segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saudade

Sinto saudade as vezes, de épocas que sei que não vão voltar. Sinto saudade toda vez que o presente não é satisfatório. Minha mente apaga sempre as coisas ruins de determinados momentos, e assim certos fatos se tornam melhores com o tempo. Melhores talvez do que eram quando aconteceram.

Eu entrei num sebo e a gente brincou de se empurrar. Eu joguei ele no chão, ele me puxou também. Ficamos rindo por alguns segundos antes de levantar. Ele comprou um livro sobre mitologia, e eu fiquei olhando as prateleiras. Adoro o cheiro de sebos, o cheiro de livros antigos. Acho que gosto até da poeira, por mais que me faça espirrar e emtupa meu nariz. É de um jeito que eu gosto. É uma forma de reviver lembranças.

A gente andou por entre as ruas por algumas horas. Eu comi um monte de besteiras e dividi um docinho de café. Eu quis morrer com algumas afirmações, mas disfarcei. Sempre fui boa em disfarçar. A gente tomou uma cerveja e era o fim. O fim da linha, do dia, de tudo. Era a lapa, as 5 e pouca da tarde, e essa amizade que eu sempre vou sentir falta.

Virei pra ele num momento do dia e disse "eu disse que um dia a gente não se conheceria mais, e você disse que nunca". Ele me respondeu um "mas como assim?" e riu. Estávamos ali afinal, como então não nos conhecíamos? Respondi: "As pessoas que somos hoje são totalmente diferentes das pessoas que éramos a alguns anos atrás. A gente mudou, nossa vida mudou. Quem está aqui agora são as pessoas que fomos, passeando pelo lugar onde costumávamos passear. Mas na vida de todo dia? A gente não cabe mais".

Me doeu dizer isso. Me doeu assim que saiu, mas é a verdade. Eu sinto saudade, não do relacionamento amoroso, mas da amizade que nunca mais terei igual. Sinto saudade do ouvido, da paciência, dos conselhos. Saudade de ter pra onde ir, pra quem ir, ter motivo pra ficar. De ter a casa da avó dele e aquele quarto pra passar a tarde deitada, ouvindo música e falando sobre a vida. A gente conversava em silêncio até, se entendia no olhar, no choro, no abraço. Se entendia nas brincadeiras, e eu me lembro dele toda vez que caminho pelo centro da cidade. Ninguém nunca vai entender um sentimento assim, porque ninguém nunca teve uma amizade como essa. Ou talvez alguém tenha tido, e tenha a capacidade de compreender, sei lá.

Só sei que sei que nunca mais terei. Nunca é muito tempo, mas essa é a realidade.

Eu sinto saudade. Sei que não há volta. Isso me dói. A melancolia sobre isso é o que me resta. A nostalgia não deveria, mas já me basta.

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