De todos os lugares do Rio que foram banhados com minhas lágrimas, a Candelária foi onde chorei mais. Talvez fosse o clima fresquinho que faz lá dentro, ou o fato de não haver iluminação durante o dia, o que deixa a Igreja numa leve penumbra, convidativa ao choro. Só sei que me senti acolhida lá dentro um dia, um dia em que estava muito triste e perdida. Então eu sentei no penúltimo banco e chorei. Chorei talvez por quase uma hora, sem parar. Me pareceu uma eternidade. Então depois de chorar eu me senti vazia. Me senti limpa por dentro. Como se eu tivesse posto o dedo na gargante e então posto pra fora tudo que estava engasgado por meses. Só que não havia ninguém lá comigo, então eu falei o que sentia sozinha. E as pessoas as quais aquelas palavras se dirigiam nunca ouviram. Então elas nunca souberam o que eu guardava por dentro.
No momento eu não me sentia assim. Era como se eu tivesse jogado os sentimentos no vento, e eles tivessem mágicamente voado até os corações daqueles que precisavam ouvir o que eu dizia. Saí da igreja acreditando em Deus, Jesus, Santos, Anjos e toda uma sorte de coisas mágicas e engraçadinhas. Achei bonito achar que algo maior me olhava, apoiava e levava minhas palavras no vento. Achei bonito chorar na Igreja e me sentir melhor. Saí de lá sorrindo.
Depois de algum tempo percebi que chorar sozinha em qualquer lugar me fazia bem. Percebi que as coisas mágicas eram só artifícios da minha cabeça pra acreditar que tudo ia ficar bem e dar certo sem que eu fizesse nenhum esforço. Daí a Candelária perdeu a mágica. Aí Deus perdeu a mágica. Aí a mágica do resto do mundo começou. Se tudo deu certo no final? Não sei. Pra mim parece que tudo é sempre o começo. Sempre.
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