domingo, 4 de março de 2007

Nostalgia

Ainda me lembro da estante, gigante, tão maior que eu, e eu pegando a saia de bolinhas que minha mãe tanto odiava. E eu achava linda, e coloquei, e ela chegou. Me lembro da parede com infiltração, que ficou amarela, e eu achava bonita, achava que era detalhe, pintura,e fazia descasquinhos, tirava pedacinhos. Me lembro dela falando "Agora sacode a cabeça", e meu cabelo ficar bagunçado, e parecer uma criancinha maluca. Me lembro do sofá, do armário da cozinha, do piso, da piscina de plástico do lado de fora, que me parecia imensa, dos camundongos que passavam as vezes por lá.
E em outro lugar, outro piso, outra cozinha, outro andar, motel mirante da janela, estrela cadente, vizinhos, televisão, vó, mãe me acordar de noite pra contar o dia. Miojo e massinha com ketchup, com feijão, com manteiga. Caverna do dragão, cavaleiros do zodíaco, cabelo puxado pra trás até a cabeça doer. Escola, cortar e colar, escrever, ler.
De volta ao começo, em outro apartamento, árvore na janela. Tacos soltos, joaninhas, caixa de papelão e xale de mesinha, caixa de papelão e madeira de estante. Beliche de ferro, tv, cozinha de pastilha, banheiro com banheira (que a gente nunca usava), área que dava pra ver os cachorros fedidos do vizinho de baixo, portas e janelas de madeira antigas, que faziam ruídos engraçados. Marinho nascer, crescer, andar, video game, televisão, bolo, torta, empadão. marinho de dente no butijão de gás. Escola, dizer que vim da lua, ainda lembro, afastavam as cadeiras pra eu passar.

E o tempo é que foi passando.
E eu fui crescendo, crescendo.
E mudando, e me mudando.
E agora eu dava tudo pra voltar.

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