terça-feira, 13 de março de 2007

Dupla personalidade por indução do tempo

Olhou ao redor, perplexa ao perceber o quanto era idiota. Reparou nas pessoas que estavam com ela, como eram vazias, como eram apenas vultos de uma vida que não lhe pertencia mais. Teve vontade de rir deles, de chorar por si mesma, de ir embora, de acender um cigarro e olhar com ar de superioridade praquela meia dúzia de adolescentes (como se fosse muito adulta e melhor).
Teve vontade de gritar o quanto odiava aquilo, a situação, o lugar, as pessoas, o tempo, o horário, tudo! Tudo lhe parecia absolutamente errado ali! Deveria estar dormindo àquela hora, deveria estar lendo, vendo televisão, conversando sentada calmamente em um bar qualquer. Deveria estar em qualquer outro lugar, com qualquer outro grupo, qualquer um que fosse.
O deslocamento lhe parecia maior a cada segundo desperdiçado, e a certa altura só lhe passava pela cabeça a idéia de que desperdiçara os últimos anos naquilo, desperdiçara a adolescência inteira com pessoas que não lhe acrescentaram em nada, e muitas vezes tentaram lhe tirar o que tinha. Sentiu-se então mais idiota do que no início, ao perceber o quanto deveria saber, o quanto deveria ser, quanto perdeu. Oportunidades, vida, momentos, pessoas, as perdeu em razão de amizades vazias, que talvez nem merecessem ser chamadas por esse nome. Teve então certeza de que o que realmente gostaria era chorar. E sentada na grama, o último lugar onde deveria estar naquele momento, chorou. Chorou de soluçar, como criança perdida, como pessoa a beira da morte, como viúva, chorou um choro de desespero e culpa, daqueles que nada pode parar, só o final.
E ficou por um longo tempo, um tempo daqueles que só é longo pra si mesmo, chorando, rodando, caindo no chão, se sentindo lixo. Agiu como não queria, agiu como não deveria, a bailarina bêbada, a rainha dos invertebrados, tudo aquilo que ela sabia que não era. E continuou sendo, até a noite acabar.
E é assim que ela termina, como sendo o que não é. Como sendo a mais imatura deles todos, quando sabe que é mais, bem mais. Como sendo alguém que precisa daquilo, quando sabe que pode passar por cima disso tudo. Agindo como nada, quando sabe que Tudo é só um passo a frente. E é assim que eu a vejo todas as noites quando chego em casa, ao menos as ruins, é assim que eu a vejo quando chego e olho no espelho. E ela me pede pelo amor de tudo pra sair, ela me pede pra eu ser eu e deixar ela ir embora. Mas a fraqueza é tanta que continuo na mesma, dando trela a quem não devo, dando assunto a quem não merece, tendo medo e me sentindo a mais burra. Eu me exponho sim, contando o que penso, mas me exponho também sendo essa figura idiota que me tornei, me exponho quando me irrito com tudo, me exponho quando tento sair disso e tudo conspira contra, quando faço o que realmente gosto e tenho que fazer sozinha, e isso me fraqueja mais e mais. Exponho-me sendo isso, e não sei mais ser outra coisa.


E é disso que eu falo quando digo que preciso sumir.
E é o que eu espero que entendam quando digo que essa não sou eu, nunca fui.
Essa é apenas a prima burra da minha inteligência, que veio passar as férias e nunca mais foi embora.
E o que eu quero ou vou fazer agora?
Sei lá. O futuro a mim pertence, e não a Deus. E é aí que mora o meu perigo.

2 comentários:

MiniRê disse...

A Conciencia eh uma droga.. tem horas que nos atrapalha demais!

Unknown disse...

Complicado isso, menininha... Existe uma teoria que diz que a gente sempre mostra o que quer que as pessoas vejam: se vc se mostra frágil, é pq de alguma maneira vc quer q eles sintam pena de vc, seja pq vc quer sentir q eles se preocupam contigo, seja por puro comodismo mesmo... como toda teoria ligada à psicanálise (q eu odeeeeio, mas sou obrigado a concordar ÀS VEZES), ela até tem sua razão, mas tá longe de ser regra! eu sei bem como é querer se mostrar como realmente é e não conseguir, seja por fatores externos ou internos msm, é uma merda isso... vc acaba se mostrando de diferentes maneiras pra cada grupo q vc frequenta, isso é algo meio dificil de se escapar! não q isso seja falta de personalidade, mas uma necessidade de adequação! o problema é quando a pessoa se perde no meio dessas tanttas personalidades...