terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ontem chegou o presente de aniversário que minha mãe me deu, o livro "Dona Benta - Comer bem". Fiquei muito feliz de ganhá-lo. As vezes me parece estranho, em pleno ano de 2009, alguém de 21 anos ficar feliz em ganhar de aniversário a "Bíblia da dona de casa".

Em outros tempos (a primeira edição é de 1940), as mulheres eram extremamente diferentes do que são hoje em dia. Ao invés de comida congelada e jantares preparados por buffets pagos, a felicidade pra elas era agradar os convidados com uma refeição feita por elas mesmas. A glória era saber servir, saber "conquistar pelo estômago". O maior desejo era ser uma dona de casa excepcional, surpreender o marido e a família. Mulher boa era aquela que cuidava da casa, cozinhava, costurava, criava bem os filhos e ainda estava bonita e cheirosa a noite, esperando o marido chegar. Hoje em dia as pessoas encaram isso como fácil, e as mulheres que desempenham essas funções como menos do que as que trabalham fora e sustentam a casa.

As pesquisas mostram que tal pensamento levou as mulheres a uma tristeza sem precedentes. Elas andam cada vez mais tristes. Tentam exercer inúmeras funções ao mesmo tempo, e acabam não sendo realmente boas em nenhuma, ou sendo muito boas em uma e falhas nas outras. E isso frustra, e entristece (acho que consigo até imaginar o quanto). A maioria das mulheres ainda não percebeu que pular de um lado ao seu extremo oposto não representa felicidade nenhuma, a partir do momento em que não existe direito de escolha. E se eu quiser ser dona de casa por opção, não por obrigação? As trabalhadoras vão me olhar torto, com certeza, como se fosse muito fácil manter uma casa. Como se fosse fácil transformar uma simples moradia num lar. E elas vão dar risadinhas por trás, enquanto seus maridos tem amantes, seus filhos não tem educação e chamam a babá de mãe. A felicidade não reside em conseguir sustentar uma casa. Ela reside em fazer o que se gosta e o que se quer, seja qual for a opção. Assim como uma mulher pode não querer ter filhos, mas o que a sociedade diz de uma mulher que não quer? A encaram como fria e egoísta.

Talvez o problema todo sejam mesmo os rótulos. Essa eterna mania que as pessoas tem de julgar os outros, e de julgarem certos os seus julgamentos. Em 1950 as donas de casa também olhavam torto praquelas que trabalhavam fora e sustentavam a casa. O que mudou de lá pra cá? Mudou o lado mais forte, só isso. Se cada mulher pudesse escolher fazer o que a deixa mais feliz, sem pesar a opinião do todo, seríamos todos com certeza mais felizes.

Eu só sei que sinceramente não ligo pra nada que o todo diz. Eu não quero um emprego que me pague mais do que eu preciso, não quero ser uma pessoa frustrada apenas pra responder as expectativas de todo mundo. Eu não quero fazer o que não gosto. Eu sou feliz sabendo costurar, bordar, tricotar, cozinhar, gostando de crianças e me enchendo de alegria por ganhar um livro de receitas de presente. Eu não nasci pra toda essa suposta modernidade e não tenho problema nenhum com isso. Eu vou ganhar dinheiro deixando as pessoas felizes, com doces, biscoitos, coisinhas com cara e gosto de quitute de avó. E daqui a um tempão quando eu olhar pra trás, eu vou sorrir e dizer com gosto "eu voltaria atrás e faria tudo de novo".

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