do dia. José não existe mais. José é a tristeza do homem médio.

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