quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dalva e Herivelto

Meus zoim enchem de lágrima assistindo a essa maravilhosa minissérie. Ouvir coisas dessa época é lembrar da minha vó, e lembrar de coisas que não poderiam deixar de me emocionar.

Eu sempre a enchia de perguntas sobre a era de ouro do rádio, perguntava sobre as cantoras, sobre as músicas. Vira e mexe em alguma situação ela puxava alguma música e começava a cantar, com aquele ar dramático com que as mulheres de antigamente cantavam. Até quando tocou um trecho de chiquita bacana eu quase chorei. Me lembrei dela fazendo uma dancinha hilária e cantando a música. Quando ouço a voz da Dalva de Oliveira, tenho que me segurar pra não cair no choro.

Minha vó tinha aquele ar de coração partido, aqueles olhos que pareciam sempre beirar o choro. Nas poucas vezes em que a vi falando do meu avô, ela sempre terminava com frases como "mas como eu amava aquele homem. Ele era um filho da puta, mas eu amava". Quando, na série, Dalva caiu no choro e falou frase semelhante, eu não consegui: Saí da copa e fui pra cozinha me controlar. Era uma época em que as mulheres ainda não tinham consciência do seu suposto poder de ir em frente sozinhas. Uma época em que os amores eram pra sempre, e mesmo quando se rompiam, perduravam nos corações delas por toda a vida.

Hoje o mundo corre, os relacionamentos acabam mais rápido do que os anos, muitas vezes do que as semanas. Hoje ninguém liga pro amor, ninguém quer esse romantismo piegas, escrachado, esse amor gritado aos quatro ventos. Hoje em dia falar sinceramente de amor é brega. Amor hoje é pensar no quanto aquilo pode ser estável. É pensar em certas afinidades que não deveriam ser pensadas. Hoje em dia cantar uma música como Hino ao amor é considerado o fim da picada (e mesmo fim da picada é uma expressão "de avó" hoje em dia).

Eu fico feliz pelos meus pensamentos "a moda antiga". Pela minha breguisse. Por achar Hino ao amor uma das canções mais lindas que existem. Fico feliz por chorar quando ela toca. Eu fico feliz por saber bordar, costurar, fazer tricô e cozinhar. E eu não canso de dizer que sou feliz por essas coisas. Eu não canso de reafirmar a minha condição de mulher, e de ficar feliz com essas coisas "de mulher". Porque eu acredito que elas sejam sim. Acredito em "coisa de homem" e "coisa de mulher", e que isso não é maneira de diminuir ninguém.

No episódio de ontem, Dalva fez um pato no tucupi, colocou na mesa e disse "pato no tucupi, fiz pra você". Herivelto olhou pra ela com uns olhos de pesar (ele já estava com outra), mas quando entrou não resistiu a mulher na cama dizendo "vem meu amor". Essas pequenas coisas, pequenos detalhes do cotidiano de antigamente me seduzem. As pessoas entendem como diminuição da mulher, ela cozinhar um prato pra agradar o companheiro. Eu vejo como uma coisa super bonita: Mostra dedicação, zelo, preocupação, amor. É como dar um presente feito por você. Presentes feitos a mão não tem um valor todo mágico? Então.

Queria entender mais as pessoas, e os pensamentos do "mundo contemporâneo". Porque eu não entendo. Queria minha vó aqui, pra me ensinar mais e mais coisas bonitas, delicadas, femininas. Queria acompanhá-la e colocar rouge e batom vermelho pra sair. Usar bijuterias douradas e ter os modos de uma dama a mesa. Porque ela tinha. Tinha educação e era fina, muito fina (embora em casa fosse ligeiramente escrachada). Queria poder voltar no tempo e tirar mais dela. Porque agora que ela não está aqui, esse campo da minha vida vai ser sempre mais vazio.

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