sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sol.

E hoje amanheceu um dia ensolarado. E quente. E eu não sei porque, mas ainda me surpreendo com a felicidade que sinto quando faz sol. Mais, muito mais do que sentirei em qualquer dia nublado. Porque parece que só o fato do céu estar azul e o sol estar brilhando já me faz sorrir.

No mais, deve ser também porque hoje é sexta feira, eu tenho uma aula mega legal daqui a pouco e sou finalmente uma pessoa empregada.





Mas isso tudo num dia nublado definitivamente não teria o mesmo efeito.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

"...a mentira e a verdade, a solidão e a cidade..."

Enquanto via o caminho passar, abri a janela e deixei o vento bater. Ele vinha gelado, muito gelado e chegava a doer, chegava a ser difícil respirar. Mas eu deixei, e vim pensando na vida. A música me confortava enquanto a paisagem passava correndo. Eu tentei olhar os prédio, as árvores, mas a velocidade impedia. A cada sinal eu observava o lugar onde estava e as pessoas que nele que se encontravam. Idosos, casais, crianças, toda uma sorte de gente absorta em seus próprios pensamentos. Mergulhadas o suficiente pra não ver mais ninguém ao redor.

Engraçado como vivemos nossas vidas, sempre pro lado de dentro. E a pessoa do meu lado poderia ser alguém que sofre. Alguém com problemas, precisando de um ombro pra chorar. E eu poderia ser esse ombro, mas não: Eu também estava mergulhada demais no meu próprio mundo, o suficiente pra nem lembrar se quem sentou do meu lado era homem ou mulher.

A tecnologia nos afasta. No tempo dos bondes haviam os amigos do bonde, aquelas pessoas que andavam com você todo dia, e com as quais sempre se trocava um "dedinho de prosa". Mesmo com o surgimento dos ônibus, ainda haviam amigos, aqueles que pegavam todo dia no mesmo horário, com o mesmo motorista e trocador. E nisso aconteciam amizades verdadeiras, paqueras, flertes. Acontecia a vida e um afastamento da solidão.

Daí veio o walkman. E o discman. E o ipod (e toda a gama de mp3-players disponíveis no mercado). E agora as pessoas entram nos meios de transporte imersas no seu mundo particular, saem e não falam com ninguém. E agora você pode passar por uma pessoa centenas de vezes na rua sem nem reparar na sua existência, até um dia conhecê-la numa comunidade do orkut, e se espantar ao saber que passam todo dia pelo mesmo lugar.

O mundo moderno é solitário. E ele dá vazão a solidão inerente ao ser humano. Porque de alguma maneira todos nós somos solitários sim, mesmo quem acha que não é. Todo mundo tem um mundo pra dentro e outro pra fora. E os dias de hoje fazem viver cada vez mais pra dentro, ter longas conversas sem abrir a boca, ter vários amigos que você não pode abraçar e chorar junto.

Mas você chora com eles a distância, e se sente bem assim mesmo. Foi comprovado numa pesquisa recente que as amizades pela internet são tão benéficas quanto as reais, e que idosos que fazem parte de redes virtuais vivem mais do que os que não fazem. Isso é bom mas, e daqui a 10 anos? Vai ser o fim do contato físico? Da conversa na mesa de bar? Como disse Jesús Martín-Barbero, é a utopia da internet, de que todos somos iguais e estamos juntos. Não somos e não estamos. Como ele mesmo disse, a internet só nos põe em contato. O contato é bom e nos dá a sensação de não estarmos sozinhos: Na internet só nos juntamos com quem gosta do mesmo que nós, temos assunto. O que muitas vezes não acontece no "mundo real". Nele você tem que aprender a conviver com as diferenças, ser amigo acima dos gostos particulares e criar desenvoltura social.

E algum dia alguém resolveu que isso não era bom.

Não condeno a internet, se não fosse ela eu não estaria aqui agora. Se não fosse ela, eu não conheceria alguns dos meus melhores amigos. Nem meu namorado eu conheceria. Mas ainda assim, acho que o uso desenfreado de coisa alguma é benéfico, muito menos dela. Ser humano e seu maior problema: A falta de limites.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

1 ano.

Um ano e eu não sei o que dizer pra homenagear minha vó. As vezes parece que a qualquer momento o telefone vai tocar e vai ser ela me mandando colocar em algum canal e assistir o que está passando.

Ela me ensinou a costurar (ao menos tentou..rs..), bordar, tricotar. Ela me desafiava com palavras difíceis da língua portuguesa, só pra ver se eu sabia o que significavam. Ela me deixava fazer as palavras cruzadas do jornal junto com ela, embora soubesse que eu não saberia quase nada. Ela me chamava pra falar sobre política, moda, maquiagem. Me contava de antigamente, e me ensinava coisas que ninguém hoje em dia saberia ensinar: como cortar um godê completo, como usar laquê, como colocar bobes no cabelo. Ela me ajudava na maioria dos meus trabalhos de escola, e era extremamente inteligente: Falava inglês, francês, latim, tinha boas noções de espanhol e italiano. Entendia de história, entendia de tudo. Impossível conversar com a minha vó sobre algum assunto que ela não soubesse. Até sobre informática, mesmo nunca chegando perto do computador, ela sabia conversar.

Meu tio diz que minha vó não construiu nada na vida. Morreu sem patrimônio material, é verdade, mas ela construiu muito sim. Por causa dela existe minha mãe, logo, por causa dela eu existo. Grande parte da minha bagagem cultural devo a ela, e a ela devo meu romantismo exacerbado e a vontade enorme de manter todos por perto. Porque mesmo no desgosto que ela teve, me ensinou alguma coisa: Que o amor é a coroa que faz de um homem um rei. E que da vida é só isso que se leva, o amor que a gente planta.

Com tudo, minha vó foi feliz. E pra mim hoje é só isso que importa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

x_x

Hoje tive um dia estranho, muito estranho. Em alguns momentos parecia que minha cabeça estava parando de funcionar, eu não conseguia raciocinar e a visão ficava turva, manchada.

Odeio a sensação de querer chegar logo em casa e ter que aguentar tempos no ônibus, dar voltas e voltas, e gastar o dobro (senão o triplo) do tempo que eu gastaria se houvesse um meio de voltar direto. Chega a me dar falta de ar quando olho pela janela e vejo que ainda estou muito longe, quando tudo que eu queria era estar passando do portão, tirando os sapatos e andando calmamente pelo quintal.

Tem dias em que me sinto muito urbana. Dias em que me sinto completamente parte da cidade grande, das ruas, dos prédios. Dias em que até o barulho do trânsito parece parte de mim, e vou caminhando feliz pela rua, levada pela multidão.

Mas hoje não. Hoje não foi um desses dias. Hoje foi um dos dias em que tudo que eu queria era ficar descalça, deitar na grama, correr com os braços pro alto gritando, rolar no chão e ficar olhando o sol. É como diz a música do Strokes, "Veja, estou preso na cidade, mas pertenço ao campo". Talvez a solução de tudo se dê quando eu largar essa vida pra trás e for morar no mato. só pode.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Provocação?



Verbo
pro.vo.car transitivo direto

Sinônimos

Acarretar, acender, aguçar, atormentar, causar, começar, criar, desencadear, importunar, incitar, instigar.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

=/

Certas coisas sempre retornam, e eu não sei conviver bem com elas. Como essa sensação de inquietação que as vezes sinto. Fico batendo o pé no chão involuntariamente, enquanto fumo um cigarro atrás do outro e meus pensamentos correm soltos e acelerados. A sensação de inutilidade que me dá, de despertencimento. A sensação de que sempre falta alguma coisa que eu nunca descubro o que é.

Talvez eu devesse continuar ignorando isso tudo. Talvez continuasse sendo fácil ser uma pessoa fácil. Mas não continua, e esse é o ponto. Parece que tem sempre uma explosão acontecendo dentro de mim, pronta pra sair pela minha boca a qualquer momento. Parece que tudo de errado tem a ver comigo, que tudo é culpa e problema meu. Parece que eu não acredito em nada e nem ninguém, e que nada nem ninguém acredita em mim. Parece as vezes que fica um choro preso na garganta, querendo sair e lavar meus olhos das mágoas e frustrações que eu passei.

Porque de alguma maneira, elas sempre retornam. Retornam e me fazem sentir estúpida por perceber que ainda me doem em certos pontos, e ainda atrapalham o que sou agora. O tempo que eu perdi me assombra, me persegue. Eu deveria estar indo pro último período agora. Eu deveria ter sonhos normais e banais como toda a população. Eu deveria aceitar o ônibus ruim e o asfalto esburacado. Eu deveria me vestir sem pensar. Eu deveria dizer o que sinto a minha família. Eu deveria pôr pra fora o abandono que sinto todo dia, e a sensação de estar sempre prestes a ser deixada pra trás.

Daí o dia começa, e é sempre mais fácil ser aquela que sorri. Aquela que leva tudo na banalidade, e cria problemas idiotas na cabeça, pra deixar os que realmente assombram bem guardados. Ninguém sabe o que me assombra. Ninguém sabe o que me assusta. Ninguém sabe o que se passa na minha cabeça, e eu simplesmente não consigo contar. Quando as pessoas mais próximas não te inspiram a confiança que deveriam, parece ficar sempre meio impossível confiar nas que vem de fora. E mesmo que eu acredite que consigo, sempre fica um sentimento não falado, uma tristeza não compartilhada.

Eu me sinto assim hoje. Me sentia assim a 10 anos atrás. Eu me sentia assim a 15 anos atrás. Acho que sempre me senti assim. Sempre me senti não querida, persona non grata na vida. Todos os meus colegas de escola eram banais e felizes, e eu invejava essa felicidade. Invejava porque desde cedo eu nunca senti. Não fui uma criança feliz, com pensamentos de criança feliz. Eu não conseguia achar que problema era decidir entre brincar de pique pega ou pique esconde. Com 7 anos tudo que eu desejava era que o domingo nunca chegasse, pra não ver minha mãe apanhando e ter que me trancar no quarto até tudo acabar. Com 9 anos tudo que eu desejava era não ser a idiota que não sabia de nada. Com 11 anos tudo que eu desejava era ser comum. Com 13 tudo que eu desejava era que meu padrasto morresse. Com 15 tudo eu que desejava era ir embora de casa. Com 17 tudo que eu desejava era minha velha vida de volta. Com 18 tudo que eu desejava era que minha mãe não odiasse meu namorado. Com 19 tudo que eu desejava era que minha vó não morresse.

Agora tenho 20 anos. Pela primeira na vida eu consigo acordar e sorrir. Eu consigo acordar e agradecer pelas mudanças. Porque pela primeira vez na vida eu tive coragem de não me acomodar. Pela primeira vez na vida eu falei o que pensava, eu fiz o que queria. Eu deveria estar agora dormindo e sonhando com as coisas boas que tem acontecido.

Mas não, estou aqui. Estou aqui e coloquei as coisas boas num pacote em cima da estante, eu tirei elas da cabeça por meia hora, pra pensar nessas coisas ruins, nesses fantasmas. Eu peguei as coisas boas e deixei elas pra amanhã, e eu não fazia isso a meses.

Não gosto de parar pra pensar. A ignorância é uma benção. Eu queria sim ser comum, ser normal. Estar agora vendo tudo cor de rosa e levando as coisas. Mas eu estou condenada a esse mar de braços, puxando minhas pernas pra baixo e insistindo em tirar minha cabeça do mundo da lua. Eu estou fadada ao retorno.

Minha mãe diz que estou fadada ao fracasso. Ela não sabe o quanto me magoa quando diz isso. Ela não sabe e eu não digo. Porque se eu falar, ela vai me dizer que diz isso da boca pra fora. Mas ela não entende que o que é dito da boca pra fora também machuca, também ofende.

No final eu acredito que estou fadada a algo menos pesado que o fracasso. E tento acreditar não estar assim tão condenada. Mas é difícil, tão difícil. Quando tudo parece perfeito, sempre tem um alfinete pra espetar o pé.


Talvez esse seja o mau de andar descalça.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

tic tac

A hora do blog está louca e eu não sei consertar. São na verdade uma e vinte e três da manhã, já é segunda feira e eu vou dormir.

Quando acordar essa criatividade louca vai ter passado, e eu vou voltar ao normal, deixando tudo com um pouco menos de sal.

Talvez me falte tempero de vez em quando. Talvez falte ousadia, mas eu tenho um problema sério: Eu preciso de empurrões pra colocar a loucura pra fora.

Senão vou acabar como a água.

Insípida. Inodora. Incolor com o tempo.
E vai chegar, parar, olhar. Vai chegar sem falar nada e tomá-la nos braços. Vai tomar. Beber do corpo como fosse fonte no deserto. Sedento, insaciável. Vai esvaziar, até a última gota. Vai também ficar vazio, pois ela vai beber tão vorazmente quanto. Vão trocar então, e fica assim.

E eles vão e vão, sem fim. E o vão existente entre tais pessoas será agora invisível. O desejo sera palpável e vai pairar denso pelo ar. E ficarão febris, tomados pela vontade incondicional que os cerca. E as mãos passearão. E as unhas cravadas vão provocar marcas, caminhos por elas percorridos. E as pernas presas, impedindo qualquer movimento de libertação, vão tornar o vão ainda mais invisível.

E qualquer parte será sensível ao toque. E cada centímetro descoberto provocará espasmos incontroláveis. Os pensamentos vão sair pelos ouvidos, enquanto entram gemidos. Inertes permanecerão, ao fim. E o fim vai parecer eterno por alguns instantes.

E vai chegar, parar, olhar. Vai ficar olhando e imaginando como seria. Vai sorrir e passar, como passam os amantes por seus amores não concretizados.

Ficar louco é se desprender

Ficar louco é se desprender. Você está no meio da rua, um sol de 40 graus, uma multidão de gente suada e tensa esbarrando em você, que tenta ignorar com a música aos berros nos ouvidos. Você vai andando devagar, enquanto a velocidade ao redor tenta inutilmente te levar. A vontade de gritar cresce por dentro. Mas você não grita, você engole o ódio, porque sabe que gritar seria loucura.

Ficar louco é se desprender. Você está no shopping num dia de domingo. As pessoas passam olhando as vitrines que mostram a última moda. Você está feliz, é domingo, o dia vai embora do lado de fora enquanto desperdiça suas preciosas horas olhando vitrines com coisas que você não vai comprar. É domingo e você sente vontade de parar e dançar, ali mesmo, no meio da praça de alimentação. Mas você não dança, porque sabe que dançar seria loucura.

Ficar louco é se desprender. Você está na aula, inquieto. A professora velha e feia fala as palavras como quem vomita após uma boa bebedeira: Involuntariamente. Ela repete a mesma aula massante a anos, e não se importa nem um pouco com a sua falta de interesse. Você cochila, e quando acorda ela fala olhando nos seus olhos. Aquelas palavras já não dizem nada, pois seu estado de letargia é tamanho que mesmo uma história infantil pareceria o mais complicado dos assuntos. Você sente vontade de estrangular a professora, pra que ela perceba ao menos que ainda está viva. Mas você não estrangula, pois além de loucura seria crime.

Ficar louco é se desprender. Você está no supermercado junto com uma porção de donas de casa desocupadas e mal comidas. Elas largam o carrinho em qualquer lugar, impedindo a passagem, e lhe respondem grosseiramente quando pede gentilmente que o retirem. Você está no supermercado e a fila do queijo não anda porque a velhinha na frente ignora o fato de existirem outras pessoas, e não decide se quer meio queijo ou um queijo inteiro. Você está lá e o atendente do açougue te informa que não pode moer a carne que você escolher. Você tem que levar aquela carne moída processada e estranha. Sua real vontade é jogar a bandeja de carne na cara do atendente. Gritar furiosamente enquanto corre derrubando todos os carrinhos no caminho. Se jogar em cima da pilha de cebolas podres que eles vendem ali. Mas você sorri. Você sorri e pensa "lugar de ser feliz não é supermercado". Porque ter qualquer outra atitude furiosa seria loucura, e você não quer que pensem que é louco.

Ficar louco é se desprender. E ninguém se desprende. O cidadão comum demora muito hoje em dia pra entrar em colapso. Melhor, ele entra. Ele entra e guarda tudo por dentro. Ninguém coloca nada pra fora e essa é a real loucura. Ficar louco é se desprender, e se desprendendo se fica em paz. Se você não liga pro exterior, ele não te faz mal, não afeta.

Mas ninguém quer ficar louco.
As vezes eu não acredito na minha inteligência e capacidade. Nesses dias, acho todo mundo mais inteligente e capaz que eu, e por vezes acredito mesmo que eu não vá dar em nada.

Eu paro e analiso, e coloco tudo que vem de mim pra baixo. Julgo meus textos um grande bolo de merda. Julgo meus pensamentos idiotas e infantis. Julgo minhas atitudes um lixo, e penso que não me esforço o suficiente, que não acredito o suficiente.

É ruim e difícil viver assim. É ruim e eu não aguento mais, por isso eu não vou mais fazer. Eu cansei. Cansei de me olhar e enxergar uma pessoa burra e vazia, uma pessoa que na verdade não existe. Eu não sou burra. Eu não sou vazia. Não é falta de humildade acreditar em si mesmo, e eu não entendo porque isso nunca entra na minha cabeça.

A grande diferença mora em saber dividir o "acreditar em si mesmo" do "se achar melhor que os outros". E foi isso que eu não soube fazer durante muito tempo. Ou eu me achava a pior merda ambulante da face da terra, ou me achava o último ser humano inteligente. Besteira, não sou uma coisa nem outra. Sou uma mulher com defeitos e virtudes, como qualquer uma. Sei mais sobre alguns assuntos, sei pouco sobre outros e sobre terceiros não sei nada. Tenho 20 anos e um mundo pela frente. Existem pessoas infinitamente mais cultas do que eu, e outras infelizmente bem menos. Sobre as mais cultas, desejo a chance do convívio e do aprendizado. Pras menos desejo sinceramente que tenham oportunidade de ir além.

Estava mesmo muito desacreditada até alguns meses atrás. Chegar a 130 quilos, fazendo uma faculdade que eu odiava e namorando um cara que era um merda definitivamente não podia ter feito bem a minha cabeça. Por sorte sempre existirão: atitude, dieta, mãe, espelho, amigos, bebida, o sol, o céu e o mar. Pra tudo existe solução e tudo tem volta, menos a morte. Eu estava desacreditada porque me deixei desacreditar, e isso reflete na minha vida até hoje. Aliás, reflete não. Ecoa. O eco vai ficando cada vez mais fraco e cada vez mais esporadicamente eu me sinto mal.

Talvez lendo o início do texto, eu dê a entender que esse é um dos já raros dias em que me sinto um lixo. Mas não, não é. Hoje eu escrevo isso tudo por estar acreditando plenamente em mim. Das coisas que tenho feito, nenhuma deu errado. Eu tenho um profissional reconhecido da área que quero seguir que acredita em mim e no meu potencial. Eu tenho um curso a fazer, para o qual fui selecionada por mérito próprio. Eu tenho planos, metas, sonhos. Eu tenho e eu estou seguindo.

Eu andei, e as vezes nem acredito.

I want to love you MADLY.

"when i kiss your lips
i want to sink down
to the bottom of the sea

i want to love you madly
i want to love you now (yeah)
i want to love you madly (wait)
i want to love you, love you, love you madly"
Love you madly - Cake

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hoje passei o dia como se tivesse uma mão em cima da minha cabeça, empurrando ela pra baixo. Sinto a sensação do sono, mas não tenho sono. Eu deito e não consigo dormir. Sinto um peso nas minhas costas, como se estivesse carregando uma mochila cheia de pedras. Mas não carrego nada.

Talvez os acontecimentos do dia tenham me abatido um pouco, não sei. Talvez eu sinta que algo vem, algo imprevisível, algo fora de controle. E se ela realmente morresse? E se ela não vai, seria capaz de colocar isso na minha cabeça por puro drama? Seria ela capaz de tamanha crueldade comigo? A madrinha é meio perturbada, mas não acredito que seria capaz.

Daqui a 14 dias faz um ano que a minha vó morreu. Um ano sem ligações durante todo o dia, sem passeios ao brechó, sem ir a casa dela só pra não vir pra casa. Um ano sem brigas, sem histórias, sem ter a quem perguntar sobre laquê e costura. Um ano sem ninguém ver meus bordados e tricôs com olhos de aprovação. Um ano sem sair do quarto e ver ela deitada na cama, na copa, dormindo. Um ano sem a moça que tomava conta dela, e que me ensinava a fazer enfeites nas unhas. Um ano que passou voando.

Um dia depois faz um ano que ela foi enterrada. E um ano que meu primo nasceu. Engraçado pensar que toda vez que eu olhar pra ele, no aniversário dele, vou lembrar que ela morreu. Morreu sem ver o neto que ela mais queria. Morreu sem olhar pro sorriso largo e fácil que ele dá, pro cabelo engraçado que ele tem.

A morte é só mais uma fase, e eu sei. É o fim, porque eu não acredito mais em nada depois. Eu acredito em hoje, em amanhã, mas não no depois. E sendo assim, as pessoas foram embora pra sempre. Talvez fosse mais reconfortante acreditar que eu encontraria elas de novo um dia, mas eu não consigo. Eles foram embora, e nada muda isso. Eu aceito, eu entendo. Mas aceitar e entender não torna menos doloroso.

Morte. Serve pra dar mais valor as pessoas. De preferência enquanto elas ainda estão aqui.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mau humor.

Hoje eu acordei de mau humor. E meu irmão me irrita. E minha mãe me irrita. E a casa me irrita. E o tempo me irrita. E o celular me irrita. E os remédios me irritam, eu odeio tomar remédios. E a dor de cabeça me irrita. E os barulhos, e a televisão berrando, e meu padrasto surdo. Hoje eu acordei de mau humor e tudo que eu quero é fechar os olhos e acordar num campo florido, num dia de sol, com um vestido rodado e os pés descalços. Tudo que eu quero é deitar na grama e não me importar com as formigas mordendo minhas pernas.

Sem ter meu dia colorido, me contento com cigarros e uso o restinho de paciência contida em mim pra não levantar, pegar minha bolsa e sair.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

"...e o passado é uma roupa que não nos serve mais"

Hoje parei pra ler e-mails antigos. É engraçado como o passado é realmente uma roupa que não nos serve mais. É como quando eu tinha uns 12 anos e cresci muito rápido: A maioria das minhas calças ficava pescando. A sensação de andar com calças curtas era extremamente desagradável. Assim são certas coisas que passaram.

Entre e-mails deletados e algumas risadas, achei as mensagens da editora da Capricho, e lembrei de quando fui selecionada pra participar da equipe de meninas que publicavam textos no site e na revista. Eu concorri, mandei meu texto, esperei desesperançosa o resultado. Mas eu estava lá entre as selecionadas quando ele saiu. Eu estava lá, pra todo mundo ver, e fiquei bolando mil coisas, pensando em como seria legal participar daquilo.

E então os e-mails da editora foram vindo, e eu fui perdendo a coragem. Eu nunca respondi nenhum, nunca segui uma pauta, nunca mandei uma matéria. Eu sei que escrevo melhor do que a maioria das meninas que estavam lá, e que com certeza meus textos iriam parar na revista diversas vezes, e ainda assim eu não escrevi nada.

Muitas vezes eu lia a pauta da semana, escrevia sobre o assunto, fechava o word e deletava o arquivo. Nisso se foi um ano, o "estágio" acabou e eu não tirei nada de bom dele. Eu me gabei por algum tempo de ser selecionada, mas e daí? E daí fazer parte se eu não ia realmente fazer? E aí foi que eu tirei a oportunidade de alguém que provavelmente queria MUITO mais do que eu participar. E aí que eu fui uma idiota de não mandar o que escrevia. E aí que eu percebi que ser escolhida é só o início do processo, e que tudo é muito mais que isso.

Talvez o bom de reler tudo foi ver que mudei. Acho que não sou mais tão idiota hoje em dia. Eu quis por muito tempo conquistar as coisas erradas, e com isso perdi diversas oportunidades. Oportunidades estas que não vão voltar, e que eu nunca vou saber como teriam sido. Mas mesmo assim, coisas que me fizeram crescer, nem que seja pelo fato de não tê-las aproveitado.

O passado é uma roupa que não nos serve mais. E eu vou sempre ser a menina das calças pescando. Mas a sensação desagradável eu deixei pra trás, no momento em que percebi que por mais que o passado exista, ele é apenas uma calça no fundo da gaveta do esquecimento. Amanhã é sempre um novo dia, e começar de novo é como comprar roupas novas: Bem mais agradável do que se lamuriar por não caber mais nas antigas.