quinta-feira, 25 de março de 2010
Sobre o Coração
Nem tudo é festa e meu coração é inquieto. Quando chega em casa ele quer colocar pra fora tudo que sente, mas de repente a inércia toma conta e ele fica batendo quieto no seu canto. Ele meio que acostuma, como se aquele momento de retorno ao lar fosse durar pra sempre. No fundo ele sabe que não, e que esses momentos são na verdade cada vez mais corridos, mas mesmo assim relaxa e não fala nada, e começa a pensar em tudo que tem pra fazer fora de casa. Quando finalmente chega a hora de ir embora, aí sim o coração percebe: Não aproveitou o tempo que tinha e agora custa a chegar a próxima vez. Agora ele vai ficar murcho, desacelerado, esperando ansioso o tempo de voltar. Aí o coração de repente dispara e mete os pés pelas mãos, tentando mandar pra minha boca tudo que tinha deixado quieto. Aí eu disparo, também não consigo falar, e essa sopa de letrinhas volta, querendo ser digerida.
Meu coração não sabe o que faz, sei que não. Ele fica se sentindo perdido durante todo o tempo, menos quando se sente em casa. Em casa ele finalmente relaxa, mesmo que eu mesma não consiga relaxar. Mas de que importa afinal se eu não relaxo? Enquanto meu coração se sentir voltando pra casa cada vez que vai te encontrar, eu estarei feliz de alguma maneira. Eu estarei segura, finalmente. Eu finalmente não me sentirei sozinha.
Pro silêncio e pra uma garrafa de coca cola só minha, que eu não tenha que medir quanto bebo. E pra uma sala só minha, que eu possa ligar a tv e assistir alguma coisa ininterruptamente, no volume que quiser. E pra um banheiro só meu, que eu lave e dure limpo a semana toda. E pra uma cozinha só minha, onde eu cozinhe e coma e beba o que eu quiser. E praquela solidão com cara de domingo chuvoso que bate de vez em quando. Pra uma cama enorme e gorda onde eu possa dormir até cansar, sem ninguém pra me acordar.
Eu vivo a mais chata das solidões. A solidão impossibilitada.
o cansaço vale a paz
Não, eu não dormi em nenhum banco de praça. Ainda.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Paixão intelectual. É fervorosa, é platônica, é intensa demais pra minha cabeça. E é puramente isso: Admiração pelo intelecto de certas pessoas. Sem nenhuma pretensão a mais, além de impressionar e me sentir impressionada. De me sentir meio estarrecida e idiota na frente, sem coragem de abrir a boca. É como gostar de alguém na quarta série: você sente as bochechas ficando vermelhas, e você sabe que quer alguma coisa, mas não sabe bem o que é. Eu me sinto assim, mas eu sei e é somente aquilo que disse.
Como agir então? Ficar calada no canto deixando tudo nesse platonismo sem fim? Abrir a boca e correr o risco de falar besteira?
É, eu não sei. Super quarta série.
Mais um dia
Tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. Chego em casa meio exausta de zanzar pela cidade, mas a paz de não conviver com estresse e gritaria compensa. Compensa muito.
segunda-feira, 22 de março de 2010
"Vida simples, pensamento elevado"
Viver de maneira simples demanda um esforço enorme quando se tem condições de não viver dessa maneira. Quem não tem dinheiro quer sempre mais, e quem tem não quer abrir mão. Investir em certas coisas, como estudo, não faz de ninguém menos simples. Mas a partir do momento que se gasta o dinheiro em coisas desnecessárias, a pessoa se deixa levar por um mar de ilusões. Daí escutamos frases como "eu preciso daquele sapato", "não vivo sem maquiagens dessa marca" e assim por diante. Mas você não precisa do sapato e viveria muito bem sem maquiagem alguma. Você viveria muito bem tendo apenas um lugar pra se abrigar da chuva e do sol e a comida necessária pra se manter vivo.
Existe uma outra frase que diz que levamos da vida a vida que levamos. É por aí mesmo que acredito que tudo funcione. No dia em que eu morrer quero que as pessoas lembrem da pessoa que eu fui, e não das coisas que possuí. Quero ser lembrada pelas minhas ações e só.
O que se pensa vai melhorando gradativamente, de acordo com a vida que se leva. Deixando pra trás os desejos mundanos e os impulsos que a sociedade nos causa, nos tornamos naturalmente pessoas melhores. Longe de mim achar que sou uma pessoa maravilhosa. Eu ainda estou aprendendo a não ceder. Me considero sim uma boa pessoa, mas muito longe ainda da pessoa que posso ser. Muito longe ainda de conseguir não julgar nada e nem ninguém, mas acreditando que chegar nesse ponto é possível.
E acreditando nisso parto pra minha terça feira, com muito amor no coração, com paciência, calma e fé. E que seja o que tiver que ser!
\o/
segunda-feira, 15 de março de 2010
Amar não é ter que ter
Sempre certeza
É aceitar que ninguém
É perfeito prá ninguém
É poder ser você mesmo
E não precisar fingir
É tentar esquecer
E não conseguir fugir
Já pensei em te largar
Já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém
É por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito
Mas com você eu posso ser
Até eu mesmo
Que você vai entender
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Essa é uma música muito, muito boba. De uma banda muito, muito boba. Mas não sei, ela me diz muito. Porque é assim que me sinto, exatamente assim. Um mundo enorme e cheio de gente está se abrindo a minha frente. Um mundo cheio de coisas novas, situações, lugares. Um mundo do qual tenho medo de fazer parte, porque parece sempre coisa demais pro meu entendimento. E eu sempre fui meio vulnerável, e tenho medo de ser de novo e me deixar tentar pelas possibilidades desse novo mundo. Aliás, desses novos mundos.
Daí me bate um medo gigantesco de que, de repente, a gente não faça mais sentido. De que meu mundo fique grande demais e eu não consiga te levar junto. Porque eu quero que você faça parte dele. Não que faça parte como uma pessoa a mais dentro de tudo, mas sim como a pessoa que está ao meu lado. A pessoa importante dentro de qualquer realidade. E o medo cresce e me consome, e eu fico tentando encontrar sinais de que você vai me deixar. De que você pensa que não vai caber nessa quantidade de mundo, e que por isso não tem que fazer parte. Eu fico tentando encontrar sinais de que não faz mais sentido, de que eu devo deixar você antes que você me deixe.
E aí o medo começa a se tornar ainda mais assombroso. Começa a estar comigo toda vez que te vejo, me faz perder o sorriso e a empolgação do resto do tempo. Não porque não seja bom estar contigo, pelo contrário. É só porque é o medo que está agindo e falando, não eu. É como se houvesse um bloqueio enorme na minha entrega, me impedindo de sentir qualquer conexão. Eu só sinto o medo tomando conta.
Talvez isso esteja acontecendo porque é tudo muito recente. Tem duas semanas que minhas aulas começaram, e nessas duas semanas eu já conheci um monte de gente, fiz um monte de coisas. Eu já li e estudei coisas diferentes, eu já falei, já andei. Parece que fazem meses que estou nesse ritmo, e são só duas semanas. Até me assusto de perceber que é tão pouco tempo. O problema também é que outras coisas coincidiram com o começo das aulas: você não dormir mais aqui nos finais de semana, por exemplo. Com isso, parece que existe uma vida antes e outra depois, e é estranho pra mim tentar entender e conseguir assimilar tudo de uma vez.
Enfim, é tudo produto do medo. Não é falta de confiança, não é falta de certeza. Não é que eu não acredite que você me ama, nem que eu acredite que não te amo. Está além de amor, porque sentimento não é tudo na vida. As vezes a gente ama e simplesmente não consegue, a vida simplesmente não permite. Amor é escolha, e as vezes a gente tem que escolher seguir outro caminho. E eu não quero que a gente se encaixe nisso, não quero seguir outro caminho que não seja com você.
Acho que lendo isso tudo você vai conseguir entender porque chorei no sábado a noite. E vai entender que era mesmo um monte de coisas sem explicação. Coisas que eu não conseguiria explicar, e que não são reclamações. Não são dúvidas também, nem problema nenhum. É só isso mesmo que eu já disse: O medo de que de repente a gente não faça mais sentido. Tem uma cena no Brilho eterno que o Joel fala assim: Are we like couples you see in restaurants? Are we the dining dead?. Tá, não faz sentido assim solta (hahahaha), mas acho que você viu o filme e deve lembrar. Eu não quero ser com você como todos esses casais que se vê por aí, em que duas pessoas sentam, comem, vão ao cinema, dormem juntas e na realidade não estão ali. Como dois zumbis, juntos apenas por circunstância e comodismo. Eu não quero esse tipo de infelicidade nem pra mim e nem pra você. Somos legais demais pra ter esse tipo de relacionamento.
Já escrevi demais e paro por aqui. O resumo de tudo pra mim é o que diz a frase da música: Mas quando penso em alguém, é por você que fecho os olhos. Por que entre todos os mundos, pessoas e lugares, é por você, e sempre por você, que fecho os olhos. Você despertou em mim o desejo de ser uma pessoa melhor. Acho que já disse isso, mas repito: Eu quero crescer por mim, quero ser uma pessoa realizada. Se a gente terminasse eu continuaria seguindo e crescendo, sei que sim, mas hoje eu quero ser melhor por nós. Eu quero crescer por nós e pelo futuro. Porque eu acredito num futuro lindo do teu lado.
=)
Eu apenas queria que você soubesse...
Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira
Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho
Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também
E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé
---
Lindo. Lindimais.
terça-feira, 9 de março de 2010
Pensamentos da segunda-feira
Uma vez aberta a mente, a tendência é um crescimento gradual e vagarosamente bom. Cada dia é uma descoberta pra quem quer sentir. Cada passo na rua, o sol batendo no rosto, os livros, as músicas. As coisas começam a ganhar cores novas e texturas diferentes. Não que elas não existissem antes, ou que tenhamos nos tornado melhores do que as outras pessoas a ponto de enxergá-las. Não, ninguém é melhor do que ninguém. É só que a maioria não está disposta a perceber o mundo além do próprio umbigo.
Dá uma sensação gostosa no peito sair pela rua sorrindo pra quem passa. Dá a sensação de fazer parte, de ser parte de todas as pessoas e deixar que todas sejam parte de nós. Aqueles poucos segundos em que os olhares se cruzam podem se tornar algo grandioso por dentro. Aliás, tudo pode se tornar algo grandioso, basta que a gente permita. As vezes um "bom dia" ou um "obrigada" fazem uma enorme diferença na vida das pessoas, e essa diferença contagia, dando uma paz sem tamanho.
Acho que talvez esse seja o maravilhamento que a religião causa nas pessoas. A sensação que a beleza do mundo proporciona pra quem tem fé. A sensação de amor, de esperança, a vontade de continuar. Eu me sinto ainda mais feliz por não precisar dar um nome a essa sensação, não precisar seguir alguém ou algum Deus por causa dela, e por não me sentir obrigada a nada para ou por sentí-la. A minha fé vem de dentro, não de fora. Ela não mora em lugar nenhum senão em mim mesma, e cresce cada vez que me supero. Porque o que eu sinto é, acima de tudo, uma crença enorme em mim e na minha capacidade de vencer os desafios. Desafios estes que eu mesma me imponho, porque eu construo os meus degraus e neles vou subindo.
Lógico que existem fases em que minha fé fica em baixa. Qualquer fé é abalada de vez em quando, e creio serem os abalos necessários: Quando a tempestade passa, ocorre a renovação, a reafirmação da nossa fé. As tempestades fazem com que ela cresça e se fortifique.
Minha vida sem fé se tornaria muito, muito vazia. Não porque eu tenha a necessidade de acreditar em alguma coisa. É só porque eu, assim como todos os seres humanos, tenho a necessidade de acreditar em mim. Ter fé em si mesmo é primordial.
Enfim, termino por aqui meu momento de iluminação do dia (hauahauah). Super influenciada pelo dia de sol e brisa que fez hoje, pelo livrinho momentos a sós e pelo Bhagavad Gîtâ que ganhei de presente.
E que venha a terça feira e com ela mais bons momentos \o/
segunda-feira, 8 de março de 2010
É como se eu estivesse todo dia me preparando pro dia em que poderei relaxar. E então eu estudo feito uma louca, querendo ser uma esponja gigantesca que absorve tudo. E com isso acabo perdendo certas coisas, e isso é muitomuitomuuuito ruim.
A felicidade mora na simplicidade, eu tenho certeza disso. Essa é a coisa em que mais acredito, a simplicidade como meio mais rápido pra felicidade. Mas mesmo pra ser simples existem esforços pelo caminho. Eu tenho atitudes, sonhos e pensamentos simples, mas pra alcança-los é preciso esforço. É o esforço que nos faz dar valor a simplicidade no final.
No mais, eu não quero que o meu "final" seja daqui a trocentos anos. Eu quero que esse final seja o mais próximo possível, para então dar início a um novo ciclo na vida. Porque eu acredito também que não vale a pena sofrer esperando que tudo um dia seja melhor. É melhor acreditar na melhora e ser feliz pelo caminho.
Eu hoje não sou mais triste, absolutamente. Eu sou feliz por saber que meus próprios pés me guiam. Eu sou feliz por saber que caminho pra frente. Eu deixei todas as preocupações e lamentações do passado pra trás. Eu substitui as preocupações por outras mais concretas, mais plausíveis.
É como diz a frase, faz-se o caminho ao caminhar. Eu vou então fazendo o meu, lutando por paz, lutando por mim e pelas coisas que quero e acredito. Ninguém disse que ia ser fácil, e eu nunca pensei mesmo que fosse. Vai ver pensar assim já é o começo. Assim espero.
sábado, 6 de março de 2010
"Um estranho nos deixa mais à vontade porque não nos cobra de ser quem já fomos, não exige coerência. Quando um amigo ou um familiar se aproxima, há um natural pedido por coerência, um chamado por nossas identidades condicionadas. Caso isso não aconteça, ocorre uma perturbação: “Você está estranho! Sempre falante, hoje calado. Espero que amanhã você volte ao normal”." - (in Não2não1, "Os motéis invisíveis de São Paulo")
Eu sou a pessoa chata que exige a suposta "normalidade". Mas em certos casos sou também aquela da qual a normalidade é exigida. Acho que todos nós nos identificamos com os dois lados, se pararmos pra pensar. A coisa toda não é nem essa. Fiquei pensando mesmo na coisa dos estranhos. Não é mesmo estranha a capacidade de se abrir pra um estranho? De se desprender de toda a carga de, como diz o texto, coerência que nos é exigida quando estamos com quem conhecemos?
Acho que é isso que torna os relacionamentos mais leves no início: O outro ainda não tem uma imagem formada de nós, o que nos possibilita ser qualquer coisa. O frio na barriga vem do fato de que, em um relacionamento, sempre haverá (espera-se..rs..) o amanhã, e ficamos nervosos de continuar impressionando. E então o que faremos? Com o tempo nossa personalidade vai se desdobrando, e o nervoso de não impressionar acaba. Aí surge o período de estagnação: Conhecendo a fundo a parte superficial daquele que está conosco, acreditamos o conhecer bem, e bem o suficiente pra começar a (mesmo sem perceber) exigir que a pessoa seja sempre igual àquela que conhecemos. Mas aquela que conhecemos é só uma parte, porque todos nós somos um mundo inteiro.
Sendo assim, a maioria dos relacionamentos acaba fadado ao fracasso. Mantendo nossa mente em uma única imagem da pessoa, nos fechamos pras possibilidades que ela pode nos oferecer. Acho que é isso o que faz com que algumas pessoas mostrem espanto por descobrir teeempos depois algo sobre o parceiro, algo que ela nem sonhava existir. E aquilo esteve ali o tempo todo, mas ela não se deu a chance de conhecer.
Se tentássemos ao menos um pouco manter na cabeça que sempre há algo novo a se conhecer nas pessoas, então nossa capacidade de se apaixonar pela mesma pessoa várias vezes aumentaria absurdamente. Seríamos capazes de encontrar uma característica nova a cada dia pra gostar, evitando assim a estagnação. Evitando assim que quem esteja conosco precise de desconhecidos pra se sentir confortável.
Será que vem daí as traições? Dessa incapacidade de aceitar a inconstância humana como algo bom? Não sei. Não sei e não me arrisco a ir tão fundo. Só sei que de agora em diante farei um esforço pra aceitar as pessoas como são. Não num sentido quarta série-cor-de-rosa de ver o mundo, mas de um jeito mais amplo.
Quem sabe assim eu encontro a capacidade de me abrir e me entregar por completo, de entregar cada pequeno desdobramento da minha alma? Quem sabe assim eu não desperto nele a capacidade de fazer o mesmo?
sexta-feira, 5 de março de 2010
Por não saber que era impossível, foi lá e fez
quinta-feira, 4 de março de 2010
Interior x Exterior
- Quanto a auto-imagem: Eu tenho uma pequena distorção de auto-imagem. Quando me olho no espelho, vejo uma pessoa normal. Meio gordinha, mas nada tipo obesidade mórbida. Acho meu rosto bonito, enfim, me sinto bem. Mas toda vez que estou andando em um lugar cheio de meninas baixinhas e magras (desde sempre na minha vida é esse o perfil que me incomoda), eu de repente me sinto obesa e feia. Me sinto estranha, desengonçada, antipática e indesejável. É uma sensação que chega a sufocar. Qual a minha reação a isso? Eu visto roupas estranhas ou chamativas, como se ser diferente fosse uma forma de me sentir melhor em relação a normalidade que supostamente não tenho. Isso me leva ao meu segundo ponto.
- Quanto a indumentária: Minha roupa favorita dos últimos meses é: chinelo, calça jeans e uma regata cor-de-burro-quando-foge (a primeira camiseta que usei em anos). Quando quero parecer mais arrumadinha, coloco uns brincos ou colares. Enfim, é uma roupa básica e até comum. Eu me sinto confortável e feliz de sair com ela na rua, mas como eu disse acima, toda vez que me sinto mal ou "ameaçada", coloco a roupa mais estranha que tiver no armário. E sabe porque? Porque pelo menos assim se alguém olhar pra mim não vou pensar "Estão me olhando porque sou feia" ou "Estão me olhando porque sou gorda". Isso cria todo um processo de auto-sabotagem, em que me sinto péssima de sair com uma roupa que não tem (e hoje vejo que nunca teve) porra nenhuma a ver comigo, mas ainda assim levanto a cabeça e sigo em frente. Isso tudo me leva ao meu terceiro ponto.
- Quanto a fazer parte do todo: Eu gosto da massa. Gosto das roupas e acessórios e músicas da massa. Gosto de muitas coisas que não fazem parte da massa também, mas sei que isso não precisa se refletir no meu modo de agir ou me vestir. Não é porque gosto de Matanza, por exemplo, que vou estraçalhar a cabeça de ninguém (o próprio vocalista da banda, canta músicas hilárias sobre bebedeiras e não bebe bebida alcoolica). Eu me sinto mais feliz vestindo a minha calça com chinelo e camiseta porque uma vez sendo básica, a personalidade se sobressai. Eu deixo de me preocupar com o que estão pensando da minha aparência, e isso faz com que qualquer atitude seja apenas mais uma atitude. Eu me sinto melhor pra falar, andar, conversar, e pra qualquer coisa, quando estou vestida assim. Isso me leva de volta ao primeiro ponto.
- Quanto a auto-imagem II: Se sei que andar com roupas esquisitas vai me fazer sentir pior, porque eu ando? Aliás, porque eu deixo a imagem de pessoas que eu nem sequer conheço afetarem o julgamento que faço de mim mesma? Porque eu faço com que o todo me oprima, quando não tenho nada que me exclua dele? Não é o todo que me oprime, eu me oprimo e culpo o todo. Porque é mais fácil sentar no canto e não arriscar um bom dia pra pessoa do lado. Porque é mais fácil colocar os fones no ouvido e ficar desenhando. Hoje eu estava fazendo isso quando uma menina falou comigo. Ela virou e disse "caraca, parabéns, você manda muito no desenho". Eu tirei o fone e pedi pra ela repetir, então sorri, agradeci e os coloquei de volta. Eu achei happiness is a warm gun mais importante do que um ser humano. Sim, essa música é mesmo muito mais importante do que muitos seres humanos, mas não do que aquela menina naquele momento. Porque ela deu a chance, e eu preferi me manter na bolha. Isso me leva ao próximo ponto.
- Quanto ao medo: Ele, sempre ele. Eu me lembro da escola, que na primeira semana de aula eu achava que ficaria sozinha até o final do ano e conseguiria manter minha aura de mistério e excentricidade. E então um mês depois eu falava com a turma toda. Três meses depois eu me arrependia amargamente, e sonhava voltar ao anonimato. A escolha de ficar sozinha foi sempre minha, e ela só mudou quando conheci pessoas que ignoraram completamente o meu afastamento. Elas continuaram lá, me perturbando, falando comigo, fazendo piadas e rindo das minhas. São meus amigos até hoje e deles não me arrependo. Mas no geral eu ignoro as pessoas. Eu as ignoro e as culpo ao mesmo tempo, como se eu não fosse boa o suficiente. No final tudo que coloco no caminho são desculpas pro meu medo de ficar sozinha. Como se ser feia, gorda ou ter os joelhos tortos fosse motivo pra não fazer novos amigos. Eu nem sou isso tudo, e mesmo que fosse, não seria motivo. Quando somos legais, a nossa personalidade se destaca muito mais do que qualquer possível defeito físico. Se diminuir nunca levou ninguém a lugar nenhum, essa é a maior verdade.
- Quanto a possível solução da minha insanidade: Olhando tudo que pensei nas minhas longas horas pela rua, sei bem as soluções pra todos os meus problemas. Bastava eu ser na faculdade a mesma pessoa que sou com meus amigos. Bastava conforto na minha própria pele. Bastava eu não pensar esse monte de merda sobre mim, eu desencanar, ligar o foda-se, seguir em frente. O problema é que toda vez que começo, sempre ouço vozes no caminho, e acabo desviando. Quando vejo, estou perdida entre maquiagens pretas, roupas pretas, sapatos pretos, cara fechada e mp3 player no último volume. Isso assusta as pessoas. Eu mesma, se me visse pelos corredores da faculdade, não sentiria nenhum encanto. Eu sentiria medo. Isso me leva a mais um ponto.
- Quanto ao que realmente penso sobre certas coisas: Eu defendo gente esquisita e costumes estranhos com unhas e dentes, como se eu fizesse parte de um bolo de pessoas estranhas e discriminadas, que merecem atenção e respeito. Mas eu não faço. Eu não faço e na verdade nem curto certas coisas. Eu não curto atitudes riot e não curto nada forçado. Nem todo mundo que é diferente do comum é legal e merece respeito. Assim como nem todo mundo que é comum discrimina. Generalização é a maior forma de burrice. Sabendo disso, porque eu insisto? Os diferentes (leia-se estranhos) não são meus iguais. Na verdade não são nem parecidos. A verdade verdadeira é que quando vejo duas pessoas do mesmo sexo se beijando eu me esforço pra desviar o olhar, tenho nojinho de bicha afetada e acho escroto gente que altera o corpo todo só pra aparecer. A verdade verdadeira é que eu não acredito que exista algum prazer em aparecer e chocar tanto, e acho que vale mais a pena chocar sendo legal com os outros, chocar sendo ético, sendo correto. A verdade verdadeira é que acho 90% dessas coisas uma grande palhaçada, e eu não vejo graça nenhuma em um cara parecer um leão marinho. Ele pode até ser feliz parecendo um leão marinho, mas eu só consigo pensar que putaquepariuquecaraperturbado! Porque RAIOS alguém ia querer parecer um leão marinho, se excluir da sociedade (sim, ela é uma merda, mas sempre há quem preste) e perder sua identidade? Sim, porque tamanha mudança acaba definindo nossa identidade, é óbvio. Paro por aqui e parto para o último ponto.
- Quanto a confusão que sou eu: Ao longo da vida escolhi o parecer ao ser, sempre. Eu criei uma imagem de mim que nunca fui eu. Eu sequestrei a verdadeira eu e escondi bem no fundo. Com isso hoje em dia vivo a disputa entre a verdadeira eu e a eu que eu criei. Parece estranho, mas é real pra mim. A verdadeira gosta de cores e hippies e flores e sorrisos e dias de sol. A que eu criei gosta de ficar triste, vestir preto, dias cinzas e melancolia. Não caio mais naquele papo de que as duas sou eu em momentos diferentes, porque não são. É só que a versão ruim tomou conta ao longo dos anos, deixando espaços esporádicos pra outra aparecer.
Resta saber se ela vai tomar a frente e guiar de maneira definitiva. Porque assim eu espero.
Mente minha, me dá brilho e coragem, que é só do que eu preciso. Brilho pra sobressair nesses dias nublados que tem feito, e coragem pra abrir a boca e deixar essa merda dessa timidez de lado. Porque eu não aguento mais conviver com ela. Com essa vontade enorme de soltar essa criatura louca e faladeira que existe em mim, e sair dando bom dia/tarde/noite pra todo mundo.
Segunda feira percebi o quanto sou tímida. Eu cheguei na faculdade e a entrada tava cheia de fumantes. Fui pedir um isqueiro emprestado, porque esqueci o meu em casa. Eu comecei a tremer de nervoso. Pra pedir uma merdinha de um isqueiro emprestado. Eu sorri esse meu sorriso bobo e simples, e agradeci e saí. Eu me acho boba e simples, não num sentido ruim. Boba e simples de um jeito bonitinho, mesmo que acredite que diminutivos não cabem nesses meus 1,80 de altura.
Mente minha, me dá brilho e coragem e só. Que com eles tudo vem. Me dá um tom de voz mais alto dentro da sala de aula, só pra que alguém me ouça quando falo. Acho que tenho esse eterno medo de falar merda. Mas as pessoas lembram de mim, já percebi que sim. Hoje encontrei duas professoras de períodos passados. Uma de direito, do segundo período (idos de 2007), e outra de jornalismo do período passado. Ambas lembraram de mim, sorriram ao me ver e falaram o mesmo "oi querida, tudo bem?". As pessoas não esquecem, e eu nunca sei bem porque. Não deve ser só o metro e oitenta, eu devo mesmo ter algo mais.
Mente minha, me dá brilho, me dá coragem, pode ser? Da pé? Me dá força e voz pra que eu não crie ferrugens azuis pelo corpo. Me dá um pouco mais da atitude que tenho fora da faculdade, pra que eu possa usá-la dentro dela. Me dá aquela coragem de primeiro período, e a capacidade de rir de mim mesma se falar besteira. Me dá as velhas crises de riso, e um pouco menos de preocupação.
Mente minha. Mente minha. Pare de me pregar peças, e me permita ser eu mesma, só pra variar.
Se apoiar em decisões e opiniões alheias nos dá conforto, muito conforto. Quando algo dá errado, jogamos a culpa nas outras pessoas e fica tudo bem. Como se não estivéssemos desperdiçando tempo, uma vez que não decidimos nada. O que isso gera no futuro? Gente frustrada. Que pensa todo tempo em frases iniciadas com "se...", depois de ter passado a vida toda abaixando a cabeça e vivendo de acordo com o que esperavam dela. Pode ser que ela ganhe muito dinheiro, ou tenha o melhor emprego. Pode ser que tenha um casamento duradouro e uma casa maravilhosa. Talvez tenha tudo isso ao mesmo tempo, uma vida de sonho. De um sonho que não era dela, e com o qual ela nunca teve coragem de lutar contra. Talvez fosse mais feliz vivendo com o necessário, numa casinha pequena e tendo mil amores ao longo do tempo.
O ponto é que o conforto não move. Não nos movemos quando nos sentimos confortáveis, e vamos apenas levando, gastando nosso precioso tempo vivendo uma vida que não é nossa. Deixamos de morar em nós mesmos. De curtir o prazer que a aventura dá, de gozar do frio na barriga e da expectativa. Porque sim, a vida é uma aventura, e sendo ela assim tão breve, uma aventura que deve ser muito bem vivida.
Crescer dói. Dói muito as vezes, e tanto que dá até vontade de desistir. Dá vontade de esmorecer, deitar na cama e não acordar nunca mais. Mas pra tudo existe recompensa. Então se dói, melhor colocar merthiolate, um band-aid e voltar pro pique. Porque quando tudo finalmente der certo, você vai finalmente poder virar e dizer "é, deu certo. E a culpa e o problema são meus, de mais ninguém"
quarta-feira, 3 de março de 2010
Walking in love.
Analisando a tradução literal da expressão, "caindo no amor", a coisa começa a não fazer sentido. Amor pra mim definitivamente não é igual a paixão. Ele supostamente não dá e passa, não é uma topada nem uma coisa totalmente sem controle. Eu não quero cair, porque quando a gente cai perde completamente o controle da situação. Os segundos que levamos pra chegar ao chão parecem uma eternidade, e mesmo esse pequeno percurso já é doloroso. Vamos desengonçando até bater de bunda (ou de cotovelo, joelho, que seja) no chão, nos ralando e ficando cheios de hematomas. Paixão é uma mancha roxa, e eu passei anos tomando tintura de arnica pura para evitá-las.
Sendo assim, eu quero andar. I wanna walk in love. Porque amor é construção. A vida não é filme e eu entendi. O que todo mundo espera é uma paixão fervorosa e eterna, um daqueles finais românticos e açucarados, com beijos de tirar o fôlego e pinçar a coluna. Mas a queda continua sendo iminente. A possibilidade de um final infeliz após o final feliz continua existindo, firme e forte. E mais dia, menos dia ele chega. Chega e deixa a vida toda meio morta, porque colocar todas as expectativas em alguém só pode resultar em fracasso. O final infeliz chega e faz parecer que todo o tempo não valeu a pena. A paixão é egoísta, ela exige demais, ela precisa ser alimentada demais pra que dure, e ninguém é capaz de alimentar uma paixão pra sempre. Até as pesquisas dizem, é uma coisa química que dura de poucos meses a alguns anos.
E o amor? O amor é aquilo que na realidade não dão valor. É um conceito totalmente deturpado, porque as pessoas insistem em misturar com paixão. E assim elas preferem acreditar que vão sentir o coração disparar toda vez que verem o outro, e que isso é amor. Elas preferem acreditar que vão arder de desejo eternamente, e que isso é amor. Elas preferem crer que vão para sempre passar a maior parte dos seus dias pensando no ser amado. Mas isso, como eu já disse, é paixão. Amor é cuidado, preocupação. Amor me parece muito mais um conceito que um sentimento. É uma escolha, baseada em fatos (mesmo que as vezes não saibamos explicar muito bem que fatos são esses...rs...). Pode sim começar pela paixão, e normalmente nos dias de hoje começa, mas se não evolui não é amor.
Essa confusão entre sentimento x escolha detona qualquer relacionamento. A partir do momento em que a pessoa acredita estar com a outra por não conseguir viver sem ela, deposita nela uma carga pesada demais. Quando os dois lados pensam assim, é fato um fim sofrido e doloroso. Quando apenas um dos lados pensa, é mais sofrido e doloroso ainda. Como disse Renato Russo, "Se o amor é verdadeiro, não existe sofrimento". O sofrimento não vem do amor, vem das escolhas que cada um segue dentro do relacionamento. Ele vem quando a dependência se torna maior do que a admiração, o respeito e o carinho. Eu acredito que quando morre a admiração, o respeito morre logo em seguida, e já está sendo realizada a missa de sétimo dia do carinho. Esses sim são sentimentos, e caminham juntos dentro do pacote que se chama amor.
Com tudo isso, creio ter sido ingênua em algum dia pensar em amores eternos da maneira que pensava. Como se fosse possível ser deixado por alguém e continuar amando a pessoa eternamente. Isso não é amor, é falta de coragem pra seguir em frente e tocar a própria vida. Isso é fraqueza, e amor e fraqueza não devem nunca ser confundidos. Isso é muito bonito em filmes antigos, mas na prática é bem doído e sem sentido: Quando acabam de gravar a cena, a atriz volta a sorrir e vai embora. Na vida real a pessoa continua sofrendo até o fim. E tem algum sentido em sofrer? Em se abster de todas as coisas maravilhosas que a vida pode oferecer? Em se privar de viver novos relacionamentos, que podem nos mostrar um amor muito mais real e pleno do que o suposto amor anterior? Não, não tem sentido algum. O medo de levar outra porrada é muito grande, eu sei, mas não justifica a eterna falta de coragem de se entregar. E digo se entregar à vida, em todos os sentidos, e não somente a um novo relacionamento.
Sendo assim, amor pra mim é uma questão de escolha. É possível viver um amor eterno e incondicional, uma vez tendo em mente que não se estará apaixonado pra sempre. Tendo em mente que fases ruins acontecem e que as vezes nem queremos olhar pra cara da pessoa. Mas que se a gente acorda no dia seguinte disposto a voltar atrás e dar mais uma chance, é aí que mora o amor. Mora na paciência, na compreensão, na espera. Não a espera por se viver uma paixão eterna, mas na espera pra que a pessoa se adeque a nós, e para que nos adequemos a ela. Não num sentido ruim, naquele sentido de "mudar pra agradar o outro", isso nunca. Num sentido de entender as motivações, os desejos e anseios da outra pessoa, de conseguir expor os nossos e assim chegar a um consenso. Num sentido de ter capacidade pra ficar calado e escutar, sem julgar o que se está ouvindo, de esperar sua hora de falar. Mora na paciência porque existirão fases de distância, fases de raiva até, de "saco cheio" e tédio. Mas tendo paciência tudo passa, e com ela conseguimos manter nosso foco. E ele mora na compreensão porque sem ela não se chega a lugar algum, em qualquer tipo de relacionamento na vida. A compreensão é a fundação desse prédio chamado amor, e contando com ela os ventos vem e vão, mas nunca abalam a estrutura.
Não quero com isso tudo parecer fria, ou fazer parecer o amor uma coisa fria. Como se fosse tudo muito certo, muito metódico, excessivamente prático. Essa não é mesmo minha intenção. É só que sou muito mais facilmente seduzida pela imagem de um casal velhinho conversando na varanda do que pela imagem de um casal jovem se amando ardentemente. É só que eu sou muito mais carinho extremo do que desejo. Sou muito mais apertão na bochecha do que tapa na bunda. O desejo, o amor ardente e os tapas na bunda também são necessários, mas não devem estar no comando. Eles não devem fazer mais falta do que sonhos de varanda e cheirinho de biscoito pela casa. São pra mim partes muito, muito menos importantes do processo. São os lubrificantes do motor, mas sem combustível o carro não sai do lugar. ;)
"I could be handy, mending a fuse
When your lights have gone.
You can knit a sweater by the fireside
Sunday morning go for a ride,
Doing the garden, digging the weeds,
Who could ask for more?
Will you still need me, will you still feed me
When I'm sixty-four."
Beatles - When I'm sixty four