sexta-feira, 30 de maio de 2008

Te[n]são

Estava ela sentada quando ele entrou no mesmo ônibus. Todos os bancos vazios, mas ele sentou no que ficava exatamente à sua frente. os fones pendurados no pescoço, uns óculos quadrados e um rosto engraçado. Sentou-se, encostou-se, mexeu-se, virou-se, parou. Ela atrás, a perna apertada, os joelhos encostavam nas costas e quanto mais se mexia, mais parecia bater.

Meia hora, quarenta minutos. Que vontade louca de dar uma joelhada, de pedir desculpas, de perguntar o que ouvia. Dez minutos. Que vontade de dar um tabefe na cabeça e mandar ficar quieto, pois já machucava os joelhos. Um minuto. O joelho batia e mexia como quem massageava, e visto que aquele não se mexia, parecia gostar.

Segundos, longos e tenebrosos de tensão e de prazer. Prazer idiota e banal, prazer não compartilhado e...prazeroso? Centésimos. De joelhos, costas, porradas, batidas, mexidas, impaciência. O prazer em irritar o indivíduo da frente. Que prazer mais mórbido.

Lá pelas tantas, fossem minutos ou horas, levantou-se. Ele. Ela se ajeitou e ficou olhando fixamente, esperando ele olhar pra trás. Olhou. Ela fez a cara mais safada do mundo, e olhou pra janela, mastigou o chiclete e riu. Ele também. Saiu do ônibus pra nunca mais.

Esses segundos compartilhados de insanidade nos meios de transporte público me deixam maluca. No sentido literal da coisa.

2 comentários:

Kelvin Vicente disse...

Eu disse uma vez e digo novamente, humanos são estranhos.
Desde pessoas que flertam desta forma até aqueles (realmente) estranhos que masturbam-se no meio do trabalho em lugares que todos poderiam ver o ser praticando tal ato.
Humanos são tão INTERESSANTES. XD

MiniRê disse...

HAHAHAHAHAHA.. prazer em irritar, todo mundo tem... saber irritar bem é a ARTE de ser pentelho!