Enquanto via o caminho passar, abri a janela e deixei o vento bater. Ele vinha gelado, muito gelado e chegava a doer, chegava a ser difícil respirar. Mas eu deixei, e vim pensando na vida. A música me confortava enquanto a paisagem passava correndo. Eu tentei olhar os prédio, as árvores, mas a velocidade impedia. A cada sinal eu observava o lugar onde estava e as pessoas que nele que se encontravam. Idosos, casais, crianças, toda uma sorte de gente absorta em seus próprios pensamentos. Mergulhadas o suficiente pra não ver mais ninguém ao redor.
Engraçado como vivemos nossas vidas, sempre pro lado de dentro. E a pessoa do meu lado poderia ser alguém que sofre. Alguém com problemas, precisando de um ombro pra chorar. E eu poderia ser esse ombro, mas não: Eu também estava mergulhada demais no meu próprio mundo, o suficiente pra nem lembrar se quem sentou do meu lado era homem ou mulher.
A tecnologia nos afasta. No tempo dos bondes haviam os amigos do bonde, aquelas pessoas que andavam com você todo dia, e com as quais sempre se trocava um "dedinho de prosa". Mesmo com o surgimento dos ônibus, ainda haviam amigos, aqueles que pegavam todo dia no mesmo horário, com o mesmo motorista e trocador. E nisso aconteciam amizades verdadeiras, paqueras, flertes. Acontecia a vida e um afastamento da solidão.
Daí veio o walkman. E o discman. E o ipod (e toda a gama de mp3-players disponíveis no mercado). E agora as pessoas entram nos meios de transporte imersas no seu mundo particular, saem e não falam com ninguém. E agora você pode passar por uma pessoa centenas de vezes na rua sem nem reparar na sua existência, até um dia conhecê-la numa comunidade do orkut, e se espantar ao saber que passam todo dia pelo mesmo lugar.
O mundo moderno é solitário. E ele dá vazão a solidão inerente ao ser humano. Porque de alguma maneira todos nós somos solitários sim, mesmo quem acha que não é. Todo mundo tem um mundo pra dentro e outro pra fora. E os dias de hoje fazem viver cada vez mais pra dentro, ter longas conversas sem abrir a boca, ter vários amigos que você não pode abraçar e chorar junto.
Mas você chora com eles a distância, e se sente bem assim mesmo. Foi comprovado numa pesquisa recente que as amizades pela internet são tão benéficas quanto as reais, e que idosos que fazem parte de redes virtuais vivem mais do que os que não fazem. Isso é bom mas, e daqui a 10 anos? Vai ser o fim do contato físico? Da conversa na mesa de bar? Como disse Jesús Martín-Barbero, é a utopia da internet, de que todos somos iguais e estamos juntos. Não somos e não estamos. Como ele mesmo disse, a internet só nos põe em contato. O contato é bom e nos dá a sensação de não estarmos sozinhos: Na internet só nos juntamos com quem gosta do mesmo que nós, temos assunto. O que muitas vezes não acontece no "mundo real". Nele você tem que aprender a conviver com as diferenças, ser amigo acima dos gostos particulares e criar desenvoltura social.
E algum dia alguém resolveu que isso não era bom.
Não condeno a internet, se não fosse ela eu não estaria aqui agora. Se não fosse ela, eu não conheceria alguns dos meus melhores amigos. Nem meu namorado eu conheceria. Mas ainda assim, acho que o uso desenfreado de coisa alguma é benéfico, muito menos dela. Ser humano e seu maior problema: A falta de limites.
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