sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Eu fico aqui com meus cigarros, imaginando as palavras que diria. Fico imaginando como soaria cada coisa que eu falasse, se eu seria bem interpretada e se faria algum sentido. Se faria, talvez, algum efeito. Eu ouço a mesma música várias vezes, em sequência. Toda vez que fico mal eu ouço a mesma. E não é porque ela me anima, é porque me retrata perfeitamente. Vai ver existe muita gente assim, triste, meio insana e fechada pra dentro. Então essa mesma música deve retratar também uma menina no Japão e um menino nos Estados Unidos. Deve retratar perfeitamente um monte de gente.

Minha cabeça nessas horas vai longe, e pensa muito no quanto sou idiota. Eu fico pensando em ir até a sala e encher um copo com whisky. Era o que eu costumava fazer. Até o dia em que não ficava mais bêbada, não sentia mais o gosto de nada e bebia qualquer bebia alcoólica como quem bebe água. Ai eu parei. Parei e resolvi conviver com os meus problemas, com os medos e inseguranças. "But here am I in my little bubble", sempre.

Deixar alguém entrar é doloroso. É como se eu abrisse a minha pele e falasse "vai, agora enfia o dedo na ferida e cutuca. Vai, vai sem medo!". É como se cada pedacinho do meu corpo de expandisse pedindo "vem". É um processo realmente doloroso e para o qual sempre vejo não estar preparada. Um dia estive, mas eu fui deixando qualquer um entrar, achando que cada vez saía não havia machucado. Achando que fechava e não deixava marca. Mas cada pessoa que vem e vai embora deixa uma, e quando finalmente chega a hora certa de se abrir, a pele está tão cheia de marcas que não expande mais. Ficamos assim, tentando em vão abrir, mas não há mais pele pra ferir. Chegamos a um ponto em que não conseguimos mais deixar que ninguém cutuque as feridas. A gente só aceita cutucar e guardar as dores pra si. E assim dói mais, bem mais.

A verdade é que eu fiquei assim. Marcada, doída. Eu fiquei e achei que não, mas cada vez que reclamo de uma idiotice reparo que sim. É como um medo desmedido de que alguém vá embora sem ter conseguido entrar. Que alguém vá embora sem conhecer de verdade, a fundo. Ao mesmo tempo, com nossa capacidade perdida de permitir que entre, ficamos parados num lugar que é como o meio do caminho. E então como desejar que seja diferente, que seja fácil? Como culpar os outros, se o problema mora em nós? A outra verdade é que antes mesmo de se escancararem, minhas portas estão começando a fechar. Sem que eu tenha controle. Elas vão fechando um pouquinho mais a cada dia, e a única coisa que consigo fazer é desejar que alguém chegue e entre correndo. Que entenda que vai além da minha capacidade. Que alguém me dê um abraço e me diga que vai ficar tudo bem, mesmo sem eu pedir.

É demais pedir que alguém me entenda quando nem eu me entendo, mas as vezes é só um abraço mesmo. É só chegar e colocar um travesseiro atrás da minha cabeça pra ela não bater na cama. É só passar merthiolate nas feridas e fazer curativos. Porque por mais que eu seja assim, tão cheia de marcas, no fundo eu sou a mesma menina do começo: Eu ainda acredito que todas elas um dia vão embora.

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