quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hoje passei o dia como se tivesse uma mão em cima da minha cabeça, empurrando ela pra baixo. Sinto a sensação do sono, mas não tenho sono. Eu deito e não consigo dormir. Sinto um peso nas minhas costas, como se estivesse carregando uma mochila cheia de pedras. Mas não carrego nada.

Talvez os acontecimentos do dia tenham me abatido um pouco, não sei. Talvez eu sinta que algo vem, algo imprevisível, algo fora de controle. E se ela realmente morresse? E se ela não vai, seria capaz de colocar isso na minha cabeça por puro drama? Seria ela capaz de tamanha crueldade comigo? A madrinha é meio perturbada, mas não acredito que seria capaz.

Daqui a 14 dias faz um ano que a minha vó morreu. Um ano sem ligações durante todo o dia, sem passeios ao brechó, sem ir a casa dela só pra não vir pra casa. Um ano sem brigas, sem histórias, sem ter a quem perguntar sobre laquê e costura. Um ano sem ninguém ver meus bordados e tricôs com olhos de aprovação. Um ano sem sair do quarto e ver ela deitada na cama, na copa, dormindo. Um ano sem a moça que tomava conta dela, e que me ensinava a fazer enfeites nas unhas. Um ano que passou voando.

Um dia depois faz um ano que ela foi enterrada. E um ano que meu primo nasceu. Engraçado pensar que toda vez que eu olhar pra ele, no aniversário dele, vou lembrar que ela morreu. Morreu sem ver o neto que ela mais queria. Morreu sem olhar pro sorriso largo e fácil que ele dá, pro cabelo engraçado que ele tem.

A morte é só mais uma fase, e eu sei. É o fim, porque eu não acredito mais em nada depois. Eu acredito em hoje, em amanhã, mas não no depois. E sendo assim, as pessoas foram embora pra sempre. Talvez fosse mais reconfortante acreditar que eu encontraria elas de novo um dia, mas eu não consigo. Eles foram embora, e nada muda isso. Eu aceito, eu entendo. Mas aceitar e entender não torna menos doloroso.

Morte. Serve pra dar mais valor as pessoas. De preferência enquanto elas ainda estão aqui.

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