Hoje o céu amanheceu cinza, assim como eu. As minhas cores foram todas pelo ralo enquanto eu tomava banho ontem a noite. Eu olhei pro chão e quase pude vê-las indo embora. Eu acordei mole, como se tivesse um peso em cima da minha cabeça. Como se tivesse alguma coisa empurrando meus olhos pra baixo, me fazendo permanecer com eles fechados. Eu acordei triste, com essa tristeza que insiste em voltar. Ela fica fora alguns meses, mas sempre volta. E trás com ela os amigos: inquietação, angústia, medo, preguiça. Ela vem pra me destruir, fazendo sua festa particular na minha cabeça.
As vezes eu penso que ela nunca vai me deixar de vez. Que ela nunca vai me dar um beijo na bochecha e sumir. Essa tristeza vai sair de férias uma porção de vezes, mas vai sempre voltar. Será que isso é desistência da felicidade? Será que eu me acomodei na condição de ser humano eternamente triste? Existem diversos tipos de tristeza e de dificuldades, assim como diversos tipos de felicidade. Eu preferia que a dificuldade fosse morar embaixo da ponte, se com isso viesse algum tipo de felicidade. Preferia qualquer outro tipo de dificuldade, se com ela viesse qualquer tipo de felicidade, essa é a verdade.
Talvez em dias como hoje me falte esperança. Talvez esperança seja como liberdade, uma coisa que todo mundo quer, mas ninguém sabe explicar. Eu queria um pouco mais de esperança, vai ver ela poderia colorir meu dia. Mas eu não consigo acreditar que no final tudo vai dar certo, e muito menos acreditar no que sempre prego: Que se não está tudo bem é porque não é o final, pois no final tudo dá certo. Isso é bonito na teoria, bonito demais. Faz todo mundo achar que você é uma pessoa cheia de luz e sorrisos. Mas quando a vida vem e trás uma enxurrada de problemas, esse pensamento se torna obsoleto, e você percebe que é como todas as outras pessoas.
Eu preferia nesse momento conseguir acreditar em alguma coisa. Acreditar em Deus, ou em vidas passadas, em vidas futuras ou em paraíso. Mas eu não acredito. Eu não consigo acreditar. Eu poderia pensar que isso tudo é reflexo dos meus atos malévolos em vidas passadas, e que por isso mereço o que aconteça. Mas eu não consigo acreditar numa explicação tão banal e comodista. Eu poderia acreditar que isso tudo vai fazer com que na próxima vida eu seja feliz. Mas esse é um pensamento tão comodista quanto o anterior: Acreditando em antes e em depois, você aceita de bom grado tudo que se passa, e assim não se esforça pra mudar. Não verdadeiramente. Você passa horas, meses, anos pensando sobre isso. Daí no fim da vida você acredita ter evoluído um pouco, por ter passado por todas as coisas ruins. Você acredita que aprendeu com elas, mesmo que sua vida tenha sido um mar de problemas. E então você morre feliz, crendo que seu espírito partirá um pouco melhor pra próxima existência. Isso soa bastante idiota pra mim.
Se eu conseguisse acreditar em Deus, nesse momento eu poderia estar rezando, pedindo por dias melhores. E então eu me esforçaria, eu lutaria por eles. E quando eles chegassem, o que eu faria? Eu agradeceria a Deus. Como se meus esforços tivessem sido impulsionados por essa força mágica e misteriosa. Como se eu não tivesse sofrido o bastante pra chegar lá, como se eu precisasse creditar a minha força a algo maior. Eu acreditaria não ser forte o suficiente sem o empurrãozinho divino nas minhas costas. Eu não acredito em Deus nos momentos bons, e não os credito a ele. Mas também não sou do tipo que acredita nos momentos ruins e pede ajuda. Eu não confio muito em gente que acredita em Deus. Na minha cabeça Deus é sempre uma fuga. Ninguém pensa em Deus quando está no topo, mas basta cair de lá de cima pra querer que Deus segure. Que tipo de fé é essa, que se limita? Eu não acredito em forças superiores, eu acredito nas pessoas. E as pessoas são ruins, assim o mundo é ruim, e nenhum Deustodopoderoso tem nada a ver com isso.
A liberdade de não acreditar em nada é enorme. E só quem não acredita sinceramente prova dela. A liberdade de não achar nada divino. De ter o seu próprio certo e o seu próprio errado, acima de tudo que o mundo julga. A liberdade de ver o brilho em cada coisa, sem precisar por isso acreditar que ela foi magicamente criada. Eu gosto muito dessa liberdade, gosto um tanto enorme, sem medida. Mas em dias como hoje, minha cabeça balança. Balança e gostaria de acreditar, mesmo não conseguindo. Só pra ter um pouquinho de certeza que uma mão vai vir do além, dar um empurrãozinho nas minhas costas e me deixar um pouco mais alegre, mais pra frente. Talvez seja mais fácil ter esperança, pra quem acredita. Mas mesmo num dia cinza como hoje, ainda me considero uma pessoa de sorte.
Eu tenho a sorte de colocar o meu destino apenas nas minhas mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário