Era bonita demais pro lugar. Um rosto extremamente belo, mas de aparência cansada. Tinha pra lá dos 40, usava um coque bem preso, os cabelos negros e lisos bem puxados pra trás. As feições orientais davam um ar grave a figura, mas o sorriso leve que dava aos passantes quebrava a primeira impressão. Era elegante, mesmo vestida de maneira simples.
Num boteco qualquer do centro um dia vi esta mulher. Fiquei imediatamente encantada, porque sua aparência destoava completamente do ambiente. Ela estava atrás do balcão, parei pra comprar uma água. Eu normalmente não reparo nas pessoas atrás de balcões, mesmo sendo simpática. Porque são todas costumeiramente iguais, e se não iguais, bastante parecidas. Mas ela não. Tinha cara de dona do bar, do quarteirão, do mundo. Tinha um rosto que definitivamente não se encaixava, e acho que nunca vou cansar de pensar e de falar isso. Ela era bela demais, refinada demais. Ela era demais para aquilo tudo.
Talvez se eu passar por lá de novo, naquele boteco da Rua da Carioca, ainda a veja por lá. Talvez ela sorria pra mim aquele sorriso simpático e acolhedor. Talvez eu tenha imaginado coisas demais sobre essa mulher, e não faça sentido algum eu escrever sobre ela tanto tempo depois. Porque essas impressões na realidade pairam a anos na minha cabeça. Só sei que hoje lembrei dela e precisei falar. Poucas pessoas na rua me impressionam. Poucas conseguem a façanha de ficarem marcadas na minha cabeça por tanto tempo, uma vez que minha memória é completamente debilitada.
Só sei que ela ficou. E acho que ficará pra sempre.
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