sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Luto pelas palavras. Nos dois sentidos.

As palavras vão morrer. Vão cair em desuso, muitas delas. Cuidado desuso, você deve ir junto! Você vai ser trucidado pelas futuras gerações, e em alguns anos ninguém vai saber o que você significa. E você vai virar uma daquelas palavras solitárias, nunca consultadas no dicionário. Você vai morar com os quitutes, as raparigas, os rapazes, a paquera, os brotos, as mocinhas biscoito-fino e as carangas. Vai morar na cabeça de avós, que verão as caras espantadas das netas perguntando "ih vó, que que é isso?".

As palavras vão morrer. Porque vão morrer as pessoas que lembram das palavras. E mataram a trema. Mataram uma porção de acentos também. Eles vão matar a língua portuguesa. E eu vou chorar cântaros (eu me recuso a matar os cântaros), vou me deprimir e ficar de luto.

Ah, o luto! O luto morreu. Ninguém veste preto em velório, só uma meia dúzia de senhorinhas. E elas ficam lá com seus vestidos pretos, enquanto alguns vestem amarelos, laranjas, azuis. Em pleno cemitério, quem diria? O luto morreu faz tempo, foi passado pra trás. Ninguém chora a morte por muito tempo, e a memória do falecido não precisa de algum tempo de preto. Estamos no rio, faz calor, mataram o luto! E mataram com veneno, aos poucos. Uma moça de azul aqui, um menino de marrom ali. De repente amarelo e ninguém repara. Os tempos são outros.

Eu não estava aqui nos tempos de luto, de rapariga e de biscoito fino. Eu não estava aqui pra ver nascer o broto, a caranga e a paquera. Mas eu vivi com eles. Eu fiz destas palavras todas companheiras, eu mantive elas na família. Mas o tempo é mais forte que eu, e essa juventude boba também. E a falta de disciplina decorrente da falta de colhões que os adultos tem hoje em dia também. E a falta de disciplina vem do simples fato de que é mais fácil largar de mão e fingir ser bonito, do que levantar a mão e dar uma boa bronca. Porque até a bronca, se não morreu, está morrendo.

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