Me sinto tão tensa, tão nervosa, que as vezes parece que minha pele vai soltar da carne, que meu estômago tomou vida própria e vai sair correndo por aí, gritando e pegando fogo. Não aguento mais me sentir assim. Não ligo pra dinheiro, mas a falta dele tem me feito mal. Não é uma falta de dinheiro pra comprar besteira, uma falta de dinheiro pra sair. É falta de dinheiro pra pagar contas, e isso me consome. Eu deveria poder contar com meu pai, mas não posso. Eu não posso porque ele não liga a mínima, e isso me dói mais do que a falta de dinheiro. Eu não posso contar com a minha mãe, porque ela tem ainda menos do que eu. Não posso contar com a sorte, porque acho que sorte é o tipo de coisa que ninguém deve contar. Estou chegando ao ponto de juntar trocados e apostar na mega-sena. Quase fiz isso hoje. Me controlei, porque não gasto dinheiro com esse tipo de coisa.
Eu as vezes deito na cama e fico olhando pro teto, pensando no que vem a seguir. Estou estudando e tentando chegar a algum lugar, mas aonde? Esses últimos anos me destruiram. Todo o mal que eu e meus irmãos passamos ela está passando agora. Não me sinto bem com isso, nem um pouco. Mas cada vez que ela desconta a raiva em mim por motivos idiotas, sinto vontade de dizer tudo que está engasgado. Sinto vontade de dizer que a culpa é toda dela e que se eu tivesse o mínimo de amor próprio não ajudaria em nada. Porque eu tento ajudar, de todas as maneiras. Eu dou tudo que tenho, mas nunca é suficiente. Com 21 anos eu sei o que é levantar e agir por conta própria, o que é assumir riscos e erros e seguir em frente. Mas, infelizmente, vivemos em um mundo em que o jovem supostamente sabe menos que os mais velhos. Como se idade fosse sinônimo de sabedoria, e não é. Enquanto uns ficam se lamuriando e outros ignoram eu fico aqui, no olho do furacão, tentando entender, tentando colaborar.
Eu deveria ignorar, pois isso me pouparia um bocado de estresse. Me pouparia um bocado de dinheiro e de preocupação. Eu não sei mais o que fazer, não tenho com quem falar, não sei pra onde ir. Eu estou perdida, e não quanto a minha vida. Estou perdida em questões pelas quais eu não deveria passar. Perdida em questões que nunca vivi. Fico imaginando se eu não tivesse trancado a faculdade, o tamanho da dívida que teria agora, infinitamente maior do que a que já tenho.
Eu ainda vou me ferrar mais nessa história, prevejo.
Mas é como dizem: A esperança é a última que morre.
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