quinta-feira, 9 de junho de 2011

E aqui estou eu, as 00h23 e não tenho absolutamente nada para reclamar. Sabe aqueles dias em que tudo parece ter solução? Em que todas as coisas parecem possíveis, mágicas e alcançáveis? Hoje é um desses dias.

Percebi que o que normalmente me abate não é acreditar nas possibilidades da vida e na mágica das coisas. O que me abate é deixar que as pessoas tentem me fazer não acreditar. Ou escutar quando elas dizem que algo não é possível. Porque nada é impossível, nada. A gente normalmente cresce acreditando na impossibilidade de uma porção de coisas, e quando vira adulto já tem na cabeça uma linha dividindo as coisas possíveis das impossíveis. A verdade é que sim, muitas coisas são improváveis, algumas são difíceis e por aí vai, mas dentro das coisas que quero e penso, impossível nenhuma é, e essa é a verdade.

Eu sento aqui e penso em sonhos, em metas, em bobagens. Penso uma porção de coisas, porque minha mente é sempre um turbilhão. O maior erro, meu e de todos, é deixar passar a sensação que temos no início das coisas. O primeiro pedaço de bolo de chocolate é sempre o mais gostoso, daí a gente vai e come com uma voracidade que faz o último pedaço ser apenas enjoativo. Ou então fugimos do fim comendo o bolo bem devagar, o que também não ajuda. Faça diferente, tome um gole de água entre um pedaço e outro e pronto: O paladar fica limpo e todos os pedaços se parecem mais com o primeiro.

Eu tenho tanto medo do fim das coisas que não aproveito o caminho. Daí a vida oscila entre esgotar as possibilidades muito rápido, ou ignorar completamente. Na minha cabeça funciona que se não vejo, não sinto, e não sentindo não ligo. Só que chega uma hora que cansa não ligar. Chega uma hora que a gente tem a vontade do apego as coisas toda de uma vez. Como com a casa: Eu ignoro porque sei que não vou viver aqui pra sempre, daí não quero saber de limpar, cuidar, amar, me preparo precipitadamente para a perda. Um dia eu acordo com uma vontade louca de limpar tudo de uma vez, deixar tudo tinindo, bonito, brilhando. É como perceber que não importa pra onde a vida me leve amanhã, o importante é hoje. Amar hoje, cuidar hoje, fazer bem feito hoje. Amanhã é longe e pode nem chegar, então pra que se preocupar.

Eu gosto de rotinas. Gosto tanto que nunca reparo quando são nocivas, quando podem resultar em problema. Eu gosto de rotinas porque é mais fácil, e eu entro rapidamente em qualquer uma delas. Seja rotina pra estudar, pra amar, pra trabalhar, pra qualquer coisa. Eu me apego a rotinas e qualquer coisa fora delas mexe completamente comigo. Se num dia não preciso acordar cedo, me sinto culpada o dia todo por não o fazer. Se num dia não almoço, não sinto fome para fazer mais refeição alguma. Se num dia não recebo mensagem de bom dia, passo o tempo com a sensação de que algo está fora do lugar. Só que das rotinas que dizem respeito somente a mim eu posso ter controle, as que não dizem estão fora do meu alcance, e na realidade não devem mesmo significar nada.

É que sou também bastante apegada aos detalhes. O jeito que alguém escreve ou fala ou anda ou respira sempre parece estar carregado de um significado mágico e superior, quando na realidade não significa nada. Quando eu faço significa, mas eu sei e todo mundo sabe: Não dá pra julgar os outros pelas suas próprias atitudes. Porque se eu respiro fundo eu estou respirando com todo o corpo e se eu ando devagar não quero que o tempo passe e se eu escrevo muito é porque estou feliz e se escrevo pouco não estou tão bem e reticências querem só deixar o pensamento em aberto e corações mostram afeto e quando falo mole e baixo estou apaixonada e quando falo alto estou me sentindo sozinha e quando falo sério, sem nenhum vestígio de riso, eu estou irritada, e quando falo pesado eu estou triste. Eu dou significado a tudo, porque tenho significado em tudo. A maioria das pessoas nem pensa nisso.

Eu adoro esse vômito de sentimentos e pensamentos que faço de vez em quando. Faz bem colocar pra fora escrevendo, porque escrever é o único modo que sei colocar as coisas pra fora. Eu nunca disse "eu te amo" pra ninguém na vida. Eu já respondi "eu também". Eu já escrevi euteamo, porque escrever nem sempre é sentir. Mas eu nunca disse. As vezes acho que não devo amar ninguém. Eu me amo, e seria capaz de chegar na janela agora e gritar. Deveria existir uma terapia do eu te amo. Porque tem gente que acha que é bom dia, e tem gente como eu. Quem acha que é bom dia diz que ama qualquer um e qualquer coisa. Talvez essas pessoas amem mesmo tanto, sei lá. Me parece que amor pela minha mãe e irmãos e amigos de verdade é uma coisa tão na cara que eu não preciso dizer a sério, cara a cara, com um tom pesado e dramático do tipo "mas eu te amo tão profundamente que venderia um rim pra te ver feliz". Eu super venderia um rim por eles, e creio mesmo que eles sabem. As vezes acho que não devo amar ninguém, mas logo me convenço que não é esse o ponto. Mas os caras, esses nunca mesmo eu disse. Foi só nessa base resposta/coisa escrita. Sempre achei que amor era algo maior, sublime, mágico, superlativo. Daquelas coisas que a gente diz uma vez pra nunca mais. Que a gente sente com a alma, com o corpo, com tudo. Que arrepia até os pentelhos e chega a doer a nuca. Que dá um peso na cabeça que parece ter alguém sentado em cima, daí de repente parece que o chão vai abrir e o peso vai fazer você ser engolido. Aí eu percebi que na verdade isso era pressão baixa. Ou vergonha alheia. Amor deve ser uma coisa que a gente tem vontade de dizer deitado na cama, no domingo a tarde, olhando pro teto e pensando na vida. Deve ser só vontade de nunca ir embora, daquelas que a gente sente até quando não está perto. Amor deve ser quando a gente diz "fica mais cinco minutos" querendo do fundo do útero que a pessoa fique mesmo. Vai ver não precisa ser dito, mas fica o mundo incentivando as pessoas com filmes e músicas e coisas que contém essa frase. Eu nunca acreditei nos euteamos da mocinha ou do mocinho. Vai ver sempre acreditei que amor é uma coisa mais sincera tipo "eu vou dar tapas na sua bunda na cozinha quando você ficar velha e pelancuda, vou olhar seus peitos murchos com a mesma voracidade que olho hoje e vou te achar linda mesmo que você esteja gripada e seu nariz esteja cheio de meleca e escorrendo. Eu vou sorrir apaixonado pra você com todas as minhas rugas e vou ficar feliz quando você me sorrir com as suas". Mas talvez ninguém ache o mesmo, sei lá. Eu percebi com o tempo que o frio na barriga que chegava a doer o umbigo que eu sentia quando ouvia alguém me dizer não significava que eu amava também. E que a maioria das pessoas dizem porque acreditam sinceramente que isso eleva tudo a um novo patamar. A gente realmente se controla mais depois que alguém diz. É como uma amarra, sabe? "Ele é um idiota que está passando o final de semana na internet, mas ele me ama". "Ele me bateu, mas ele me ama". "Ele é ausente pra caralho, mas ele me ama". "Ela me traiu com metade do Rio de Janeiro, mas ela me ama". "Ela me trata feito lixo na frente dos amigos, mas ela me ama". O "mas ele(a) me ama" se insere em qualquer pensamento, em qualquer frase proferida por essas pessoas de mente pequena, que acreditam que amor é tudo isso que as prende a outra pessoa. Mas se existe amor e se merece ser dito, ele prenderia mesmo alguém? Seria algo assim tão ruim? "Eu te amo, mas você está me fazendo um mal tremendo e eu me amo mais". "Eu te amo, mas a vida está correndo e eu me amo mais". Se é pra amar, porque não amar mais a si mesmo e se amarrar a si mesmo e abraçar a si mesmo e investir pesado em si mesmo? Porque se amor existe ele deve com certeza ser sinônimo de felicidade. E ninguém é feliz se colocando abaixo dos seus desejos, sentimentos e vontades. "Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho". Daí as pessoas se usam dessa frase desde que ela existe pra justificar as idas e vindas, o desespero por alguém do lado, a falta de amor próprio. Pode até ser impossível ser feliz sozinho, mas existe família, existem amigos, existem criancinhas pobres precisando de assistência e mais toda uma sorte de coisas pra se dividir e não estar tão só. Só que ninguém entende, porque é mais fácil ir pelo caminho do "Eu preciso de alguém sem o qual eu passe mal, sem o qual eu não seja ninguém" e se rastejar por aí. E as coisas ficam como estão, com esses milhares de euteamos ditos como bom dia, e o outro lado da moeda, as pessoas feito eu, sem imagem formulada do que é amor, sem entender, sem dizer, sem conseguir. Vai ver todas as lacunas que já senti, até hoje, quando não sabia o que dizer pra alguém, deveriam ser preenchidas com um "eu te amo" e eu não percebi. As pessoas gostam de ouvir afinal. Vai ver todo sentimento inexplicável e bom é amor. Vai ver não.

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