domingo, 4 de outubro de 2009

Acho que devo ter nascido na época errada.

Eu gosto de cozinhar, gosto de colocar a mesa e da cara de alegria das pessoas quando comem. Gosto dos elogios. Eu gosto de ariar panelas e tricotar, de lavar roupa na mão e de costurar. Eu conheço produtos de limpeza e entendo sobre isso, sei quais são as melhores marcas e qual produto é melhor pra cada tipo de coisa.

Não fossem os estresses que as vezes rolam em casa (e o fato de eu andar um pouco mais tensa quanto a eles), ficar em casa seria pra mim o melhor programa: fazer uma porção de comida e coisas frufru, ver filmes e jogar jogos felizes. A verdade é que, mesmo com toda a minha energia, chegou uma hora em que eu sentava na balada e dormia. Isso quando não ficava me perguntando o que estava fazendo lá logo na hora que chegava.

Sempre fui mais feliz com passeios diurnos, com piqueniques, museus e almoços de domingo. Eu sempre fui quieta, e hoje vejo que minha mãe estava certa quando dizia "não entendo seu desespero de sair todo final de semana, você nunca foi assim". Eu nunca fui assim, e continuo não sendo. E hoje eu entendo que viver não significa estar na rua o tempo todo, com uma penca de pessoas que na realidade nem gostam tanto de você em volta. Viver significa fazer o que se gosta, sem se importar com a opinião alheia.

Mesmo assim, me sinto muito estranha pelos meus gostos. Estranha e meio sozinha. Amo meus amigos e amigas, mas eles na realidade não gostam de nada do que eu gosto. Eu nunca tenho com quem conversar sobre as coisas que eu faço, e talvez essa seja a maior saudade que eu tenho da minha vó: Era ela a minha companheira nesses assuntos. Era com ela que eu falava sobre laquê e pontos de tricô. Com a minha mãe falo sobre receitas, mas não é a mesma coisa. Minha mãe me ensinou tudo que ela sabia na cozinha, mas hoje meu interesse pelo assunto fez com que eu estudasse mais e ficasse um pouco a frente dela em certas coisas relacionadas a isso.

Daí eu fico assim, sendo essa bocó. Um monte de vezes eu tentei ser mais normal, mais sexy, mais fodona, mais beberrona, mais tudo. Eu tentei ser menos eu e gostar menos das coisas que eu gosto, tentei deixar elas de lado. Mas a verdade é que eu gosto e me gosto assim: Com roupa de vó, com assunto de vó, com vida de vó. Gosto de beber, mas não gosto de me embriagar pela rua. Minha sensualidade vem da minha naturalidade, e isto não pode ser forçado. Minhas roupas dos dias de alegria são os vestidos e saias abaixo do joelho. Um dia feliz pra mim envolve cozinhar alguma coisa pra família e ficar algum tempo deitada sem fazer nada demais (ou fazendo(6)).

E eu fico pensando muito que devo estar errada nas coisas que quero pra vida, nas minhas ambições. Eu devo estar errada em não querer ser rica, em não querer morar em apartamento, em querer ter minha terra auto-sustentável. Eu devo estar errada em não querer frequentar os lugares da moda, em não gostar de shopping e achar que brechó é muito mais feliz. Eu devo estar realmente errada em ser assim, se for medir pelos padrões de normalidade feminina de hoje em dia.

Mas sabe do que mais? Não ligo a mí-ni-ma.

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