As palavras vão morrer. Vão cair em desuso, muitas delas. Cuidado desuso, você deve ir junto! Você vai ser trucidado pelas futuras gerações, e em alguns anos ninguém vai saber o que você significa. E você vai virar uma daquelas palavras solitárias, nunca consultadas no dicionário. Você vai morar com os quitutes, as raparigas, os rapazes, a paquera, os brotos, as mocinhas biscoito-fino e as carangas. Vai morar na cabeça de avós, que verão as caras espantadas das netas perguntando "ih vó, que que é isso?".
As palavras vão morrer. Porque vão morrer as pessoas que lembram das palavras. E mataram a trema. Mataram uma porção de acentos também. Eles vão matar a língua portuguesa. E eu vou chorar cântaros (eu me recuso a matar os cântaros), vou me deprimir e ficar de luto.
Ah, o luto! O luto morreu. Ninguém veste preto em velório, só uma meia dúzia de senhorinhas. E elas ficam lá com seus vestidos pretos, enquanto alguns vestem amarelos, laranjas, azuis. Em pleno cemitério, quem diria? O luto morreu faz tempo, foi passado pra trás. Ninguém chora a morte por muito tempo, e a memória do falecido não precisa de algum tempo de preto. Estamos no rio, faz calor, mataram o luto! E mataram com veneno, aos poucos. Uma moça de azul aqui, um menino de marrom ali. De repente amarelo e ninguém repara. Os tempos são outros.
Eu não estava aqui nos tempos de luto, de rapariga e de biscoito fino. Eu não estava aqui pra ver nascer o broto, a caranga e a paquera. Mas eu vivi com eles. Eu fiz destas palavras todas companheiras, eu mantive elas na família. Mas o tempo é mais forte que eu, e essa juventude boba também. E a falta de disciplina decorrente da falta de colhões que os adultos tem hoje em dia também. E a falta de disciplina vem do simples fato de que é mais fácil largar de mão e fingir ser bonito, do que levantar a mão e dar uma boa bronca. Porque até a bronca, se não morreu, está morrendo.
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