quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão"
Samba da benção - Vinícius de Moraes/ Baden Powell
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Estou aos poucos descobrindo Vinícius. Desde sempre tive um preconceito gigantesco, que nasceu quando eu tinha uns 11 anos de idade. Explico: Li aquela frase "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", e achei um tremendo absurdo. Na minha mente de menininha feminista que se achava uó de feia, isso era ridículo de se dizer, soava machista e escroto. Hoje em dia procuro enxergar de outra maneira, e tento achar que ser bonita não é necessariamente o que sempre quis achar que fosse.

Minha mãe tem uma antologia poética dele, e li nessa mesma época, lá pelos 10/11 anos (embora tenha arriscado as primeiras leituras pouco depois de aprender a ler). Talvez eu fosse nova e revoltada demais pra compreender muitas coisas. Talvez eu ainda seja nova e revoltada demais pra compreender algumas. Porque acho que leitura (principalmente de poesia/poema/etcdotipo) sem compreensão não vale. De nada adianta ler o famigerado Soneto de fidelidade sem atenção, uma atenção que vá além do que está escrito, e que consiga enxergar além do clichê que todo mundo lê.

Sendo assim, eu demorei anos e mais anos pra começar a digerir Vinícius. Demorei anos pra respirar fundo e lê-lo além da figura machista que sempre representou na minha vida. O cara era bom mesmo, tem muita coisa bonita. Não o acho genial como a maior parte da população (que na realidade leu o famigerado soneto e o acha genial apenas por isso), mas acho válido e belo.

Meu maior problema com a maioria dos poetas/compositores/etc é essa capacidade de ser clichê, de falar o óbvio. E o que me irrita é a capacidade dos serumanos de achar isso lindo só porque tá rimando e soando bonitinho. E sendo assim tooooodo mundo paga um pau enorme pro tal "mas que seja infinito enquanto dure". Mas ninguém sabe explicar porque. Indo na contramão da massa, eu detesto esse papo de infinito enquanto dure. Não por falta de compreensão, mas pra mim a melhor frase sobre infinitude é a seguinte: Tudo que não é eterno, é eternamente inútil. Porque tudo que é bom é eterno de alguma maneira. Isso não significa durar literalmente pra sempre. Significa durar pra sempre de algum modo. E isso é bem diferente.

Enfim, ando curtindo Vinícius. Deixando os preconceitos pra trás e tentando enxergar a obra dele além. É meio zona sul-bossa-praia-loirinhasdebiquini demais pra mim, mas por enquanto tá descendo bem.

Nem prevejo indigestão.

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